AVISO: SPOILERS ACONTECERÃO.
A categoria de Melhor Atriz, talvez seja a mais concorrida deste ano, com três atrizes em condições muito próximas de levar a estatueta dourada. Isabelle Huppert (Elle), Natalie Portman (Jackie) e Emma Stone (La La Land) são os nomes mais fortes.
Emma Stone tem leve favoritismo. Em La La Land, a atriz divide o protagonismo com Ryan Gosling, ainda que os dois façam bem os seus trabalhos, é da primeira a maior dificuldade e o maior destaque no papel. Emma carrega um jeito simples e cândido de interpretar uma personagem sonhadora e ainda sem muita experiência, Mia. Enquanto Ryan é um personagem de convicções sólidas e sem grandes transformações, é dela o papel de Fênix, o papel de lagarta que vira borboleta, o papel de crescer e aparecer, mas não sem antes sofrer e sorrir diante do percurso, que são as dificuldades da vida. Um personagem facilmente identificável com qualquer um de nós, seres comuns. Ainda que o sonho de Mia tenha o glamour de Hollywood. As cenas de audição são outro ponto forte de convencimento, e a certeza que estamos diante de uma grande atriz multifacetada. Por fim, em sua defesa, cabe lembrar que o filme ainda rende um olhar de Mia, que ficará eternizado na história do cinema.
As duas grandes adversárias, Natalie Portman e Isabelle Huppert fizeram papéis centrados em suas personagens, então elas possuem a vantagem de ter um enredo orbitando exclusivamente em torno delas, permitindo que a carga pelo sucesso da película seja reflexo direto da capacidade dramática de ambas. E, como veremos abaixo com mais detalhes, ambas também fizeram por merecer. Enquanto a primeira faz o papel de Jackie O, em todo seu esplendor, força e trejeitos, a segunda faz o papel de uma mulher madura e bem-sucedida que lida de forma pouco ortodoxa com o crime na qual foi vítima. Chamada difícil esta.
Ainda temos Ruth Negga em Loving que faz bem um papel de dona de casa forte, em estado e época de leis racistas nos EUA, versando especificamente sobre a questão do casamento inter-racial. E, finalmente, a hors-concours do Oscar, Meryl Streep, fazendo a divertidíssima Florence Foster Jenkins.
Entre as esnobadas da academia, podemos considerar Amy Adams, tanto por Arrival, quanto por Nocturnal Animals. Emily Blunt fazendo uma personagem profundamente deprimida e que se entregou à bebida em The Girl on the Train, Taraji P. Henson como uma brilhante matemática que teve papel fundamental na corrida espacial americana, em Hidden Figures e Annette Bening por 20th Century Women.
Outras duas atrizes poderiam esquentar MUITO mais esta briga, se não fosse por uma decisão da distribuidora/estúdio.
Viola Davis em decisão conjunta com a Paramount preferiu fazer campanha para concorrer em Melhor Atriz Coadjuvante, mesmo que seja a co-protagonista de Fences. Compreensível a decisão de Viola, enquanto na categoria de Coadjuvante será barbada ela ganhar o seu primeiro Oscar, na categoria de Melhor Atriz teria concorrência pesada. Mesmo assim, se Viola estivesse aqui, eu daria este Oscar pra ela. Melhor interpretação do ano, seja homem ou mulher, coadjuvante ou principal.
A outra atriz que ficou de fora é a nossa Sônia Braga por Aquarius. Outro filme rodado em torno de um personagem feminino forte e magnético. A distribuidora do filme preferiu não fazer campanha para o Oscar, por isso Sônia sequer foi considerada. Muitos críticos norte-americanos lembraram de Sônia na hora de comentar quem foram as mulheres que deveriam estar entre as cinco e foram, neste caso com aspas, “esquecidas”.
