Por Bruno Bujes, com colaboração de Amanda Marques e Flavio Testa
Lucas Silveira prepara-se para lançar seu segundo álbum de estúdio, The Life and Death of Beeshop em seu projeto paralelo Beeshop. O disco será lançado em junho pelo selo paulista Hearts Bleed Blue (HBB) e sucede The Rise and Fall of Beeshop, lançado em 2010 com letras totalmente em inglês, onde ele explorou influências de Queen, Beatles e Dashboard Confessional.
A ideia neste segundo disco não é de continuidade, e sim exploração de outras sonoridades que também fazem parte da personalidade e carreira musical do artista. De espectro mais amplo, o álbum tem tônica mais próxima do rock alternativo sujo norte-americano dos anos 90.
Conversamos Lucas sobre a sua nova empreitada, embasamento conceitual do álbum e algumas influências. Claro que a entrevista não se limita exclusivamente ao projeto. A versatilidade artística de Lucas também é explorada, onde as alcunhas são muitas: Beeshop, Visconde e SIRsir; porém o reconhecimento veio como principal compositor, vocalista e multi-instrumentista da banda Fresno. Nascido em Fortaleza, mas criado em Porto Alegre, Lucas sempre mantém sua vida profissional em movimento, e em 2016 não será diferente. Premiado 5 vezes individualmente pelo VMB, premiação realizada pela MTV Brasil, o músico mal terminou esse trabalho e já tem planos um próximo da Beeshop, enquanto executa em estúdio o que será o próximo álbum da Fresno.
Por fim, um pouco sobre como o líder da Fresno enxerga o estado atual do emo e se o momento delicado que o país atravessa pode influenciá-lo, de alguma forma, artisticamente.
Poderia comentar um pouco mais sobre as duas abordagens sonoras de The Life and Death of Beeshop?
Eu estava com a ideia de ‘Life and Death’ há muito tempo, e resolvi costurar o disco dessa maneira em todos seus aspectos. Por isso separei o disco em dois lados com sonoridades e temáticas diferentes, um mais ‘vida’ e outro mais ‘morte’ mesmo. Mas nada no sentido real da palavra e sim num aspecto mais estético das coisas. Eu, inclusive, termino o álbum com uma faixa bem pop que fala sobre vida além da Terra, numa analogia meio livre de vida eterna, predestinação e causalidade. Para atingir essa dualidade, eu trouxe dois caras diferentes para mixar o disco, e isso coloriu o disco de uma forma que esses dois lados ficam ainda mais claros.
Você tem divulgado nas redes sociais, por algumas vezes, bandas que você tem ouvido com mais frequência como Swans, Mogwai, Explosions in the Sky, essa sonoridade mais densa e menos palatável dentro de uma perspectiva pop vai ter presença no “the life and death”?
Esse post-rock instrumental é algo que eu levo comigo desde a faculdade, quando montei com amigos um quarteto chamado “dezembro” para justamente explorar essas possibilidades. No entanto, na época eu nem tinha pedal algum, usava uma guitarra que não afinava direito e mal sabia pra que servia um reverb, o que não me impedia de tentar emular aquelas paisagens sonoras do jeito que dava. Acho que isso é algo que, em diferentes escalas, eu apliquei em tudo que eu produzi nesses últimos 10 anos… essa coisa de ter um cuidado especial com acordes, as relações entre diferentes inflexões de acordes, experimentar compô-los usando dois ao invés de um instrumento, além de trazer efeitos para o papel principal em um arranjo. No álbum Infinito, da Fresno, tem uma faixa que é bem nessa pegada, uma quase-vinheta instrumental chamada Sutjeska. No próximo disco que estamos fazendo, acho que isso vai vir ainda com mais força. E eu acho que isso é um tipo de som que se comunica com qualquer pessoa. Elas apenas não sabem que existe esse tipo de banda, de música. Eu procuro divulgar.
O sucesso que eu tive na minha vida foi justamente por traduzir essas experiências de modo que as pessoas percebam que não estão sozinhas.
Seguindo a linha do primeiro trabalho como Beeshop, onde todas as músicas se baseiam em histórias suas. Agora a temática muda, mas o emocional baseado no real segue?
