Poucas bandas no mundo podem começar um show fazendo um cover de Beatles sem perder qualquer prestígio. Com mais de 20 anos de estrada o Pearl Jam fez uma apresentação memorável na noite de sexta no estádio do Mineirão, digna de uma placar alemão de 7 gols.
Uma noite banhada de emoção e amor, de resistência a este mundo tão cruel, Vedder e cia. entraram com alguns minutos de atraso tocando “Rain”. Inesperadamente, “Sometimes”, foi uma das grandes surpresas do setlist da noite e a segunda canção.
Vedder não é somente o grande publicitário da banda, é um rockman de primeira, emblemático, engajado, em uma fase impecável. Essa “publicidade” que muitos artistas estrangeiros fazem no Brasil, muitas vezes, parece de uma falsidade contundente. Mas Vedder por mais que pareça assim, não é! Criticando, em português, as empresas exploradoras de minério, foi ovacionado no estado onde a tragédia aconteceu, mas que é uma tragédia de todos nós. (E logo no dia seguinte anunciando a doação do cachê do show para as vitimas do acidente em Mariana-MG)
Mesclando hits antigos com músicas do último trabalho, Lightning Bolt, levando todos ao êxtase como, “Rearviewmirror”, “Even Flow”, a sempre fundamental “Given To Fly”, fechando a primeira parte com nada menos que “Jeremy” e “Why Go”!
No segundo Encore, que a emoção aumenta mais, vem com um dos momentos mais emocionantes que já presenciei em um show. Serei redundante em dizer que o mundo passa por momentos tensos e tristes, que falta humanidade em tudo, e por mais que seja demagógico dizer isso, por mais que ela seja um clichê do “bom ser humano” e do cara que sempre teve esperança, do cara que sempre acreditou que o amor vence qualquer coisa é poderá vencer mais, Lennon nunca esteve iludido ao escrever “Imagine”, a qual Vedder sentado com um violão levou todos às lágrimas, em um estádio iluminado por celulares, talvez alguns isqueiros, entoar com todos e com ele os versos “you may say, I’m a dreamer, but I’m not the only one” faz qualquer um acreditar e se unir em prol desse amor e do mundo, nem que seja um minuto, já é o que basta para cumprir o que Lennon queria.
Havia uma tensão de minha parte de “Do The Evolution” não ter sido executada ainda, mas veio depois da belíssima balada “Sirens”. Ponto importante no Encore, um cover do Eagles Of Death Metal, “I Want You So Hard”, prestando homenagem à banda e aos acontecimentos em Paris.
O segundo Encore veio para laçar a emoção, “Eruption”, cover do Van Halen, absurdamente bem executado pela banda. “Garden”, uma outra grande surpresa no repertório.
“Confortably Numb”, outro momento de tirar lágrimas dos olhos de todos. “Black”, uma das maiores baladas da música mundial, todo mundo em algum momento da vida tem uma passagem com esta música. Um cover do Dead Boys, “Sonic Reducer”. É um final apoteótico, como todos os finais de show do PJ são, com “Alive”, “Rockin’ In The Free World”, primeira música que me veio à cabeça depois que soube dos atentados de Paris, e “Yellow Ledbetter”, talvez a canção mais sem canção de todas, nunca o vi cantar a mesma letra, mas pra quê letra com uma melodia daquela?
PJ é uma banda redonda, tudo funciona certo, nada passa do limite, nem o experimental! Vale todos os shows, este foi o meu quarto, e com certeza o melhor! Vedder é de um carisma singular, como quando brincou com uma fã, ainda garota, nos ombros o pai. Em uma noite de chuva, com pequenos pingos durante a apresentação, o Mineirão exalava amor.
(Sobre a produção do show: um pouco caótico para comprar cerveja, para ir ao banheiro, poucas cabines dentro da pista, pouquíssimos pontos e pessoas para as bebidas, mas nada que atrapalhasse a noite, o público estava, realmente, em êxtase!).
E como não dizer “obrigado” por um setlist deste:
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