Depois do Luziluzia, outra banda goiana promete colocar o seu disco entre os melhores deste ano. Desta vez falo do Carne Doce, que lança hoje o seu primeiro álbum de estúdio, incluindo membros do Luziluzia em sua formação. A novidade foi gravada no estúdio de outra força goiana, Hellbenders, e conta com a participação do expoente maior da terra do pequi atualmente, Boogarins, na faixa “Benzin”.
Sejam nas letras, nas fotos promocionais, sem sequer nunca ter visto, ou conversado com qualquer membro da banda, fica claro que é uma banda de um casal, a marca é colocada na frente.
A história da música é recheada de casais e acho interessante observar como eles se posicionam em relação a essa intrigante relação amorosa-artística, poderia citar por exemplo: Ira Kaplan e Georgia Hubley, do Yo La Tengo, que pouco denunciaram sobre a dinâmica do relacionamento de início, a função artística se concentra mais em gostos, nerds musicais, e menos em relacionamentos, a mesma dinâmica se aplica à Alan Sparhawk e Mimi Parker, do Low. No extremo da dúvida sobre o que acontece ali, eu colocaria Meg e Jack White que por muito tempo deixou a dúvida na cabeça dos fãs: casal, primos, irmãos, amigos, what the hell?
Um casal que se aproxima do Carne Doce, desde o começo, e que me vem a cabeça é provavelmente o mais talentoso nas suas dinâmicas de amor, tensão sexual e tensão amorosa, Lindsey Buckingham e Stevie Nicks, do Fleetwood Mac e trabalho prévio. Hoje eu li, no O Globo, uma entrevista da vocalista, que não concorda com essa evidência de banda casal, e por isso eles tentaram dissociar isso do primeiro EP para o disco de estúdio. Confesso que não ouvi o EP, mas no disco, a dinâmica banda de um casal, salta aos olhos, evidente ao ponto de ser o primeiro trunfo do álbum, as confissões, as relações de cumplicidade, as tensões, a banda entrega isso no álbum e se isso mostra o que eles são de verdade, maravilha! A arte como forma de expurgo sentimental costuma se dar bem. Estamos aqui pra sentir isso também, e que a verdade seja dita, o disco – se obriga – e parte para composições notoriamente mais externas em relação ao mundo particular, caso das faixas “Idéia”, “Sertão Urbano” e “Amigo dos Bichos”, por exemplo.
O segundo trunfo, são as composições por si só: boas bases, boas letras e os arranjos sensacionais. Tecnicamente falando a entonação vocal da cantora é um oásis na busca por novidades sonoras, muito bem alinhada com os timbres, a levada, os efeitos e a atual marca goiana.
Muita gente defende que o grande trunfo de Kim Gordon e Thurston Moore reside na dinâmica criada por Steve Shelley e Lee Ranaldo, que fez do Sonic Youth uma banda, e o casal como a cereja do bolo. Seja qual for o caso do Carne Doce, é uma banda que nos enche de orgulho e que merece a nossa atenção, com um trabalho criativo, visceral, poético e talentoso.
Em tempo, “Passivo” deve brigar entre as 10 melhores músicas do ano em todo esse mundão de Deus, pelo menos na opinião desse blog.
A arte de capa é sensacional também.
Ouça o disco completo em stream:
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