Ao contrário do ano passado, esse ano o dia lotado do Lolla foi no domingo. Mesmo com o público oficial divulgado em 70 mil pessoas, o segundo dia também correu sem maiores problemas ou tumulto. O problema foi que, se na noite anterior tivemos alguns embates de horário que conseguiram dividir o público, no domingo ficou claro que a grande massa estava ali pra ver Foster The People e Calvin Harris.
O dia foi chuvoso e o visual capa de chuva predominava. Neste ponto, mais um acerto do festival. Mesmo com a chuva não vi muito barro. Conseguiram driblar bem esse problema.
Me permiti chegar um pouco mais tarde e corri pro Chef Stage. Mais uma vez tenho que aplaudir a iniciativa. Pratos bem diversificados, com um valor acessível. A ampliação do espaço também foi muito bem vinda, e deixou o clima do ambiente ainda mais legal.
Quanto aos shows, posso dizer que se no sábado tivemos o indie em sua essência representado por St. Vincent e Jack White, no domingo pudemos ver como a música pop radiofônica tem seu poder, e pode sim fazer um grande dia de festival.
Rudimental
por Matheus Bonetti
Estava em dúvida sobre o que essa dupla, ora trio, ora quarteto, ora quinteto eletrônico (???) poderia ser capaz de apresentar para quem já estava nos arredores do festival logo tão cedo. Da pickup do DJ Locksmith sairam muito boa coisa, classicos de pistas dos anos 90 e 2000, trilhas sonoras e musicas recentes, sendo revezadas com canções próprias. Acompanhados da belíssima loira-voz de Annie-Marie, algumas músicas do grupo tiveram respostas bem positivas de um público que queria muito pular como se não houvesse o amanhã. “Feel the Love” e ‘Waiting All Night” botaram a galera pra curtir o clima do festival, levado essecialmente ao pop eletrônico naquele Domingo. Funcionou, e muito…melhorando o clima frio e chuvoso daquele momento.
Interpol, este velho conhecido
por Flavio Testa
Não sei se é porque este é o meu quarto show do Interpol. Quando mais jovem, há uns 10 ou 12 anos atrás, já fui algo bem próximo de fã do Interpol. Mas, hoje, não tenho muito mais paciência com a sonoridade, não consegui assimilar as músicas do disco novo, a sensação é como se eu já tivesse absorvido tudo que a banda tem a oferecer, como se a sincronia e a sintonia fizessem parte do passado. E agora é seguir em frente, cada um no seu caminho. Bom show, boa banda e a chuva que caía no momento completava toda a vibe do grupo. Certamente, se o festival tivesse outras opções interessantes para o horário, eu não teria pensado duas vezes sobre trocar de show. Mas, repito, o Interpol fez o mesmo show de sempre, se você curte a banda, provavelmente deve ter gostado.
Foster The People
por Matheus Bonetti
Mark Foster e sua banda não era novidade pra mim, que já tinha presenciado o show deles como co-headliner na primeira edição do Lollapalooza no Brasil, em 2012. Agora, com um status mais consolidado lá fora ~a banda mais indie-do-dia-não-tão-indie-assim~ da noite fez um show “morno”, com bons momentos por parte do público, mas ainda assim melhor que o anterior.
É estranho explicar a adoração por parte dos fãs, que sem dúvidas entoaram o ritmo do show, diferente da banda que parecia um pouco “cansada” demais no palco e poderia apresentar uma empolgação melhor em retribuição aos seus fervorosos seguidores.
O segundo álbum do grupo destoa bem num show ao vivo, é verdade, por isso, são as canções do álbum de estréia que transformou o show numa balada indie propriamente dita, em pleno fim de tarde no Autódromo. “Houdini”, “Call It What You Want” e o hit “Pumped Up Kicks” mostraram que levantam multidão ainda em shows. Essa fórmula de show do Foster parece que já sofre um pouco de desgaste e o primeiro álbum é o caminho onde a banda melhor consegue trilhar o seu caminho.
