Como fechar a conta? Como ser uma banda de sucesso e ter a grande parte dos seus videoclipes com mais de um milhão de visualizações no youtube, sem apoio de uma grande gravadora e fazendo isso acontecer há mais de dez anos?
O Silversun Pickups é um destes casos. A banda de Los Angeles mantém-se independente desde o seu primeiro álbum de estúdio, Carnavas. Através de um indie rock que agrega tanto o rock alternativo adolescente de guitarras imediatas dos anos 90, quanta o indie rock dos anos 00, essencialmente mais noturno e sintetizado. Trata-se de uma banda que sempre procurou fazer o simples, o que não deve ser confundido com fazer pouco. É aquela máxima do futebol: não existe gol feio. Feio é não fazer gol. Desta forma, a banda desde o primeiro álbum consegue levar sua música para seriados norte-americanos, como The OC, CSI e Revenge.
Outro fato que aponta para a regularidade do grupo é a capacidade de atualizar a sua música sem fazer mudanças significativas do ponto de vista sonoro, também sem rompantes de estrelismos, sem trocas na formação. É muito sobre essa regularidade, a independência e estar sempre conectado com o presente que quisemos saber mais.
Além de Carnavas (2006), a discografia de estúdio do Silversun Pickups compreende: Swoon (2009), Neck of the Woods (2012) e Better Nature (2016). Ainda falamos um pouco de futuro e o LP5, nesta entrevista realizada ao vivo, durante o Lollapalooza Brasil.
505 Indie: Eu quero começar a entrevista perguntando porque vocês excursionam há tanto tempo com o Cage the Elephant. Como esta química acontece?
Silversun Pickups: Eu não sei, acho que é apenas sorte. Eu creio que… primeiro você precisa estar aberto a isto, não ter um ego e ser amigável. Esta é a natureza com que nós resolvemos as coisas. E então nós tivemos a sorte de nos envolver com [o Cage the Elephant]. É fantástico porque é como ter amigos de verdade. Porque sabe, eles não precisam. Você pode vê-los novamente somente daqui há dois anos, mas é como se fosse ontem. Na noite passada, nossos amigos do Jimmy Eat World entraram e não víamos eles por um bom tempo e quando aconteceu foi como um “Bang!”, sabe? Nós corremos ao encontro do Jim, que vemos uma vez por ano ou quase isto e é sempre algo do tipo: “E aí cara! Como você está?”, risos.
E eu já percebi pelas redes sociais de vocês, especialmente o twitter, que vocês são bem interessados com o que está rolando. De ir em um show apenas por ir e comentar como foi.
Sim, sim. Isto é na verdade uma das nossas coisas favoritas. Teve uma que eu não comentei recentemente, porque nós vimos a Kate Tempest, que é uma das nossas favoritas e ela disse, “sem telefones”. E e a gente vaiou, risos. Então ela foi a única que nós falamos. Nós adoramos repercutir. Ela estava mais para “aproveite o momento, aproveite o momento!”
E qual é a importância de se conectar com a música que está acontecendo hoje? Como isso afeta o trabalho do Silversun Pickups?
Eu acho que não afeta… ah, meio que… eu não sei. Eu penso que é algo interessante. Deve nos afetar de alguma forma, mas quase nos afeta como pessoas. E como pessoas nós fazemos nossa música. Nós não pensamos sobre como nossa música se encaixa no mundo ou em qual cena estamos inseridos. Nós sempre fazemos o que nós sentimos, entende? E nós escutamos tantas coisas, que é claro que vem de algum lugar, mas eu não consigo pensar em algo em particular, algo exato, do tipo “nós queremos fazer isso e aquilo”.
Entendi. Vamos falar de Circadian Rhytmn (Last Dance) então, porque creio que ela está bem colada à nostalgia. Não de uma forma ruim, apenas como um norte pra se chegar em algo novo. O som carrega contemporaneidade aberta a outras sonoridades, que algo antigo não poderia soar e não soou igual. Mas a base é nostálgica.
