POR ANNA LIVIA MARQUES
Via Marquês, uma ilha entre as linhas de trem que cercam a Barra Funda. Taxistas me dizem que ali é famoso por “show de pagode e sertanejo”, mas ontem algo diferente aconteceu. Ontem a Via Marquês abrigou um aniversário muito especial, de um tal Mr. Jack.
Para entrar no tal aniversário, você passava por um pouco de confusão (seguranças pareciam não ter sido briffados, hostess não sabia lidar com a diversidade de ingressos – reembolsáveis, compras online, ingresso na mão, passes, etc). Mas tudo bem, o desconforto inicial passava logo, quando você entrava e era presenteado com banheiro cheios de sofás, uma photobooth muito bacana e – mais importante de tudo – um drink grátis feito de Jack Daniel’s. Puro amor para começar a noite.
Depois de algum atraso (era de se esperar, depois da confusão de abertura da casa), começa a banda de abertura Copacabana Club. O show deles, como sempre, foi ótimo, com ênfase nas músicas mais recentes (Love is over). Uma banda que parecia entrosada e querendo ser feliz. O público, como é comum em bandas de abertura, se dividiu entre os que estavam dançando e cantando “sex sex tonight, sex sex tonight” e os desinteressados.
Finalmente, 1 da manhã, chega a banda principal. A casa, antes vazia, já está lotada de meninos e meninas de 18 anos e alguns empresários distintos, usando ternos de linho, aproveitando o convite grátis para reacender a chama da juventude.
The Wombats chega ao palco. Para o meu grande susto, eles parecem velhos. Não velhos de verdade, mas muito mais velhos que a maioria do seu público alvo. Por um momento me sinto mais velha até do que eles. Uma enorme impaciência me atinge – “Estou num show do Blink 182!” – quando vejo o baixista Tord pulando como se não houvesse amanhã, parecendo um cover de Tom Delonge.
A banda é boa, manda hits em cima de hits. Todo mundo canta e dança muito (parcialmente porque tem 18 anos, parcialmente porque a banda é contagiante com seus hinos cheios de “uuuuhs” e “aaahs” e parcialmente por causa de algumas doses de Maracujack). Kill The Director, Patricia The Stripper e Party in the Forest clamam por mulheres (Bridget Jones, Patricia, Laura). Matthew, nos vocais, vai ficando com o cabelo, já ralo, cada vez mais molhado de suor. Tord pula, pula, pula.
Eles conversam muito, com seu forte sotaque de Liverpool. Nem tudo é compreensível.
Depois de 1996, Technofan, Schumacher the champagne e Tokyo, me pergunto, Girls/Fast Cars e Walking disaster foram esquecidas. Após uma breve pausa para o bis, percebo que sim. Foram.
A banda volta com a misteriosa abertura the Anti-D. A casa vai abaixo. Esse era o momento que estávamos todos esperando. Nem todo o meu preconceito contra o baixista-pulante-doppleganger-
Ops, para tudo, pausa para os comerciais: a banda canta Happy Birthday para o Mr. Jack, vários balões caem, é uma grande festa de debutante regada a uísque em copos de acrílico. Okay, acabaram os comerciais.
Voltamos ao show. Ah, agora sim! Let’s dance to joy division. Fim de noite perfeito – não fosse pela barulheira de show bate-cabeça no final. Acho que é oficial. Definitivamente não sou fã de Blink 182, mas adoro Wombats (talvez mais no CD do que na vida real).
Levo uma coisa da noite: (além de copos de acrílico para minha coleção) agora todos sabemos que somos a demografia inexistente em shows. Aquele povo de 20 e tantos que ainda não se conformou em deixar de ser indie festivo, já mais velho que quase todo público, mas que também não é velho o bastante para frequentar esses lugares em busca da chama da juventude perdida. Me conformo em dançar Joy Division da minha própria casa.
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