por Amanda Marques, Flavio Testa e Carol Munhoz. Fotos por Flavio Testa e Amanda Marques
E vamos ao último dia de Lollapalooza, os pés combalidos do dia anterior foram descansados, e estavam prontos para o último dia de festival. A bateria de energia já não começa no 100%. O que nos faz pensar que não tem como fazer 3 dias de Lollapalooza em Interlagos. Dois é o limite, para o quanto ele exige fisicamente, dois dias de Lollapalooza, equivalem a quatro dias de Primavera Sound. Crazy bat shit. Mas, vamos lá, até porque o domingo foi o dia dos shows mais legais do festival!
LEIA MAIS: SÁBADO NO LOLLAPALOOZA BRASIL 2016
LEIA MAIS: BALANÇO GERAL DO LOLLAPALOOZA BRASIL 2016
Os brasileiros: Versalle e Karol Conká
O segundo dia no festival começou um pouco mais cedo, por volta de 13h30, e ainda foi possível assistir um pouco dos brasileiros da banda Versalle. (LEIA A EXTENSA ENTREVISTA QUE FIZEMOS COM A VERSALE).
Foi uma grata surpresa perceber que a banda de Rondônia é realmente tudo aquilo que parece no CD. Surge não só o finalista do SuperStar, mas uma proposta relevante pra cena rock nacional.
Conseguimos ainda pegar o final da Karol Conká causando um tombamento no palco do Perry. O primeiro show lotado do domingo estava acontecendo antes das 14 horas, não cabia mais ninguém no espaço para 10 mil pessoas. Conká provou em um horário pouco favorável, que se você tiver as músicas certas, não importa o horário, viu caro Lobão (que reclamou em 2012 dos horários dos brasileiros).
A crítica para Conká é que as músicas dela com essa turma do eletrônico fica muito longe da versão em estúdio, “Tombei” ao vivo foi uma singela lembrança dos beats e dos graves que essa faixa é de verdade, ela foi carregada com o coro do público, mas a potência da faixa ficou longe do que ela é.
Esforçados, como muita entrega e ajuda percussiva brasileira, Walk the Moon faz um show acima do esperado
O primeiro show que assistimos no domingo foi o do Walk the Moon, mais uma das bandas pop rock dançante que tem aos montes por aí. Conhecendo apenas duas músicas, estava esperando o Walk the Moon mostrar a que veio. E fiquei esperando. Não que a banda seja ruim, mas passou despercebida diante dos artistas que se apresentaram no domingo. O combo vocalista bonitinho + um único hit explosivo + tambores já se tornou cansativo. Quando o Imagine Dragons se apresentou no Lollapalooza em 2014 já era cansativo, mas vende, então tivemos a apresentação do Walk the Moon. Não posso dizer que os rapazes não se esforçaram, porque conseguiram colocar parte do público que estava no Onix para dançar (a parte que estava na grade esperando o Jack Ü, além de muitas adolescentes histéricas) às 14:30. Os pontos altos do show foram a Associação Meninos do Morumbi sendo convidada ao palco para participar da apresentação da música “Work This Body” e o final, quando o hit “Shut Up And Dance” foi executado. De fato, nessa hora, vimos muitas mãos pro ar. No mais, a banda não surpreendeu, mas para quem curte um popzinho adolescente, tá valendo.
Alabama Shakes: Emoção e sublimação, uma banda pesada e afiada, com uma jóia rara, daquelas que aparecem só de vez em quando na música, chamada Brittany Howard
Na hora da apresentação do Alabama Shakes no longínquo palco Onix, uma garoazinha chata começou a cair, mas não diminuiu em nada o espírito de quem estava ali para a ver a banda. O grupo entrou no palco e todo mundo foi ao delírio, em um misto de ansiedade e excitação, e quando Brittany Howard tocou as primeiras notas de “Future People” e deixou sua voz sair… É até difícil descrever o que aconteceu.
