Os dias que antecedem o Academy Awards 2016 é cercado de polêmicas pela falta de negros em suas indicações, de atores, atrizes ou diretores. Pelo segundo ano consecutivo a lista de melhores atores e atrizes, principais ou coadjuvante chega em 20 nomes compostos por brancos. A questão, na verdade, é um pouco mais profunda, e revela baixa quantidade de produções “oscarizáveis” ou de maior investimento, em etnias diferentes da caucasiana. Mas alguns deveriam estar lá, como é o caso do ator Idris Elba, em Beasts of No Nation na categoria de melhor ator coadjuvante.
Aliás, para o Oscar cogitaram até o garotinho de Room, Jacob Tremblay, que levou 12 prêmios pra casa e sequer cogitam Abraham Attah, o garotinho do mesmo filme de Idris. Os dois vão muito bem em seus papéis. Mas, por que Jacob Tremblay apenas? Alguns poderiam argumentar que o primeiro é coadjuvante e o segundo protagonista. Por isso teria mais dificuldades. Mas por que menos vitórias em categorias do tipo “breakthrough performance” ou “best young actor”, como alguns Awards oferecem? Fora um festival africano, de Gana, o único caso que o ator venceu foi no National Board of Review… empatado com Jacob Tremblay.
Abu em Beasts of No Nation
Brilhantemente conduz o protagonismo nas costas, em sua jornada de transformação de criança pobre em um país sitiado, como toda criança, preocupa-se em brincar (mesmo que isso signifique a busca por comida), começa um personagem afetuoso e apegado principalmente ao irmão mais velho, transforma-se em um matador sem compaixão, vivo apenas pelo ódio e vingança dentro de uma milicia.
Jack em Room
Divide o protagonismo com Brie Larson, em sua jornada de criança que só conhece o mundo através de um quarto de porão, ainda sem entender torna-se o personagem responsável por livrar ele e sua mãe da clausura, transforma-se durante a jornada ao entender, na visão de uma criança, o que significou seu cárcere, adapta-se ao novo mundo.
Como eu disse no começo do texto, a questão vai ainda mais longe, ao pensarmos na quantidade de produções e nos papéis de protagonismo. As poucas produções que existiram com este enfoque foram ignoradas. como é o caso de Straight Outta Compton. Ou de Michael B. Jordan, por Creed. Não é de hoje a consciência que aos negros sobram os papéis de coadjuvantes e em menor proporção. Um filme paródia dos filmes adolescentes (daqueles propositalmente toscos) fez piada com este fato, lá no início dos 2000.
Você tem certeza que a questão ainda não é compreendida por muita gente com declarações estúpidas, como de Charlotte Rampling que sugeriu “racismo contra os brancos”. E só depois de enterrar todas as suas chances neste e em qualquer outro Oscar, afirmou de maneira protocolar: “No mundo ideal, toda atuação deve ter oportunidades iguais de apreciação. Estou muito honrada de integrar o maravilhoso grupo de atores e atrizes indicados este ano”.
Michael Cane também fortaleceu essa visão de velho mundo, sobre a questão racial ser intriga da oposição. Os atores negros deveriam ser mais “pacientes” em sua visão.
A miopia (neste caso babaquice) não tem fim, como no caso Stephen Verona (outro senhor de idade), membro da academia, que escreveu o seguinte no Hollywood Reporter: “Tente dizer a NBA para contratar mais brancos, hispânicos, jogadores de basquete chinês ou esquimós e verá a reação. E, a propósito, por que Spike Lee não devolve seu Oscar honorário se ele está tão irritado? Se as pessoas fizerem melhores filmes, eles serão recompensados. Isso é tão simples quanto pode ser.”
Por outro lado alguns enxergam a reivindicação como algo real. George Clooney afirmou: “Nós estamos no caminho errado” e lembrou que na década passada a Academia fez um esforço neste sentido, mas que ficou novamente para trás. Reese Whiterspoon também se posicionou. Jada e Will Smith e Spike Lee encampam a lista de profissionais negros da indústria que irão boicotar o Oscar este ano.
Intriga da Oposição?
A única vez que uma atriz negra ganhou o Oscar em categoria de protagonista, foi com Halle Berry. Ainda assim, inegavelmente, uma atriz de traços brancos. No caso de homens, aconteceu quatro vezes, com Sidney Poitier, Denzel Washington, Jamie Foxx e Forest Whitaker.
Nunca um negro venceu como Melhor Diretor.
E, apenas uma vez como Melhor Filme (quem leva é o produtor). Steve McQueen por…
12 Anos de Escravidão.
EM 28 DE FEVEREIRO DE 2016, O ACADEMY AWARDS CHEGA A SUA…
88ª EDIÇÃO.
E o Problema de Diversidade é Ainda Maior
O foco atual é no negro, mas serve também para os povos de origem latina, a segundo maior população etno-cultural dos EUA, atingindo 51 milhões de pessoas. Nunca uma mulher hispânica venceu o Oscar como protagonista. Somente José Ferrer, ator de origem porto-riquenha venceu o Oscar como melhor ator protagonista, em 1950 por Cyrano de Bergerac. No caso de diretor, pela primeira vez com Alfonso Cuarón por Gravidade, em 2014 e no ano seguinte com Alejandro González Iñárritu, que também foi o primeiro latino a ganhar como Melhor Filme.
A indústria cinematográfica hoje é incapaz de incluir e refletir o seu próprio povo, onde 65% da população é branca e os outros 35% são compostos por outras povos/etnias/culturas, como os negros, latinos, asiáticos e nativo-americanos.
Abaixo eu colo um infográfico da Lee and Low Books com análise até 2015. Como já conversamos aqui, em 2016 também não será diferente.
E outros minorias também são ignoradas, como lembrou Ian McKellen: “Não é só as pessoas negras que foram ignoradas pela indústria cinematográfica, costumava ser as mulheres, é certamente a comunidade gay até hoje.”
No próximo post sobre o Oscar, eu retorno com análise dos indicados, quem deve vencer e quem deveria vencer. Após longa maratona, todos os filmes em suas principais categorias estão devidamente assistidos.
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