Atração do próximo Lollapalooza Brasil, o duo canadense Tegan and Sara virá pela primeira vez à América do Sul em março.
Em turnê com o seu último disco de estúdio, Love You to Death, as irmãs se apresentam no sábado, dia 25, depois seguem para dois shows na Argentina (28/03 e 01/04) e encerram no Chile (02/04) sua passagem pelo cone sul.
Conversamos, por telefone, com Sara Quin e perguntamos sobre como é trabalhar com a irmã, detalhes do último álbum, processo de composição, o que elas acham sobre o momento político atual e como estão as expectativas para o show no Brasil. Confira!
Em 2015 vocês completaram 20 anos de carreira. Como é trilhar este caminho com sua irmã?
Na verdade, é o único relacionamento profissional que eu já tive. Acho que deu muito certo e trouxe bons resultados. Nós trabalhamos muito bem juntas, e temos algumas diferenças. Então, é legal ter alguém que é confiante e focada, ela é ótima compositora e competente no palco. Algumas vezes, ela assume a liderança e pensando na nossa carreira… eu não sei se conseguiria fazer isso sozinha. E. claro que eu trago algumas coisas para nossa relação também. Enfim, eu acho que é uma relação de muito sucesso.
No último álbum “Love You To Death” (2016), vocês fizeram um vídeo para cada faixa do disco. Qual foi a ideia e o objetivo de vocês?
Nós gostamos da ideia de ter vários colaboradores criando conteúdo para o álbum. Nós não demos muitas informações para os diretores, em alguns casos eles nem eram diretores de vídeo, eram artistas de outras mídias visuais. Foi um jeito divertido de nós explorarmos outras dimensões da nossa música. Nós, como banda, sabemos que a industria está mudando e os clipes não têm uma audiência necessariamente. Os vídeos não têm o alcance que tinham no passado, não há garantia que irão passar na TV e as pessoas vão assistir. Eles, basicamente, vivem na internet e nas mídias sociais, então nós nos aproveitamos do orçamento para fazer alguns singles e dividimos com [clipes para] todas as músicas. Foi um processo criativo muito divertido e esperamos que tenha trazido uma nova experiência para os fãs.
“100x” é uma música que fala sobre a relação de vocês, como irmãs. Porém, ela soa quase como uma canção de término de relacionamento. Como ela se enquadra dentro da relação de vocês?
Às vezes quando se está falando sobre música e inspiração, ou as histórias, pode ser importante simplificar porque há muitos elementos que influenciam a canção.
Eu acho que, para mim, escolhi focar em um período do tempo, do meu relacionamento com a Tegan, onde eu estava tendo um tremendo problema para lidar com algumas coisas, não só com a Tegan, mas também com a indústria e nossas carreiras. Nós morávamos em Vancouver e eu não gostava muito de lá. Eu estava lutando para entender o que eu queria da minha vida. Tinha 22 anos e eu nunca tinha ficado sozinha antes, sempre tive a Tegan ao meu lado e agora nós tínhamos uma carreira juntas. Acho que foi meio que uma crise. E, de certa forma, é uma canção de breakup (término). Eu meio que rompi com a Tegan, me mudei para Montreal que fica à 3 mil quilômetros de distância, terminei com minha namorada e não avisei ninguém. Eu apenas me mudei. E, estava tipo: “Será que eu vou conseguir, será que vou sobreviver? Será que vou descobrir o que eu quero da vida e quem eu sou?” Então a canção é sobre nós duas, mas principalmente sobre mim, precisando se afastar e conseguir essa autonomia e independência.
A música de vocês sempre foi pra cima, feita para as pessoas dançarem e cantarem. E sempre houve uma preocupação com bons temas que tivessem mensagem relevante. Como vocês veem esta relação e como se inspira para compor?
De certa forma é encontrar um equilíbrio entre a mensagem e a emoção e também a música, e não existe um jeito fácil de fazer isso. Acho realmente desafiador fazer uma música que seja feliz, esse não é realmente meu objetivo musicalmente .
Eu acho muito difícil, mas provavelmente uma tendência de fazer músicas assim é resultado de fazermos tantos shows, você sabe como vai ser quando tocar aquela música, então no estúdio eu fico pensando como isso vai soar ao vivo, como o público vai reagir. Tem muita coisa diferente que nós pensamos quando estamos compondo e vendo como a música vai ser.
Isso me lembra que vocês estão na estrada há bastante tempo. Como é para vocês estar em turnê e nos palcos? E como é comparado a estar no estúdio, você têm alguma preferência?
Olha, eu gosto muito dos dois. Eu realmente gosto de fazer turnês e é mais que apenas se apresentar. Eu passei 20 anos incríveis na estrada, viajando e conhecendo pessoas em uma experiencia espetacular. Reconheço agora que estou na faixa dos 30 anos, que eu tive que sacrificar algumas coisas não tendo uma vida tradicional, perdi muitas coisas que aconteciam em casa que eram muito importantes. E, de certa forma, parece um pouco de egoísmo, porque tem muitas pessoas que você não pode estar perto e apoiar, é incomum, mas é algo que você se torna viciado (em estar na estrada). Porém, eu também gosto de estar em casa e sendo criativa, acho que é uma surpresa para muitas pessoas quando eu digo isso. Especificamente para mim, talvez mais do que pra Tegan, eu gosto muito de passar um tempo sozinha. Quando acaba a turnê, gosto de tirar uma semana para ficar sozinha. Eu realmente amo ir para o estúdio e compor porque me permite tempo para ficar sozinha.
Como vocês vêem este momento de uma guinada conservadora à direita acontecendo em diversos países do mundo, com o Trump nos Estados Unidos, o Brexit… e aqui no Brasil, que além do momento de instabilidade política, vemos um crescimento da lógica conservadora?
Nós estamos experimentando uma grande preocupação com o que está acontecendo não só nos Estados Unidos, como você disse, parece haver uma onda conservadora em todo mundo. E uma espécie de populismo. Eu não sei… É quase como… se as pessoas tivessem uma tendência a se fechar e se afastar. Não sei se é resultado de que as coisas eram mais de esquerda por um tempo, ou medo do terrorismo, eu não acho que tenha apenas um motivo. E é uma grande preocupação para nós. Você sabe, nós passamos muito tempo viajando o mundo e por ser canadenses, estando numa banda, sermos brancas, nós somos recebidas em muitos lugares. Quando penso em pessoas sendo limitadas, não podendo viajar, não recebendo as mesmas oportunidades, segurança e dignidade que eu recebo. Isso me deixa muito brava. Eu espero que as coisas não mudem tão traumaticamente, mas espero que nós, como mundo, consigamos um equilíbrio entre as visões de direita e esquerda. É muito estressante e parece uma crise.
É a primeira vez que vocês se apresentam no Brasil e na América do sul, certo? O que vocês mais têm vontade de ver aqui?
Sim! E eu não estou falando por falar, nós estamos extremamente empolgadas! Estamos tentando ir para a América do Sul por, pelo menos, 10 anos, e nós ouvimos que os fãs aí são incríveis, e nós vemos pelas redes sociais e nossos fãs online, que eles estão muito empolgados para ir aos shows. E isso nos dá muita inspiração e estamos muito empolgadas para tocar finalmente para eles.
Vamos aproveitar a oportunidade e encontrar um tempo na nossa agenda, para estar perto do mar, ser turistas e aproveitar o quanto pudermos esse período aí. Eu não posso esperar! E, na verdade, Tegan está namorando com uma brasileira, então teremos nossa própria e legítima guia turística. Estou muito empolgada!
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