Eu nunca escrevi nada 100% desvencilhado de uma experiência própria. Talvez isso seja impossível de fazer. É como fazer jornalismo com pleno distanciamento e imparcialidade: impossível e inclusive desnecessário. Nossa vida sempre vai se emprestar um pouco pra tudo que a gente faz. E eu acredito, inclusive, que o sucesso que eu tive na minha vida foi justamente por traduzir essas experiências de modo que as pessoas percebam que não estão sozinhas, que aquelas músicas foram feitas por alguém que se sente ou sentiu exatamente como elas estavam se sentindo. Isso gera identificação, empatia e forja uma ligação profunda com a música.
Pretende dar uma atenção maior ao Beeshop e quem sabe sair em turnê?
Sair em turnê eu acho bem improvável, mas certamente devo encaixar alguns shows que eu achar interessante fazer. Esse ano tem muita coisa saindo, e eu vejo o Beeshop como um projeto muito mais de estúdio que de palco, embora eu tenha adorado sempre fazer shows com ele. Mas não é uma prioridade no momento. Pra você ter ideia, já tenho outro disco em mente praticamente pronto pra gravar e esse atual nem saiu direito.
Com 3 projetos paralelos (Visconde, SirSIR, Beeshop), além da Fresno e os trabalhos como produtor, o “The Life and Death of Beeshop” que como você disse tem dois lados. Todos os projetos exploram na totalidade essa variedade sonora que você busca?
Eu acho que com a soma de todas essas encarnações musicais eu consegui pintar um retrato bem fiel de todo meu aprendizado, mas sinto que sempre há algo a ser explorado. Por isso muitos desses projetos são passageiros, ou esporádicos demais. Acredito que meu público já entendeu isso e até parou de ficar me cobrando tanto. E o melhor, ao meu ver, é a maneira como os aprendizados de um projeto se manifestam nos outros, mostrando que tudo não passa de uma grande paisagem sonora. Os nomes mudam, mas a essência e a vontade por detrás de tudo é minha.
Muitos sentem vergonha de terem sido fãs de Simple Plan e hoje só querem saber de folk-chapelão.
Percebe-se o emo em mínima evidência no mainstream atualmente, mas com maior aceitação, como se as pessoas tivessem agora mais espaço pra dizer que são emos, você acha que tem uma volta do estilo de alguma forma?
Tudo que vai, volta, principalmente em se tratando de indústria cultural. A cena emo produziu muitas obras que eu acho maravilhosas mas, como tudo que vira um sucesso comercial, traz consigo uma enorme quantidade de subprodutos descartáveis que acabam sujando a imagem de uma manifestação genuína. O emo surgiu junto com a democratização da internet, das redes sociais, e demonstrou a primeira encarnação de todos aspectos desse fenômeno: o sucesso viral, o oversharing e, principalmente, apresentou ao mundo os haters. Hoje a gente já percebe que tudo é um ciclo e todo mundo que fez parte daquilo evoluiu em suas vidas, se pulverizando para todos os lados. Muitos sentem vergonha de terem sido fãs de Simple Plan e hoje só querem saber de folk-chapelão, mas muita gente se identificou com a raiz do movimento e até hoje se pega fazendo playlists de hardcore / emo com Garage Fuzz, Cap n’ Jazz, Diagonal, Fugazi e Trail of Dead. Não importa muito a cena em que as coisas surgiram… o que é de verdade fica pra sempre. E o que não é, mais cedo ou mais tarde vai parar no limbo da história.
O momento que o país vive te influência de alguma forma artisticamente? Como?
Acredito que sim, e muito. Mas eu só consigo falar de maneira objetiva sobre isso quando os momentos passam, depois de algum tempo, com o distanciamento necessário para se fazer uma auto-análise correta. Eu não filtro muito meus assuntos, minhas abordagens, e não me mantenho imune ao que vamos vivendo enquanto sociedade, então é inevitável que isso tudo tome forma de música.
O novo álbum já encontra-se em pré-venda pelo site da HBB Store e pode ser adquirido por aqui: www.hbbstore.com
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