Talvez não se teria mais nada a falar sobre Chico Buarque, sobre a sua história como músico ou como escritor. A não ser que este tempo verbal fosse parado por algo que chamasse atenção. Caravanas, o novo disco com músicas inéditas do compositor carioca, chama por uma exclamação. É o melhor disco, quase em sua totalidade, desde Paratodos. Esquivando-se em algum momento nestes quase 25 anos entre um e outro.
Com o single “Tua cantiga”, onde o músico sofreu algumas retaliações por causa da letra machista (muita gente faltou na aula de literatura na escola sobre eu-lírico), o disco começou a tomar forma pedindo esta certa atenção. A depender desta primeira música, se o disco mantivesse o mesmo padrão viria algo grandioso. Veio maior. Em parceria com Cristovão Bastos a música tece uma melodia em ondas com uma letra de entrega romântica, porém sem chegar perto da grande obra-prima destes dois que é “Todo o sentimento”.
“Blues pra Bia” (alô eu lírico!), primeiro grande momento do disco já na segunda faixa. Um blues de um cara apaixonado por uma mulher, porém esta gosta de mulher também, só que o cara é capaz de virar mulher para conquista-la, mesmo meninos não tendo lugar.
A pérola “A moça do sonho”, do panteão da parceria com Edu Lobo, a primeira regravação do disco. Esta música tem um dos versos mais bonitos da música brasileira: “Um lugar deve existir / uma espécie de bazar / onde os sonhos extraviados vão parar”. No entanto a versão do Edu Lobo para a peça Cambaio é imbatível.
Chico volta ao futebol em “Jogo de bola”, colocando perfeitamente cada palavra nas notas. (uma pequena rasgação de seda: tem que ser muito mestre para fazer isso).
“Massarandupió”, segundo grande momento do disco. Composição que neto Chico Brown deu para o avô musicar. Das mais belas melodias do disco, totalmente lúdica e nostálgica, que é contemplada com uma bela letra que brinca com toda essa imagem de ludismo.
Com a participação de outro neto, agora Clara Buarque regrava “Dueto”, eternizada por Nara Leão, esta que é dona desta música. Mas Clara deu um frescor delicioso nesta nova gravação, com a atualização da letra para novas formas de esquecer a vida e partir em dueto com alguém.
Com muitos pedidos, Chico “foi” a Cuba e trouxe “Casualmente”. Um bolero em parceria com Jorge Helder que foi composta para Omara Portuondo gravar, a canção é entoada metade em português e outra em espanhol.
“Desaforos” é uma resposta para quem exala ódio no cenário atual. Um samba-canção de final de noite no beco escuro na noite.
E a grande “As caravanas”, a melhor do disco, traz um Chico com uma letra de cunho social, o que não acontecia (com esta magnitude) há um tempo. “Filha do medo a raiva é mãe da covardia“. Com a inclusão de uma batida funk entre os versos com o auxílio de um integrante do Dream Team do Passinho, termina com o verso “a culpa deve ser do sol” martelando na cabeça do ouvinte.
Caravanas chega perto das grandes obras de Chico. Aos 73 anos, o carioca está antenado neste mundo cheio de ódio e espalhando amor e chamando atenção, ainda.
Avaliação
Caravanas
Artista: Chico Buarque
Lançamento: 25 de Agosto de 2017
Selo: Biscoito Fino
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