A garoa parou, as nuvens se dissiparam e um sol maravilhoso inundou todos os presentes, parecia até coisa de filme de romance, e os amantes daquela tarde eram o Alabama Shakes e o público. Eu nunca vi nada parecido com o que aconteceu durante a uma hora de apresentação da banda, que parecia hipnotizar e falar exclusivamente com cada pessoa da plateia.
O carisma imenso de Brittany e sua demonstração clara de paixão pela música tornaram a experiência ainda mais única. O blues e o soul do Alabama Shakes se encaixaram perfeitamente com o finalzinho da tarde, lavando a alma de todo mundo que recebeu a banda de braços abertos. A segunda apresentação do grupo no festival foi marcada por um setlist bem dividido entre os dois álbuns de estúdio, sendo encerrada pelos dois grandes hits dos álbuns, “Don’t Wanna Fight” e “Gimme All Your Love”. O final perfeito para um show que nos mostra que não é preciso mil e uma peripécias para cativar, com apenas música de qualidade e simpatia, o Alabama Shakes enfeitiçou todos nós.
Com um ótimo primeiro disco solo nas costas e um segundo nem tanto, mais os sucessos do Oasis, Noel Gallagher entrega show com gosto de quero mais
Noel Gallagher rearranjou algumas músicas do Oasis; “Champagne Supernova” foi de chorar. Que coisa mais sensacional. Noel fica mais solto no palco, sendo o único dono das atenções, claro, sempre com aquela postura chuvosa de Manchester. É impressionante notar como o primeiro disco dele colecionou canções verdadeiramente boas, “The Death of You and Me”, “AKA… What a Life!”, “If I Had a Gun…”, Everybody’s on the Run” e “Dream On”. Ele ainda dedicou “You Know You Can’t Go Back” aos fãs do Oasis, fez isqueiros se acenderem com “Wonderwall” em sua voz e encerrou emocionantemente com “Don’t Look Back in Anger”, ainda tocou, do Oasis, “Listen Up”, e para minha surpresa “Digsy’s Dinner”. Seria mais condizente que Noel fosse o headliner do domingo, acrescentando mais alguns Oasis no seu repertório, e que Florence ocupasse o lugar de Noel.
Jack Ü: Um espetáculo de EDM que, ao assistir, é instântaneo perceber porque o rock ficou para trás no gosto dos mais jovens
Um pouco antes do final do show do Noel Gallagher, corremos apressadamente em direção ao palco Onix, onde o Jack Ü se apresentaria às 19:10. Enfiando os pés na lama até encontrar um lugar decente no local já apinhado, nos posicionamos e aguardamos os veteranos do festival, Skrillex e Diplo. O show começou com o hit “Take Ü There”, que o público cantou com fervor, berrando mais alto que o vocal de Kiesza. Com jogos de luzes, um painel que transmitia imagens de videoclipes, turnês e os símbolos do duo (os adoráveis Ü), fumaça, serpentina e fogos de artifício, a apresentação dos DJs fez tremer o chão do Autódromo de Interlagos. Sem grande competição (os shows que ocorriam simultaneamente eram do Jungle e do Emicida), Skrillex e Diplo colocaram todo mundo pra dançar, numa vibe de liberdade e animação.
Em apenas uma hora e quinze minutos de show, o Jack Ü metralhou uma quantidade gigantesca de hits, que foram de “Hello”, da Adele à outros sucessos da música eletrônica, como “Runaway” e “Get Low”. O surpreendente do repertório foi a preocupação dos DJs em buscar conhecer o que está em alta no país, fazendo uma pesquisa que demonstrou ainda mais o carinho de ambos pelo Brasil (Skrillex já deveria ter dupla nacionalidade porque sempre dá um jeito de passar por aqui; e Diplo é altamente antenado com a cena musical popular brasileira, tendo feito, inclusive, um documentário sobre o funk carioca, chamado Favela On Blast). Durante vários momentos do show, o painel, ou ü.tv, estampava diversas imagens de São Paulo e o Jack Ü encaixou três músicas brasileiras em seu setlist, levando o público à loucura: “Baile de Favela”, do MC João, um remix feito por Omulu de “Nam Nam Não (Veja Só No Que Deu)”, do Wesley Safadão e “Tá Tranquilo, Tá Favorável”, que contou com a participação do MC Bin Laden, que tirou a camisa que nem ele fez no videoclipe que virou meme icônico.
