Com 11 anos de estrada, os bauruenses da Legalê lançaram esse mês o primeiro álbum da banda, intitulado “Esquina do Mundo”. Após um retiro de três semanas em um sítio, totalmente isolados do mundo, as composições começaram a tomar forma. “Saímos de lá com uma lista de umas 50 músicas começadas. Selecionamos 11 que davam um repertório legal, e entramos pra gravar em setembro de 2014”, comenta o bateirista Rodolpho Carazzatto.
Completam a formação da banda o vocalista Vinícius Costa, Felipe “Punk” Atta e Lucas “Carneiro” Virmond nas guitarras, e Lucas Penna no baixo.
Gravado, mixado e masterizado por Fernando Sanches no Estúdio El Rocha em São Paulo, que já registrou Criolo, CPM 22, Pitty, Racionais Mc’s e muitos nomes da nova cena. Segundo os próprios integrantes, o estúdio é um “parque de diversões pra qualquer músico. Só de tocar naquela sala gigante que parece uma nave do Stanley Kubrick já vale a experiência.”
De origem reggaeira, com o novo trabalho a banda quer mostrar que amadureceu desde a época em que eram apenas um banda de amigos e abrem espaço para o rock, ska, surf music, criando um som com pegada.
No papo a seguir, o baterista Rodolpho fala um pouco sobre as origens e influências da banda, além de dividir experiências do processo de composição e gravação do álbum e da tour “Esquina do Mundo”.
Vamos começar falando sobre o início da banda. Vocês são amigos desde moleques. Como foi o começo? A partir de que momento perceberam a necessidade de profissionalizar a “banda de amigos”?
Tudo começou por diversão. Eu, o Penna e o Felipe começamos a tocar nossos instrumentos na mesma época (por volta de 2000) e quando ganhei minha primeira bateria começamos a atormentar os vizinhos tentando tocar alguns sons que até então passávamos as nossas tardes ociosas ouvindo.
Num destes ensaios apareceu o Vinícius. A gente deu o mic na mão dele e começou a sair umas coisas legais de uma mistureira de influências que a gente tinha em comum (Planet Hemp, Charlie Brown, Planta e Raiz, Racionais…) e por um acaso do destino a mãe do Felipe iria viajar em 2 semanas e a casa ia ficar livre pra uma festa homérica. Entre inundações na cozinha e a polícia de plantão na porta a festa rolou e o show agradou à galera. Depois desse, viramos a banda oficial das festinhas da escola.
A necessidade de profissionalizar uma diversão, acho que vem da vontade de que essa diversão nunca acabe. A primeira vez que passou na nossa cabeça em levar isso como uma carreira profissional foi logo no começo da banda, quando participamos de um festival de música autoral de uma universidade de Bauru, e acabamos (para nossa surpresa) conquistando o primeiro lugar, sendo os únicos que ainda estavam no colegial, num festival que só tinha bandas formadas por estudantes de música.
Mas da vontade de se tornar profissional até a conquista deste patamar é um longo caminho, ainda mais sendo uma banda independente, sem o know-how de uma gravadora por trás. Você tem que descobrir sozinho como fazer tudo. E não tem escola pra isso.
E como foi a experiência de mudar a banda inteira pra São Paulo? Perceberam que a partir daí a banda começou realmente a engrenar?
Na verdade mudar pra São Paulo quase acabou com a banda no começo. (Risos). Por azar chegamos em um momento que parece ter sido dos piores para se tentar ganhar a vida com uma banda de rock. E com o alto custo de vida em São Paulo, ficamos divididos entre estudos e trabalho durante o dia, ensaios que iam da meia noite as 4am durante a semana, e shows nos fins de semana em casas alternativas da capital, interior e litoral paulista. E no meio de tanta correria as composições próprias acabaram ficando estagnadas. E para piorar em 2008 o segundo guitarrista da banda (Luíz Fernando) se mudou para a Nova Zelândia.
Apesar de parecer ser um momento em que a banda iria se acabar, não desistimos e acabou sendo muito importante para a transição do som mais praiano e adolescente do começo da banda para o som mais urbano, potente e maduro de hoje em dia.