Sim, é verdade. Porque a primeira ideia que eu tive com esta música eu estava em uma mentalidade bem nostálgica. Eu estava quase voltando a forma como os anos sessenta soavam e então eu mudei para isto [que se transformou a música] e sim, eu penso a mesma coisa. É legal ouvir você dizer isso também.
E os melhores discos de vocês conectaram-se com vibes nostálgicas muito mais do que os mais recentes, apesar de Circadian in Better Nature. Vocês pensaram e pensam nisso quando falamos de passado. Sobre um tipo ou outro de direção?
Eu não acho que é calculado, de verdade. Eu creio que é apenas o fato que quanto mais longe você vai e quando você colocar muito em um disco e faz a turnê dele por dois anos, então muito destas coisas e o interesse que você tinha, meio que já se dissolveu em algo que você tem um lugar para colocar. Então na hora que chegamos ao próximo disco, para manter isto como algo revigorante e excitante para nós, nós temos que fazer as coisas de um novo jeito para continuar fresco para gente. Então não vamos nesta direção “Eu quero ser mais isso, eu quero ir em direção a esta vibe.” Quero dizer, normalmente nós temos uma base, ou uma ideia geral, a primeira coisa que você faz é: o que quer que tenha sido o último disco, a primeira coisa que você faz… se nós tivessemos regras sobre isso, seria vamos tentar o oposto dele. E assim é uma forma de começar. O que não quer dizer que irá acontecer assim. Você pode começar assim e, eventualmente, na forma presente tornar-se….
Sobre este tempo.
Sim, este álbum em particular começou no momento que nós começamos a escrevê-lo, [as músicas] apenas começaram a vir e é o nosso trabalho se manter a frente disto. Sentimos isso acontecer “está rolando, está rolando, tudo isso está rolando e temos que ficar a frente disso, porque não podemos nos perder.” Isso não acontece sempre. Neste aconteceu e tomara que aconteça novamente, risos.
E falando nisso, sobre o LP5 (quinto álbum). Já está rolando? Vai rolar? Já são quase três anos desde Better Nature. E vocês mantém um ritmo de um álbum a cada três anos.
É acidental.
Certo. Mas, ano que vem? Já estão pensando ou trabalhando em algo?
(Risos). Nós temos ainda tanta turnê neste ano que ainda não sabemos se faremos. Pra ser bem honesto nossas coisas estão começando a entrar em um cículo. Existem coisas ainda por aproveitar. Nós comentamos sobre isso mais cedo, agora nós fazemos parte de uma turnê, onde sentimos que Better Nature está afundando de volta no que nós chamaríamos “o outro material” do disco, sabe? Então tudo está agora meio que neste canhão. E elas não parecem mais como músicas novas. Elas fluem com todo o material. Como músicas nossas.
Certo. E falando sobre a dinâmica de um material novo. Como funciona? Vocês escrevem tudo primeiro e depois vão ao estúdio? Ou levam algumas ideias e deixam para que tudo aconteça lá?
Nós escrevemos primeiro. Nós escrevemos bastante, preparamo-nos antes de entrar e ter uma versão crua de algo, e então talhar, moldar e mudar algo. E acaba mudando muito às vezes, naturalmente. O disco eventualmente tem um glossário e um som que você tenta fazer tudo meio que se encaixar, mesmo que você queira que tudo soe diferente. Você também quer que tenha o próprio… nossos fãs, nossos discos, você pode ouvi-los na jukebox e sabe que disco é, pela forma que ele soa. Algo do tipo: “Este é nosso!”, sabe? “Este é um Marquee Moon” ou “Este é o Surfer Rosa”, pois foi gravado assim. “Love Letters” é o que nós sempre quisemos que nossos álbuns tivessem. Soando por conta própria. E uma vez que você descobre o que é que é isto, você tem que fazer todas as músicas viverem isto e também expressarem coisas diferentes.
Bem legal. E vocês são uma banda de Los Angeles. Hollywood afeta a música de vocês?
