Atração principal do Lollapalooza Brasil, neste domingo (26), o The Strokes chega pela terceira vez em solo brasileiro, para show que desperta um misto de paixão e curiosidade, principalmente no público do indie rock que sempre acompanhou a banda de perto e construiu uma relação between love and hate, ao longo destes quase 20 anos.
Com cinco discos lançados na carreira e mais um recente EP Future Present Past, de 2016, o quinteto tem dividido opiniões nesta década sobre sua capacidade, tanto em estúdio quanto em cima do palco. Críticas em parte fundamentadas, mas na maior parte injustas.
O The Strokes carrega a mística (e o peso) de ter salvado o rock, em um mundo que tinha perdido suas aspirações roqueiras desde o último grande gang bang entre o grunge e congeneres do alternativo.
Desta forma, meticulosamente sujinha, definiu toda uma geração de bandas, com o estrondoso sucesso Is This It (precedido pelo EP The Modern Age, que levou a turma do P2P sentar o dedo no download).
Todo mundo queria os rapazotes. Os bailinhos indies ficaram mais bem frequentados, tanto quantitativamente quanto qualitativamente. Reitero, todos queriam um pedaço deles.
Em 2003, surgiu Room On Fire, disco que definiu uma tradição que vinga até hoje: vazou e foi ouvido antes de ser lançado. O vigor das faixas continuava. Mas os Strokes começavam a dar sinais de cansaço, sobre todo este holofote que foi colocado em cima deles. A banda entregava uma aura de tédio em cada aparição na mídia. “A voz [de Fabrizio Moretti na entrevista] era outra. Arrastada, cansada, lenta. O cara parecia ter 45 anos, não 23. Parecia que estava dando a entrevista sobre o nono álbum dos Strokes”, escreveu Lúcio Ribeiro na Folha de São Paulo da época.
Independentemente de como os caras se sentiam, o disco foi outro petardo e o prosseguimento exato de Is This It. 11 faixas de sucesso, que não tem cabimento citar o ponto alto do disco, tal como foi em 2001. 100% de aproveitamento. Claro, também aprovado por público e crítica. Foi novamente o disco do ano para MUITA gente.
Mas, o momento não poderia continuar por mais tempo. E 3 anos se passaram até o próximo álbum.
First Impressions of Earth aconteceu em um momento que o indie já ganhava rostos novos, de uma tradição inglesa de rock mais bem aparado com Arctic Monkeys, pelo rebolado da escola Talking Heads, porém único e atual na mão de Franz Ferdinand, quando não desbundava de vez para o electro com LCD Soundsystem e Hot Chip, e que iria fritar de montão com a new rave de Klaxons no ano vindouro.
The Strokes não valia mais nada. Em uma resenha, publicada à época (não vou dizer o nome do jornalista), ele chamou “You Only Live Once” de “a mediana faixa de abertura” e chamou o disco de datado, por ter vazado seis meses antes do lançamento. Lógica que, onze anos depois, não faz o menor sentido. “You Only Live Once” se tornou a principal música de muita gente e lema de vida para uma geração de fãs tardios de The Strokes. Aqueles que nasceram na década de 90.
Foi neste álbum que a banda mostrou algum distanciamento dos discos antecessores, a tal da maturidade. O quarteto inicial de faixas é espetacular: “You Only Live Once”, “Juicebox”, “Heart in a Cage” e “Razorblade” mostrou como os novaiorquinos foram beber de outras fontes, ganhando reforço melódico e timbragem mais diversificada. A segunda metade do álbum não é tão inspirada, com uma ou outra exceção, caso de “Electricityscape”.
E o tempo passou até 2011.
The Strokes chegou ao massacrado Angles. Disco que este escriba adora e considera uma das maiores patinadas da crítica com os caras. Afirmei na época (procura no site) e continuo afirmando até hoje, 6 anos depois: foi pura preguiça. O The Strokes já era conhecido demais pra continuar sendo bom, o indie rock já tinha se tornado um pejorativo na cabeça dos entendidos. Mas foi em Angles aonde Julian Casablancas arranhou as gravações com uma atmosfera kitsch e sintetizadores sinistros que, depois, foi muito explorada de maneira porca por artistas indie do indie, aqueles que a moçadinha indie do indie gosta de cultuar.
Vai entender.
A parte mais conservadora do álbum rendeu verdadeiros hinos de um rock maduro e bem produzido, caso de “Taken For a Fool” e “Under Cover of Darkness”. As guitarras de Nick e Albert estavam mais limpas e confiantes, não era mais necessário sujar o riff. O baixo de Nikolai ganhou protagonismo dentro desta atmosfera.
Se Julian peca em alguma coisa, peca por se entendiar. Como todo menino rico que faz um sucesso estrondoso (sabe como é). Fez então um disco retalhado pra se livrar da gravadora RCA, chamado Comedown Machine. Pura birra, dentro de uma discografia irretocável, porque ele queria e ele podia ir pra Cult Records, sua gravadora. Ainda que, ironicamente, uma das melhores músicas da vida do Strokes se encontre neste disco. Eu falo de “Tap Out“, talvez o auge… aonde a onda oitentista sintetizada quebrou e voltou para o mar de garage rock.
Depois, já na Cult, veio o derradeiro EP, puro pancadão de neon em faixas como “Drag Queen”.
Irei criticá-los, se não tocar “Drag Queen” no Lollapalooza. Climão da porra. Aquele final é quase o Gato de Alice transando freneticamente com o Batatinha em cima do toca-discos, que rola a trilha sonora de Tron – Uma Odisseia Eletrônica.
É dentro deste contexto experimental e provocativo que esperemos os caras em LP6.
Em 2016, os novaiorquinos fizeram um grande show no Governors Ball, calando alguns detratores que diziam que Julian não era mais capaz de cantar adequadamente e a banda tinha perdido a vontade de dividir um palco.
Showzaço, veja por sua conta. Ao passo que a banda diversifica seus horizontes musicais, ainda mantém a competência e energia necessárias para entregar os “velhos” clássicos.
Qualquer que seja o setlist, música boa não falta. Só evitar a segunda metade do First Impressions, e boa parte do Comedown Machine, que de resto é sucesso garantido e alegria geral desta tão maltratada nação.
Cuida desta voz e não me apareça de ressaca colombiana, Julian.
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