Em 2010, já com o novo guitarrista Lucas Virmond, voltamos com tudo para os shows, e começamos a cogitar a gravação de um material de qualidade pela primeira vez. Conhecemos o engenheiro de gravação Zeca Leme, do BTG Stúdio, e gravamos com ele nosso primeiro EP, lançado no começo de 2011. A música de trabalho “Inês” tocou em diversas rádios do interior paulista, chegando a ficar entre as mais pedidas de algumas das mais expressivas rádios do centro paulista. E com esse trabalho passamos a tocar nas principais casas de show da cidade, e a ser convidados para abrir shows de grandes nomes, como Criolo e Charlie Brown Jr.
Em 2013, o single “Varrido da festa” também foi muito tocado nas rádios do interior e nos abriu portas, como ser convidados para tocar no festival Universo Paralello na Bahia, ao lado de nomes como Mundo Livre S.A., Eddie, Buguinha Dub, Vivendo do Ócio, entre outros.
Acho que a oportunidade de tocar no mesmo evento que pessoas que sempre nos influenciaram, e de quebra agradar o público é uma puta injeção de ânimo pro trabalho.
Falando um pouco sobre as influências da banda, quais nomes não podem faltar? Alguma banda que não seja tão óbvia no som de vocês, mas que mesmo assim tenha influenciado?
Nomes que não poderiam faltar de influência pra qualquer banda de rock: Led Zeppelin, Beatles, Rolling Stones, The Doors, Hendrix, Black Sabbath, Pink Floyd, Mutantes e por aí vai.
Mas nossas influências são absurdamente abrangentes.
Alguns nomes que vêm na cabeça: Titãs, Paralamas do Sucesso, Bob Marley, The Aggrolites, Toots And The Maytals, The Specials, Easy Star All-Stars, Nirvana, Queens of The Stone Age, Rage Against The Machine, Planet Hemp, Chico Science & Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Asian Dub Foundation, Beastie Boys, Red Hot Chili Peppers.
O álbum é inteiro autoral. Como funciona o processo de criação das músicas?
Pra não entrar em maiores detalhes, nosso processo se resume a churrasco e cerveja. (Risos)
Falando sério, não temos uma fórmula específica, um ritual necessário pra compor. A inspiração vem nos momentos mais aleatórios possíveis, e o importante é você registrar de alguma forma essa inspiração inicial, que acaba sendo a essência da música, para depois lapidá-la.
Com a gente é sempre assim. Alguém tem uma idéia. Normalmente uma base e uma melodia, as vezes já com um pedaço de letra. Se todo mundo gosta e acha que combina com o som da banda, a gente começa a trabalhar a letra, fazer arranjos, tocar nos ensaios, até que ela fique pronta pra entrar em um show.
No caso desse disco, depois de voltar do festival Universo Paralello, fizemos uma imersão de 3 semanas em um sítio nos arredores de Bauru (sem sinal de celular, internet, televisão, ou qualquer distração) onde começamos a compor as músicas. Saímos de lá com uma lista de umas 50 músicas começadas. Selecionamos 11 que davam um repertório legal, e entramos pra gravar em setembro de 2014.
Como enxergam a cena independente no Brasil? Alguma banda ainda pouco conhecida do público que não saia da playlist?
A cena independente está mais forte do que nunca. Com esse novo cenário onde nem as grandes gravadoras parecem saber como ganhar dinheiro com música no Brasil, acho que as bandas independentes enxergaram a força que podem ter através da união.
Nossa playlist é vasta ein… Gostaríamos de lembrar de todos aqui, mas vai algumas:
Bandas brasucas que sempre estiveram presente na nossa playlist:
Alarde, Detetives, Família Gangster
Novos parceiros que estão nos acompanhando nas correrias:
NDK, Soldado Marimbondo, Johnny Pestana
E algumas das sonzeiras que nossa nave mãe (Bauru) já criou:
Mercado de Peixe, Norman bates e Os Corações Alados, Stooge e Os Cachorros, Samanah, Elephant King…
O álbum foi gravado, mixado e masterizado por Fernando Sanches, ex-CPM 22, no Estúdio El Rocha em São Paulo, estúdio que já registrou Criolo, Pitty, Racionais Mc’s e muitos nomes da nova cena, como foi a experiência e quanto tempo durou todo processo de gravação?
O El Rocha é um parque de diversões pra qualquer músico. Só de tocar naquela sala gigante que parece uma nave do Stanley Kubrick já vale a experiência. Fora todos os equipamentos, e relíquias que eles têm.
