10. Sufjan Stevens – Carrie & Lowell
Após ter passado por fases de experimentação em sua carreira, Sufjan Stevens abraça suas raízes, finalmente. Carrie & Lowell é uma homenagem à falecida mãe do artista, com o qual o mesmo teve uma relação conturbada. O disco é a obra mais intimista de Sufjan, que reflete sobre morte, amor, ódio e nós mesmos. “Fourth Of July” fala especificamente sobre a morte da mãe, de forma carinhosa, ao mesmo tempo que o artista reflete que a vida precisa ser aproveitada ao máximo – com a premissa de que todos morreremos. Porém, mesmo em momentos conturbados, podemos presenciar coisas belas na vida, como dito nos versos finais de “Should Have Know Better”:
“Don’t back down: Nothing can be changed
Cantilever bridge, the drunken sailor
My brother had a daughter
The beauty that she brings, illumination”
Nas onze faixas que compõem sua obra, Sufjan passa por uma overdose de sentimentos, uma explosão de emoções que todos nós podemos nos identificar, o motivo que torna este o melhor trabalho do artista. Mesmo intimista, Stevens consegue exprimir o que todos já passamos ou passaremos – objetivo que poucos conseguem alcançar com perfeição.
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9. Björk – Vulnicura
Desde o The Sugarcubes e os discos solos a partir de Debut, eu nunca ouvi um disco ruim da Bjork. Em todas as fases e estilos a islandesa sempre prezou pela beleza, produção e singularidade de sua poesia musical. Posto isto, é preciso dizer que Vulnicura se encontra como um dos melhores trabalhos na brilhante discografia da islandesa. Com a produção de dois nomes da música eletrônica inteligente e moderna, Haxan Cloak e Arca, Bjork reforça a sua natureza dentro do universo musical que sempre lhe intrigou com maior força e que nos deu grandes discos nos anos 90, principalmente Post e Homogenic. A voz da artista soa poderosa e triunfante, em arranjos orquestrados de sublimação através da música.
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8. Jamie xx – In Colour
Jamie xx entrega logo na estreia solo, In Colour, um bom disco pra dizer o mínimo, “Gosh” e “I Know There’s Gonna Be (Good Times)” com Young Thug estão entre as melhores músicas que ouvimos este ano, Gosh já entrou até nesta mixtape que fizemos. A surpresa maior é que eu pude conferir o set de Jamie ano passado, no Primavera Sound e confesso que apesar de alguns bons momentos em remixes, o som era desinteressante na maior parte do tempo.
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7. Grimes – Art Angels
Claire Boucher é uma pessoa estranha. Assim como sua genitora, Art Angels é um álbum estranho. Mas quanta beleza cabe dentro da estranheza, não? A maior qualidade do quarto álbum da canadense Grimes é fazer música pop de qualidade. E quem acompanha um pouco de música que seja, sabe o quanto isso é raro e difícil. Em um meio saturado de copy cats, canções que parecem que já foram escritas de novo e de novo e de novo, e total falta de criatividade, Boucher mais uma vez chega como um sopro de ar fresco. Sabe a tal da personalidade? Pois é. Assim como Kevin Parker fez em Currents, Grimes foi responsável por toda composição, produção e gravação do álbum. Não há uma música ali que não tenha sido gravada inteiramente por ela. E o melhor de tudo, são 14 ótimas canções. É ou não é de se admirar? Apesar de mais acessível, no sentido comercial da palavra, Art Angels segue a linha de trabalho mostrada nos álbuns anteriores. A principal diferença é que é perceptível a presença de instrumentos de verdade (guitarras, bateria, baixo, etc.) em contraponto à predominância de batidas eletrônicas de Geidi Primes, Halfaxa e Visions. É claro que a música eletrônica e os sintetizadores ainda estão ali, mas na frente de tudo tem música, e principalmente tem a voz e o jeito inconfundível dela de cantar. Art Angels é mais pop, mas consegue ser pop sem perder a essência excêntrica e a capacidade de parecer que Grimes nos leva dentro da cabeça dela em suas músicas, nos conectando com suas emoções, suas loucuras, seus medos e nos fazendo amadurecer sem perder a diversão junto com ela.
