O rapper só ouve rap, o indie só ouve bosta indie, o cara da música eletrônica só ouve música eletrônica. Cadê a carnadura curiosa? A banda de post-rock, só ouve post-rock e um echo and the bunnymen pra curar a rebordosa da segunda-feira. Cadê o tesão pela invenção, a vontade de surpreender, de tentar algo novo? Poucos caminhos sobram pra bandas que não ouvem e empreendem música fora do seu universo de conforto. Esse é o marasmo regulador da cena musical brasileira, se é que é possível chamar de cena. Existem pequenos nichos, cada um por si e seja o que Deus quiser. Temos algumas exceções que não cabe aqui nomear, pois não estou escrevendo sobre ninguém especificamente, é apenas um sentimento do geral, uma visão do coletivo. E quando eu falo isso, é preciso entender exatamente o que significa, não é que não existe boa música saindo daqui, existe sim. Mas boa música é uma coisa, música que te surpreenda é outra coisa e música que bate o pau na mesa e influencia novas gerações é cerveja gelada e Palmeiras ganhando de quatro a zero dos Curicas. É disso que estou falando, nem tudo aquilo que não parece elogio passa automaticamente a ser crítica e vice-versa, os dois coexistem e se disfarçam, um som hibrido pode ser uma grande porcaria também, se alguém pouco talentoso tentar fazer uma colagem de vertentes diferentes, sem a habilidade pra entrar suave e fluir coerentemente, é preciso encontrar a batida e melodia perfeita. Arranjá-las então, não é tarefa fácil, se eu soubesse como fazer já estaria rico. Só sei que o flerte e a cabeça aberta é um grande passo.
É aí que entra o Rome Fortune, criado na prolífica e saturada cena rapper de Atlanta. Para se sobressair, é preciso trazer algo novo pra mesa, e ao trabalhar de maneira híbrida ele encontra a pista livre, faz parcerias com outras frentes, sai da zona de conforto, busca a sua forma peculiar de fazer música. Rome Fortune entrega um álbum em forma de mixtape, com download gratuito, que é exatamente a definição de ser um híbrido. O carro-chefe dele é o rap e as batidas, claro, sempre tem um gene que vai se sobressair, não é necessário negar isso. Mas os genes recessivos estão bem vivos neste álbum, impulsionados através das diversas parcerias como o Four Tet, que já é um híbrido por excelência, da eletrônica ao post-rock ou o Bassnectar e sua eletrônica das massas, a participação do também híbrido ILoveMakonnen e até algo do rock – ouça “Why” com o produtor Pat Lukens. Rome Fortune produziu cada faixa do álbum, Small VVorld, com um cara diferente. A faixa com produção do Blood Diamonds é qualquer coisa de genial. Esses filhotes híbridos que têm surgido nos últimos anos, seja com o gene dominante: rap, rock ou electro, me parecem muito mais alinhados como autênticos representantes do som da atualidade.
E olha essa capa… sensacional.
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