LEIA MAIS: Análise das categorias de Melhor Filme e Melhor Ator
MELHOR ATRIZ
Isabelle Huppert, Elle (Terceira Opção)
Elle é a falta sentida entre os indicados a Melhor Filme Estrangeiro. A película sequer chegou na pré-lista dos 9 melhores. O filme é todo construído para Isabelle Huppert. A devoção em que o diretor holandês Paul Verhoeven faz as lentes orbitarem em torno da atriz, lembra a dinâmica entre Kleber Mendonça Filho com Sônia Braga em Aquarius. Elle conta a história de Michèle, uma empresária bem-sucedida do ramo de Jogos Eletrônicos. Logo no começo da trama, sua personagem sofre uma violência dentro de sua própria casa, invadida por um mascarado. A determinação da Michèle em encontrar o seu agressor irá conduzir parte da trama, a outra parte será conduzida por um jogo que varia entre sutileza, desejo e rancor. Elle é um filme de respostas improváveis, e, por isso, autêntico mesmo com alguns extremos em que resolve seu enredo.
Ruth Negga, Loving
Neste filme a atriz etíope Ruth Negga, interpreta Mildred Loving, que junto com Richard Loving (Joel Edgerton) são expulsos da Virginia após casarem-se em DC. As leis anti-miscigenação da época, no estado, não permitiam casamento inter-racial. O casal passa dias na cadeia e é obrigado a se declarar culpado para ganhar a clemência do juiz, que como sentença mais branda apenas expulsa-os de seu estado natal. Anos se passam até que o casal ganhe uma chance na justiça de reverter esta decisão, que vai parar na suprema corte federal dos EUA, que decidirá pela inconstitucionalidade de mais uma lei racista, aplicada em alguns estados. Baseado em fatos reais, o caso Loving versus o Estado da Virgínia é um marco na luta pelos direitos civis dos norte-americanos.
CURIOSIDADE: Ruth Negga é a primeira atriz negra nascida na África a ser indicada como principal.
Natalie Portman, Jackie (Segunda opção)
Portman pode faturar o seu segundo Oscar, interpretando Jackie Kennedy, na biopic Jackie. Todos os trejeitos da ex-primeira dama e uma das mulheres mais proeminentes da história moderna dos EUA, estão retratados nos filme. O sotaque de Long Island com champagne, a resiliência, o choque e a força de Jackie no dia do assassinato de seu marido e nos eventos posteriores. A imposição do desejo de marchar no funeral do marido, a fatídica cena do tiro. Tudo na execução do personagem é irretocável, ainda que possua traços mais finos, é visível também como a atriz ficou parecida com a personagem da vida real. O filme ainda que atue em um tema já desgastado de biografias políticas, é capaz de surpreender e magnetizar, com a atuação enigmática de Portman.
Emma Stone, La La Land (FAVORITA)
Em um filme tão competente e redondo é natural pressupor que os atores são parte da equação. Porém é importante ressaltar, Emma é mais que Gosling neste filme. Enquanto Gosling vence pela razão e pelo silêncio, Emma vence pela emoção e pelo olhar, muitas vezes de menina ingênua, noutras de mulher determinada. As suas audições frustradas, o seu canto imperfeito, o olhar apaixonado, a desesperança de quem tanto luta e nada alcança. A mágoa e o desencanto, e olhar que explica e suspira, o que é um amor para toda a vida, mesmo que se torne parte do passado. Somos todos Mia.
Meryl Streep, Florence Foster Jenkins
A vigésima indicação de Meryl Streep ao Academy Awards não é desmerecida. De forma leve e bem-humorada, a veterana atriz faz a ricaça Florence Foster Jenkins, que não tem noção da sua inabilidade com o canto, ainda mais o canto da ópera, de alta exigência técnica. Rodeada do que inicialmente parece ser um grupo de puxa-sacos interessados no dinheiro de Florence, a jornada do filme concentra-se em aprofundar estas relações com outros olhares bem mais ternos e sinceros, do que a trama inicialmente pressupõe ser.
CURIOSIDADE: Baseado em fatos reais, o único disco lançado por Florence Foster Jenkins, é um dos favoritos da vida de David Bowie.
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