A simpatia e a relação de Skrillex e Diplo os torna a dupla perfeita, cada um sabe o seu lugar. Enquanto um comanda o som e os drops, o outro é responsável por animar a galera e levantar com orgulho a bandeira do país. Skrillex é mais energético com certeza, saltando do painel e fazendo uns passos que só ele entende, mas Diplo também não ficou pra trás: Até convocou a galera para uns polichinelos, sendo seguido animadamente. O encerramento da apresentação ficou com o carro chefe do único álbum do duo, “Where Are Ü Now”, que conta com a participação de Justin Bieber, que já tinha sido enfiado no setlist com o hit “Sorry”.
O show fez todo mundo esquecer as dores nos pés, as distâncias, o aperto e mostrou que a abertura que o Lollapalooza dá à música eletrônica é necessária, uma válvula de escape para qualquer um que queira simplesmente dançar. O Jack Ü tinha muito o que provar já que estava no posto que Calvin Harris ocupou em 2015, e não decepcionou, colocando as tremas no Üs e mostrando o porquê são os grandes queridinhos da música eletrônica atual.
Florence and the Machine: sim, mas não como Headliner
Falta muito ainda pra Florence and the Machine ocupar o espaço de destaque que ocupou. Falta repertório, falta presença, falta relevância… E olha que posso me considerar fã do trabalho da banda. Acompanho desde o primeiro álbum e sempre achei Florence uma figura muito interessante. Mas aí na hora do vamos ver, do grande show de encerramento, faltou sal. Também tive impressão de que o som estava muito baixo. Ouvia tranquilamente as pessoas ao meu lado cantando muito mais do que ouvia a voz vinda do show. Mas talvez isso também seja impressão após a porrada sonora que foi o Jack Ü. Só sei que antes do final do show, lá fui eu conferir o bem mais animado show do Planet Hemp, que é coisa nossa, mas que sabe comandar um palco muito melhor do que a Florence. Fica o apelo pra que o headliner do encerramento ano que vem seja melhor escolhido. Olha o Radiohead aí, Lolla!
RANKING FINAL
- TAME IMPALA
- ALABAMA SHAKES
- JACK Ü
- NOEL GALLAGHER
- MARINA AND THE DIAMONDS
- FLORENCE AND THE MACHINE
- BAD RELIGION
- THE JOY FORMIDABLE
- DIE ANTWOORD
- VERSALLE/KAROL CONKÁ
- VINTAGE TROUBLE/MATANZA
- WALK THE MOON
You might also like
More from Lollapalooza Brasil // Cobertura 505 Indie
Lollapalooza Brasil 2018: festival encontra a conta do equilíbrio com shows memoráveis de LCD Soundsystem e David Byrne
Introdução, Spoon, LCD Soundsystem, Mac DeMarco, Tash Sultana, Liniker e The National por Flavio Testa Oh Wonder, Chance the Rapper, .Anderson …
DAVID BYRNE: o gigante do Lollapalooza Brasil 2018
https://youtu.be/07G4xhSefuI Ele provavelmente estará descalço. Tão confortável como se estivesse em casa. Banda? Provavelmente esperando seu momento de entrar depois que David …
Guia Alternativo do Lollapalooza Brasil 2018
Esqueçam os Headliners (ou não), preparem as cabeças balançantes e venha experimentar diferentes sonoridades com o nosso Guia Alternativo do …