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6. Courtney Barnett – Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit
Dona da música do ano até o momento, “Pedestrian at Best”, é até difícil contemporizar a fórmula para o sucesso de Courtney Barnett. Emprestando de referências noventistas que tornaram toda a sujeira do grunge, como o maior expoente daquele tempo, ou em “Small Poppies”, que as guitarras quase surfam, transbordam o sol californiano e a psicodelia da viagem do ácido nos anos 60. Courtney não canta, ela narra suas canções de temas triviais. Ela não quer te ensinar nada, nunca teve esta pretensão, a alma “tanto faz” transborda cheia de significado, e não como costuma significar, como autorretrato de uma geração vazia. “Eu consigo ver Jesus, e ELA* está sorrindo pra mim”, ela diz em um trecho final de “Kim’s Caravan”. Courtney é a antítese de um Mark Kozelek. A mensagem está ali. Ela só não faz questão de esfregar na sua cara.
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5. Tame Impala – Currents
Era uma vez uma banda de um homem só. E é assim que podemos definir o Tame Impala do geniozinho Kevin Parker. Depois de ter alcançado o sucesso de crítica e público com Lonerism, Parker canalizou toda a experiência de fama, business, solidão e mundo moderno para fazer o que sabe de melhor: música boa.
Parker não só escreveu e produziu todas as músicas do álbum, como gravou todos os instrumentos. Não há nenhuma colaboração em Currents. O resultado de tamanha introspecção é um álbum sobre as aflições de Parker, seu coração partido e, principalmente, suas transformações. Desfilando influências da disco music e synth-pop, Currents começa matador com “Let it Happen” e seus quase oito minutos sobre se achar nesse mundo de caos. Outras faixas retomam o tema, como “The Moment”. Já “The Less I Know The Better” vem pra assumir o posto de hit, aquela música que você ouve e já gosta, assim como toda boa canção pop deve ser. E como não se fazem grandes álbuns sem grandes canções de amor, Parker também mostra o quanto evoluiu como letrista ao fazer de Currents um verdadeiro desabafo sobre seu término com Melody Prochet. É quase impossível que você ouça uma canção como “Eventually” e não seja um pouco tocado, e essa é a grande beleza do disco. Tanto quando fala de amor como quando fala sobre cotidiano, Currents tem letras totalmente identificáveis pela nossa geração. Currents é um lindo trabalho de amadurecimento, muito bem escrito e muito bem produzido, mas principalmente, assim como o OK Computer fez há pouco mais de 18 anos, um álbum que retrata o estilo de vida de 2015 .O futuro parece bonito para o Tame Impala.
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4. Unknown Mortal Orchestra – Multi-love
Se em II, o Unknown Mortal Orchestra fez um dos discos mais excepcionais desta década sobre solidão, em Multi-Love o caminho é inverso, uma vez que ele versa sobre lidar com o poliamor. Musicalmente, II era um álbum essencialmente lo-fi, minimalista, linha de baixo solitária transbordava sentimento, em Multi-Love o caminho é inverso, hi-fi, camadas, como desconstruí-las, os efeitos estão mais amplos. Ruban Nielson é um gênio de fazer mais com menos, mesmo em seu disco mais expansivo, é possível notar como ele explora o máximo de cada instrumento, linha e melodia, faz parte da essência do artista. A psicodelia e o groove, presentes em todos os álbuns, alcançam patamares ainda mais calorosos.
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3. Elza Soares – A Mulher do Fim do Mundo
A maior cantora viva do Brasil conseguiu fazer o melhor disco nacional deste ano e de quebra uma obra-prima, para sua carreira e para esta música atual. A mulher do fim do mundo surge como fênix, asas que poucos deram a esta mulher, que sempre se reinventou mas desde o começo sem dar força a um repertório ousado e contundente. O sangue dessa mulher é quente, e quando ela gosta ela se enrosca, já diria Itamar Assumpção. Essa mulher é samba, jazz, rock e funk. Elza samba na música dos outros, unicamente, enroscada em notas que nenhuma cantora atualmente faz, ainda mais com 85 anos de vida. “Das armas, químicas quentes, música é a preferida”. Que bom que com esta idade ainda existem músicos que acreditam em artistas deste quilate, como aconteceu alguns anos atrás com Edith do prato. Elza é necessidade deste país, porta voz de um engajamento negro, feminista necessário neste 2015 tão conservador. Viva Elza, que na nossa opinião, lançou o melhor disco nacional e (não menor) o terceiro melhor disco da lista de internacionais.