Calvin Harris e o melhor show da noite
por Ana Carolina Munhoz
Confesso que cheguei ao show do Calvin Harris totalmente descrente. Show de DJ? Musiquinhas que tocam mil vezes na rádio? Estava com os dois pés atrás e quase deixei passar pra ir esperar o Pharrell confortavelmente. Por sorte, resolvi conferir e logo na primeira música, “Under Control” o escocês já me ganhou. O som estava nas alturas, e que importância isso tem pra um festival. A gente tá ali pela música, e não tem sensação melhor do que ter o ouvido estourando.
O clima do show foi de verdadeira balada. Calvin Harris não economizou nos hits. Estavam todos lá: “I Need Your Love”, “Blame”, “Feel So Close”, além de remixes para músicas famosas como “You’ve Got The Love” e “Latch. Tudo isso com muitas luzes, telão de LED, papel picado,etc.
O ponto alto é com “We Found Love”, na minha opinião uma das melhores músicas pop’s da década. Foi lindo ver todo mundo cantando junto. Melhor só se a própria Rihanna estivesse ali. Foi também o show mais lotado de todos o que eu assisti, a concorrência era quase zero, mas nem por isso a experiência ficou prejudicada. Deu pra todo mundo assistir e dançar confortavelmente. Pela primeira vez no Lollapalooza Brasil DJ’s foram atração no palco principal.
Com todo clima de desconfiança, foram lá e fizeram bonito. Que fique de lição pras próximas edições de que a diversidade de sons é bem vinda.
Childish Gambino, um híbrido entre os gêneros
por Flavio Testa
Baixo, 2 guitarras, teclado, bateria e o frontman.
Parece a descrição de uma banda de rock, mas não é… ou é também, afinal a influência está lá, ele é um dos filhos dessa geração de produção híbrida que funde diversos gêneros em seu som, mas o que brota com mais força são os beats densos e o rap de Childish Gambino, que fez um show cheio de energia no Perry Stage.
Eu confesso que tinha um certo preconceito com o artista, e achei uma pena que a escolha de rapper gringo tenha sido justamente por um meio “playboy”, o cara é ator e roteirista da NBC, é o tipo de cena que soa pré-fabricada, certamente chove dinheiro ali pra se produzir e fundar do zero o artista.
Mas Bino, apelido carinhoso, que os poucos e ruidosos fãs gritavam antes de Gambino subir ao palco, segura muito bem a onda e faz valer o show. Não dá pra comparar com um Kendrick Lamar da vida, mas é muito bom. O palco estava relativamente vazio, pois no mesmo horário se apresentava Calvin Harris, quem desceu pra ver o Bino, sabia o que tava fazendo e pode ver bem de perto, um dos shows mais “pegados” do festival, com uma mistura muito equilibrada entre gêneros, synth deitando, batidões, guitarras e rimas. Por favor, aumentem o cartel de rappers ano que vem.
PLEASE COME BACK, PALE HORSE
por Flavio Testa
Que show incrível do cavalo pálido, Billy Corgan. Depois de Jack White, penso que foi o melhor show do festival.
Os dois últimos álbuns do Smashing Pumpkins estão bons. Oceania é um álbum nota 7 e Monuments To An Elegy, lançado em dezembro do ano passado, nota 8. E no palco Billy Corgan cresce com suas músicas do novo e também dos velhos discos dos anos 90. A crítica assumiu uma postura de preguiça com tudo que vem do Smashing Pumpkins, muito apoiada nas crises de identidade de Corgan e em alguns discos ruins nos 00s. “One and All (We Are)”, é um exemplo de música nova, que compete com qualquer coisa dos álbuns adorados dos anos 90.
Eu havia dito que dificilmente teria uma música do Gish no show, e me enganei, ele tocou “Drown” para emocionar muita gente.
Do Siamese Dream, vieram as duas pontas, a abertura do show com “Cherub Rock”, depois ainda rolou “Disarm” e o encerramento com “Today”, apenas voz e violão, onde aconteceu um momento bizarro. Os fogos que marcam o encerramento do festival começaram a estourar no momento que Billy ainda introduzia “Today”, visivelmente incomodado, fez cara de bravo, parou de tocar, respirou fundou, pensou duas vezes e optou por voltar a tocar, com os rojões comendo solto, totalmente fora do tempo haha. Em se tratando de uma versão voz e violão, não dá pra tirar a razão do músico, de fato estragou o clima final que ele tinha preparado. Quero acreditar que ele não tenha planejado a mesma sequência que fez na Argentina, onde ainda tocou “Zero” depois. De qualquer forma, a ideia de terminar o show sozinho no palco, é muito a cara dele.
