
Foto: Reinaldo Marques/Terra
Desde que nasceu o Planeta Terra tem se consolidado como o melhor festival Indie do Brasil, escolhendo boas datas, horários, locais e, principalmente, boas bandas.
Essa edição de 2011, porém, foi especial. A celebração indie da década passada, depois de muito tempo, finalmente Strokes volta ao Brasil. Mas antes desse show épico muita coisa bacana rolou naquele Main Stage.
A começar pelo White Lies, banda que veio ano passado para evento da Billabong que, apesar de não ser fechado, atraiu pouca gente fora dos convidados VIPs. O estranho é ver como a banda, de um clima mais pesado, intimista, próprio para lugar pequenos e fechados, conseguiu se adaptar ao sol e a um grande publico que não necessáriamente estava ali para vê-los.
Mesmo assim, sempre tem alguns fãs animados que cantam junto e tratam de fazer a banda feliz, levando até cartazes e fazendo Harry agradecer e sorrir.
O show já começou com um hit do primeiro cd: “Farewell to the Fairground”, seguido de Strangers – música que não chama muita atenção quando colocada logo antes de “To Lose my Life”, “Holy Ghost” e “E.S.T”.
As quatro músicas finais, já com o sol baixo, conseguiram animar os que não conheciam tanto a banda, já que eles tocaram seus maiores hits “Death”, “Unfinished Business”, “Power & Glory” e “Bigger than us”. A verdade é que tirando essas duas últimas, todas as outras musicas de Ritual soam como intervalos irritantes entre as músicas melhores do primeiro cd.
No final das contas a banda tocou todas as músicas que deveria, agradando quem estava ali esperando para vê-los, e atraiu um publico razoável pra fora dos brinquedos e das comidas. Mas ainda acho que ver White Lies assim, por melhor que eles sejam, estraga um pouco o clima da banda.
Em seguida veio Broken Social Scene, o verdadeiro hipster do main stage. A gigantesca banda canadense fez, em janeiro, um dos melhores live streams do ano, tocando em NYC no Terminal 5 um show de 23 músicas super animadas. A receptividade do público brasileiro não chegou nem aos pés do pessoal de Nova York. Pouquíssima gente parecia conhecer a banda, e mesmo quem os conhecia saiu chateado por não terem tocado “Anthem for a 17 year old girl”. O set list, apesar de menor, seguiu os mesmos padrões do Terminal 5, começando bem com “World Sick” e “Texico Bitches” (que animaram a platéia), mas depois dessas, por mais que a banda se esforçasse e fizesse o melhor show possível, mais ninguém deu muita bola. O show seguiu com “7/4 (Shoreline)”, ” Fired Eye’d Boy”, “Cause = Time”, “all to all“, “Ibi Dreams of Pavement” e “Kc Accidental”. A banda deixou o palco exausta, depois de tentar por uma hora arrancar mais do que palmas caridosas de um público apático. Ainda falaram “Lembrem-se de que nós somos o Broken Social Scene e de que um dia nós viemos para o Brasil”. Triste ver como uma boa banda, as vezes perde a oportunidade de um bom show por causa do público de festival, eles mereciam um show separado (seja no indie stage ou até mesmo num clube noturno, só eles e os fãs), tenho certeza de que assim toda a energia deles seria correspondida.
Em seguida veio Interpol. O show ficou no meio termo entre o mais ou menos de 2008 no Via Funchal e o épico de ontem a noite do Clash. Um Paul Banks que parecia muito feliz por estar alí, sendo simpático e sorrindo (?!!) várias vezes, agradecendo e falando em português – muito mais amor do que se podia esperar. A banda que ajudou a reviver a vibe pós-punk Joy Division veio só com hits, pesada, muita fumaça e luz azul. “Success”, ótima música do último cd, abriu o show, sendo seguida de “Say Hello to the Angels” (pessoalmente, minha favorita da banda e a que mais gosto ao vivo), que finalmente conseguiu arrancar pulos e coro do pessoal. Ah, sim, nosso indie começo dos anos 2000 dominava aquele Planeta Terra. “Narc”, “Hands away” e “Barricade” vieram em seguida. O Interpol fez bem ao escolher as músicas do novo cd (que não é tão bom assim), selecionando as melhores e que ganham mais energia, peso e densidade ao vivo. A galera pulava e cantava junto, alguns poucos, porém, ainda insistiam em quebrar o clima e ficar emburrado – provavelmente fãs chatos de Beady Eye, que tumultuavam todos os shows. “Evil” foi o momento (pra mim pelo menos) de lembrar QUÃO incrível a banda é, e como o Paul Banks pode seduzir alguém com a voz dele. Antics, definitivamente, é um dos melhores cds da ultima década, e ao vivo então. Só senti a falta de Carlos D dando o poder ao baixo do Interpol. Mas tudo bem, teve o Kassler shaking his legs. Pouco depois veio “Heinrich Maneuver“, única do excelente Our Love to Admire, que merecia uma participação maior no show. “Take you on a cruise”, “Slow Hands” e “Not Even Jail” seguiram o show que foi dominado por Antics. Encerrando com “Obstacle 1“, a banda nos deixou com gostinho de quero mais, relembrando aos esquecidos que aquele festival também era deles e não só dos Strokes. Paul Banks feliz faz show muito melhor, e tenho dito. Só invejo aqueles que viram mais lá no Clash. Pra mim não deu. 🙁
Quando finalmente chegou o momento Beady Eye, foi aquele empurra-empurra de fãs tão marrentos quanto o Liam. Ninguém parecia se importar muito com a banda em sí, eles estavam ali pra ver um Gallagher. Com direito a telão especial pra cada música, o Beady Eye começa um show bem mais ou menos, dividindo o público em dois: fãs do Liam e pessoas que passaram a odiar os fãs do Liam. Pareceu, para quem estava alí, curtindo a vibe indie, que Beady Eye devia ter ficado pra encerrar a noite, permitindo que a atração principal – Strokes – viesse enquanto as pessoas ainda conseguiam se aguentar em pé. Muita gente que estava mais pro fundo aproveitou pra fugir pro enérgico Bombay Bicycle Club (que estava valendo muito a pena). Mas quem aguentou desde as 19h ali em pé na frente pra conseguir ver Julian Casablancas de perto, aguentar alguns “fucks” e hits que quaaaase chegam a ser tão bons quanto o Oasis, mas faltam um pouquinho, não foi tão difícil assim. No final das contas, Beady Eye é o primo pobre do que o Oasis foi um dia. Pra quem ainda estava em cima do muro, sábado ficou comprovado: se alguém precisa de alguém alí, é o Liam que precisa do Noel. Top 10 melhor cd do ano, Beady Eye who?