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2. Father John Misty – I Love You, Honeybear
O disco é uma evolução do que já havia sido mostrado em Fear Fun de 2012. Dessa vez, Tillman explora arranjos ainda mais luxuosos, em uma intricada fórmula de parafernália sintetizada, timbres de saudade e imediatismo romântico. Em alguns momentos o divórcio com o folk é completo e chega mais próximo, caso da faixa “True Affection”, que poderia ter sido gravada pelo seu companheiro de Sub Pop, Washed Out. Em outros momentos ele se aproxima mais ao seus primórdios, de som do campo, como na faixa “The Night J. Tillman Came To Our Apt”, mas sem perder o sentido de luxo dito no começo do texto, encaixando uma orquestração e backings no arranjo. Até certos momentos que fica rockeiro em sua essência, como na visceral, “The Ideal Husband”.
É interessante notar o contraste das costuras instrumentais com o trato das letras, essencialmente diretas e sem truques, ou joguinho de palavras para esconder o real sentido/sentimento do compositor. A mensagem é entregue em diversas ocasiões, seja para narrar situações, expressar amor, ternura, raiva ou desprezo:
“Every woman that I’ve slept with
Every friendship I’ve neglected
Didn’t call when grandma died
I spend my money getting drunk and high
I’ve done things unprotected
Proceeded to drive home wasted
Bought things to win over siblings
I’ve said awful things, such awful things”
Até nos momentos de ironia, fator sempre presente na obra de Tillman, existe um sentido maior de franqueza.
“I may act like a lunatic
You think I’m fucking crazy, you’re mistaken
Keep moving”
Essa é sem dúvidas a obra mais complexa, e mais imediata do artista. Um dos grandes mistérios da música é resolver bem essa equação: como fazer música duradoura ao longo do tempo na paciência do ouvinte versus acessibilidade e identificação imediata com o som. Seria não enjoar e ao mesmo tempo não requerer uma audição longa e enfadonha até que as belezas sejam descobertas. Pop sofisticado. Tillman alcança isso tanto através das variações de estilos/gêneros, quanto na já tão martelada nesse texto riqueza de arranjos. É um disco apaixonado e as influências citadas pelo artista, compreendem: John Lennon, Scott Walker, Randy Newman, Harry Nilsson, e Dory Previn.
E ainda esqueci de citar a gema pop-country lamuriosa: “Nothing Good Ever Happens At The Goddamn Thristy Crow”.
Mais um adendo, Tillman caminha na direção de se tornar um novo Nick Cave, discograficamente não é tão óbvio de se notar, mas em visual e nos shows isso fica bem claro. Ele é este personagem.
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1. Kendrick Lamar – To Pimp a Butterfly
To Pimp A Butterfly é mais um marco na discografia de Kendrick Lamar. To Pimp A Butterfly é um marco na história do hip hop e da música contemporânea. O trabalho é denso, profundo, longo, poético, antropológico, versátil. Musicalmente se encontra dentro do hip hop moderno que incursiona com uma profundidade nunca vista antes por gêneros como, funk, passando por R&B, música eletrônica e jazz. As palavras são rimadas, são gritadas, choradas e declamadas. Mais do que rima, é um rapper que bota sentimento e interpretação de tal forma que você não possa ignorar a emoção. É aquele disco que na primeira audição te traz para dentro e você tem certeza que está lidando com uma obra-prima moderna. Não existem momentos, é um álbum que só é explicado se ouvido na íntegra, mesmo que as suas partes também existam sozinhas, como “These Walls”, “u”,“King Kunta” e “Blacker the Berry”. É um disco pesado, consome o ouvinte, não é para se ouvir todo dia. Kendrick Lamar se afirma como o maior letrista desta geração de rappers.
Lamar já deu algumas explicações sobre o título do álbum, mas nenhuma exatamente sobre o que realmente significa. É um disco de empoderamento da minoria negra e essencialmente pobre. To pimp a butterfly, pode ser traduzido como “para levantar uma borboleta”. Assim, “king kunta” oferece o título de rei para um povo que historicamente foi associado ao “slave”, enquanto “Alright” foi hino do povo nos protestos deste ano, contra racismo e violência policial nos EUA. Excelente, Lamar!
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1 Comment
No acredito que no vi o dead petz da miley nesse top 50! Quando comecei o top 9 esperava que fosse v-lo junto do currents, in colour, art angels, vunilcura e to pimp a butterfly… o dead petz esteve ao lado destes em outros top lbums que vi . Flvio, se ainda no o ouviu, d uma checada!