Do Mellon Collie vieram as faixas “Tonight, Tonight”, “1979” e “Bullet With Butterfly Wings”. Teve também “Ava Adore”, do Adore. Do Machina veio “Stand Inside Your Love”. “United States”, do Zeitgeist. 4 músicas do álbum novo, que comprovam a minha tese de que Billy tá com um disco bom na mão, apesar da plateia responder mais timidamente, as músicas novas não soam menores que os hits. E do Oceania, ele ainda tocou “Pale Horse”, uma das minhas favoritas, debrucei sobre esta canção aqui.
O show ainda teve o momento parafuso a menos, com Billy perguntando se a plateia entendia inglês, e depois contando que o gato dele tinha morrido, enquanto ele estava em turnê pela América do Sul e, então, dedicou “Disarm” pro gato morto. Lembrou também que era aniversário de Perry Farrell e que ele tinha feito aniversário na semana passada, deu uma risadinha ao dizer que fazia 28 anos. Eternamente jovem. Pra completar o non-sense, teve uma hora que Billy começou a puxar uma bossa nova, riu sozinho novamente e continuou o show.
Amparado pelo guitarrista que já está com ele desde 2007, Jeff Schroeder, além de Brad Wilk (Rage Against the Machine, Black Sabbath) na bateria e Mark Stoermer (The Killers) no baixo, o que o bom público presente viu no palco Axe foi coisa de bandona, coisa de gente grande que dá pau em todas essas bandinhas de molecada que vieram agora pro indie rock e pensam que são alguma coisa já.
Lembro de em certo momento ter pensado como Billy, mais que um compositor, como ele era um guitarrista relevante, deu show literalmente, com alguns solos pouco complexos mas bárbaros, ruidosos e cheio de alma. Tenho pena daqueles que pensam que o Smashing Pumpkins morreu, não sabem o que estão perdendo.
O geniozinho Pharrell Willians finaliza a noite
por Ana Carolina Munhoz
Pharrell Willians chegou com a missão de fechar o festival e tentar calar a boca de quem duvidou de seu merecimento como headliner.
O show começou um pouco vazio, já que a maioria do público ainda estava saindo do concorridíssimo Calvin Harris. Pouco a pouco o palco Skol foi enchendo, mas incrivelmente foi um dos shows mais vazios que assisti. Talvez a concorrência direta com Smashing Pumpkins e Steve Aoki tenha concorrido pra que o show não estivesse abarrotado.
O que poderia ser um ponto negativo, foi o que fez a diferença na minha experiência. Poder assistir a um show com músicas que eu amo, de perto, com espaço suficiente pra dançar o quanto eu quisesse, foi algo de sensacional. E Pharrell não brinca em serviço. Ele sabe que tem na manga alguns dos maiores hits da música pop, e não tem vergonha de usá-los.
Desfilando canções como “Hot in Here”, “I Just Wanna Love You”, “Frontin”, “Beautiful” e “Drop Like It’s Hot”, Pharrell só deixa a bola cair quando enrola na conversação com o público. Interação é legal e a gente gosta, mas passando do ponto fica um pouco chato. Fora a enrolação, o show é divertidíssimo com backing vocals e dançarinas afiadas, responsáveis pela animação do público quando Pharrell sai de cena, público no palco em três músicas, etc. A sequência “Blurred Lines”, “Get Lucky” e “Lose Yourself to Dance” é matadora e faz a gente lembrar que está diante de um dos maiores nomes do R&B e da música pop atual. Ouvir “Get Lucky” ao vivo, mesmo sem o Daft Punk, já valeu o meu ingresso.
O final não poderia ser diferente e veio com fogos de artifício e explosão de papel picado ao som de “Happy”, colocando todo mundo pra dançar. Pode não ter sido o melhor show do festival, mas foi muito competente. Aos poucos o Lolla vai achando sua identidade e aprendendo como agradar essa juventude que gosta de tudo ao mesmo tempo.
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