E então chegou, finalmente, o horário do Strokes. O principal show da noite, como tinhamos chegado até ali? Desde as 16h no sol, desde às 19h em pé, sem beber nada, não há idade que aguente a dor nas costas, e nos pés, e na garganta. Mas nada disso importa, porque assim que eles entram no palco você volta pra 2001 e pensa: “Meu Deus, essa banda mudou meu mundo”. Se metade de um show é a experiência coletiva, o Strokes conseguiu o maior coro de todos. 20 mil pessoas no Playcenter, pulando e cantando TODAS as músicas de cabo a rabo. Não existe momento mais calmo, não existe música que não seja hit absoluto. Angles foi sucesso, podiam ter tocado o cd inteiro que ninguém reclamaria. Muitos sentiram falta de mais músicas de First Impressions of Earth e a prometida “Whatever Happened”. Os erros no telão não eram nada, quem estava reparando nos nomes das musicas. Todo mundo sabia tudo de cor. E o melhor foi ver o público brasileiro reconhecer os seus e logo de cara já gritar “Fabrizio”, que agradeceu timidamente, talvez se sentindo bem menos brasileiro do que o esperado, se confundindo com o português tascando um “Eu te amo”, pessoal e intransferível, pra todo mundo presente. O segundo nome a ser gritado qual foi? Surpresa, ao contrário do que deu na votação relampago pelo twitter da 505, aparentemente a galera curte mais é o Nikolai. Acho que ele nunca se sentiu tão amado em um show, chegou até a usar a bandeira brasileira no BIS. Independentemente de qualquer coisa, foi muito bom ver o Julian em seu melhor, e alegre. E da onde eu estava ele pareceu até mais magro! Acho que os stream europeus adicionaram uns quilinhos que ao vivo desapareceram. Momento épico foi ver o Julian dizendo “Hey you beautiful girls. You know I’m into boys now, hã?” e pouco tempo depois virando pro Fabrizio e dizendo “I love you, oh yes I do. I love your lips, I love your hair” só pra depois rir e se desculpar “Okay, that was borderline awkward”. Teve quem não entendeu a piada, mas eu ri, ri muito. Julian virou Deus no meu dicionário. E nunca uma banda indie foi tão amada e tão idolatrada como naquele 5 de novembro. Remember, Remember. O Dia em que São Paulo parou pra ver Strokes.
fim.
Eu só queria fazer um pequeno adendo ao texto da Anna, que ficou ótimo by the way. Como estava na cara, como era óbvio, os ingressos do planeta terra festival se esgotaram em poucas horas, graças ao The Strokes, se os fãs do Liam correspondessem a 20% do público era muito, eu calculei uns 15% visualmente, 50% estavam alí por Strokes, os outros 30% estavam alí por Strokes e outras bandas ao gosto do freguês. E uns 5% entre as outras bandas que não fossem Strokes e Beady Eye.
Flavio.
You might also like
More from Festivais no BR
Confira os horários e palcos do Lollapalooza Brasil 2020!
Saaaaiuuu os horários e os palcos das atrações do Lollapalooza Brasil 2020 que acontece entre os dias 03 a 05 de …
Lollapalooza Brasil 2020: Ingressos no penúltimo lote, o novo #LollaDouble e as atrações das Lolla Parties
A semana do carnaval está logo aí mas o 505 te lembra que faltam pouco mais de 40 dias para …
Lollapalooza Brasil 2018: festival encontra a conta do equilíbrio com shows memoráveis de LCD Soundsystem e David Byrne
Introdução, Spoon, LCD Soundsystem, Mac DeMarco, Tash Sultana, Liniker e The National por Flavio Testa Oh Wonder, Chance the Rapper, .Anderson …
1 Comment
Depois da uma olhada no post no meu blog, quando li o de vocs lembrei dele na hora pelo comentrio da frase do Julian, “that was borderline awkward”.
Adoro o site!!!