O Fernando Sanches também é uma pessoa incrível de se trabalhar. Tem tesão no que faz, gosta de experimentar, explorar timbres como nós, e ainda tem uma paciência de jó. Então, apesar do cansaço de se passar 12 horas por dia, por vários dias seguidos no estúdio, o processo foi pura diversão.
O processo de gravação foi feito em várias etapas. Demos o start nas gravações em setembro de 2014.
Primeiro gravamos todas as baterias, baixos, guitarras e vozes principais no El Rocha. Depois convidamos nosso amigo Fernando TRZ para gravar teclado em 3 faixas. Gravamos mais alguns teclados, sintetizadores, e produzimos alguns beats eletrônicos e efeitos em casa, e voltamos para o El Rocha para gravar backing vocal em todas as faixas e percussão em 3 faixas com o grande percussionista Gabriel Toledo.
Depois mixamos o disco com o Fernando Sanches e ele mesmo fez a master.
Como somos 100% independentes as coisas sempre demoram um pouco mais do que o esperado. Mas o resultado final superou as expectativas.
Tive a oportunidade de assistir ao show no SESC Bauru e percebi que a banda cresce muito no palco. Como está sendo a turnê? E como a experiência de tocar em várias cidades reflete em vocês como artistas?
Mesmo adorando entrar no estúdio pra gravar, o palco ainda é o lugar onde nos sentimos mais a vontade. Acho que a grande diferença está na troca de energia. Tocar pra outras pessoas proporciona um lance sinérgico que nunca se alcança tocando pra microfones, cabos, mesas e um computador. São dois lados (banda e público) com um mesmo objetivo que é tirar o melhor daquele momento, seja fazendo uma apresentação impecável, ou tendo uma noite fodástica, todo mundo quer se divertir.
A turnê começou em Bauru, no Sesc, onde tivemos uma recepção bem calorosa dos nossos amigos, familiares e fãs, com direito a recorde de venda de cerveja (Que orgulho!). Na mesma semana também tocamos em Marília e Araçatuba, e já temos confirmados em São Paulo, Taubaté, São Carlos, Campinas e por aí vai.
Tocar som autoral em várias cidades é um puta desafio quando você não está na grande mídia. Muitas vezes você vai estar tocando para um público que não conhece nenhuma das suas músicas, e vai ter que dar seu sangue pra fazer com que essas pessoas se envolvam assim mesmo. Mas isso proporciona um aprendizado único, que só se tem na estrada. Acho que o reflexo disso em nós como artistas é de construção de humildade e resiliência.
E depois da turnê? Quais os planos da banda? O que vem por aí?
O plano é não parar nunca. Mesmo durante a turnê vai ter muita coisa acontecendo.
Pra quem acompanha a gente nas redes sociais vai ter muito conteúdo novo em 2015. E ano que vem, ainda mais. Clipes, vídeos, transmissões ao vivo, e daqui a pouco a gente já tá pensando nos próximos singles, próximo disco, quem sabe um DVD ao vivo.
E é claro, tocar nesse mundão todo aí.
Temos muita vontade de fazer uma tour fora do país, já estamos em contato com algumas pessoas, mas não vamos falar disso ainda… Tem muito chão pra rodar nesse Brasil!
Confira abaixo o álbum completo e as datas dos próximos shows:
08/08 Taubaté – Bangue Estúdio
16/08 São Carlos – Gig
28/08 São Paulo – Armazém Cultural
03/09 São Paulo – Na Mata Café
04/09 Campinas – Bar do Zé
05/09 Bauru – Jack Music Pub
You might also like
More from Bandas Indies BR
Cachorro Grande lança versão ao vivo e videoclipe de “Sinceramente”, com participação de Samuel Rosa
A banda Cachorro Grande, uma das mais icônicas do rock nacional, na estrada há 18 anos, anuncia o lançamento da …
Destaque de 2017, BEL celebra a identidade lésbica no clipe de “Esse Calor”
Em 2017, BEL lançou o seu disco de estreia Quando Brinca, considerado um dos melhores álbuns brasucas por este site. E, dentro deste …
Cordel de Fogo Encantado retorna com disco Viagem ao Coração do Sol e novo single após 8 anos
Cordel de Fogo Encantado prepara lançamento do seu quarto disco viagem ao coração do sol e lança single "Liberdade, A …