Eu não sei dizer se o cinema afeta a gente, sendo uma banda de Los Angeles. Nós somos grandes fãs de cinema. Bem, acho que não é verdade. Ser de Los Angeles seria como Paris ou Nova York, o acesso ao cinema mundial e ao cinema do passado está lá. Tem vários cinemas em ação, como se fosse uma cidade de cinemas. Mesmo que se faça filmes, também é sobre pessoas que são fãs massivos de filmes de todos os tempos e de todo o mundo. Então, acho que, mesmo mais jovem, nós somos expostos à filmes que muitas pessoas não tiveram acesso. Creio que então tenha um papel sobre como nós somos, e como pensamos sobre música, em uma maneira muito mais aberta e expressiva que teríamos se não fossemos de LA. Imagine… ou não hahahahha.
E vocês acham que a proximidade pode ajudar comercialmente. Vocês têm várias músicas em séries. Tipo The OC e etc.
Sim, sim.
Estar perto da turma do cinema ajuda em algo?
Ahhh, sim… talvez para algumas bandas. Nós não circulamos socialmente. No fim do dia é sobre apenas aonde o seu disco está e acontece de alguém ouvi-lo. Sendo você de LA ou não. Você ainda precisa passar por estas pessoas. Apenas pelo fato da gente ser vizinhos deles, não significa que irá acontecer que vamos de porta em porta e dizer “Ei Joe consegue colocá-los acima dos Vampiros, antes” HAHAHAHHA.
Haha. E vocês já venderam discos pra cacete. E nunca estiveram numa grande gravadora. Por que?
Não sei dizer. E eu nunca direi nunca. Eu apenas não consigo imaginar. Nós sempre estivemos sozinhos. Nós sempre fomos independentes. E nós sempre fizemos as coisas do nosso jeito com as pessoas que nós trabalhos. E eu não consigo imaginar o que, sabe, uma grande companhia faria pela gente e não consigo imaginar o que nós faríamos por eles. Acho que estamos bem aonde estamos.
Certo… (pausa dramática)
Tudo que eu sei é que em muitos eventos, quando nós chegamos com todas estas coisas, eles ficam bem enciumados (hahahahaha), que eles não possuem, sabe… Eles ficam tipo “Porra” hahahha. Porque eles tem que enfrentar, algo do tipo, dez pessoas e decisões, nós não precisamos, e nós não desejamos trabalhar com eles, sabe? E se algo der errado, nós só temos a nós mesmos para culpar. E estamos muito bem assim.
É bom carregar todo o peso nos próprios ombros. É preferível carregar o peso que enfrentar todo um comitê.
Claro, perfeito. Eu tenho uma última pergunta. Nós estamos vendo os EUA, Brasil e até mesmo o Reino Unido atravessando uma onda de conservadorismo. Trump nos EUA. Aqui no Brasil, nós tivemos o Temer em uma transição de impeachment inegavelmente questionável do ponto de vista democrático e forçando pautas liberais. Como vocês enxergam estas transformações políticas?
Nós ainda estamos em choque. É estranho o que está acontecendo nos EUA agora. Existe um pouco de crise e muito sendo gritado e urrado constantemente todos os dias. Parece que algo irracional está em curso. É louco porque se passaram apenas alguns meses e muito já aconteceu neste período. Você vê a parte dormente acordar. As pessoas estão putas, as pessoas estão putas e você vê isso acontecer desde o primeiro dia de mandato. Até os artistas pop que normalmente ficam completamente indiferentes, sentem que precisam dizer algo, porque tem acontecido coisas assustadoras… e coisas sendo ditas que não aconteciam desde a Segunda Guerra Mundial. E eu fico de cara de ter que trazer estas referências. No fim do dia, você quer ficar do lado certo da história. Nós vimos coisas em Los Angeles. Nós vimos coisas… nós conhecemos pessoas cujos os amigos foram deportados e isso é realmente bizarro. É bizarro, bizarro, bizarro, bizarro, bizarro pra caralho, cara.
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