One Day conta a história de Emma e Dexter e sua relação ao longo de 20 anos, sempre através de um único dia: 15 de julho. Como eles se conheceram, passaram por seus altos e baixos, perderam contato para depois se reencontrarem.
Pra quem leu o livro, One Day (o filme) vem como uma grande decepção, apesar da fotografia de Benoit Delhomme ser bonita. Não porque não siga a história do personagem, isso ele faz. O que falta é a alma do livro, o contexto histórico, a ironia, a auto-destruição de seus dois personagens principais, o nível de vergonha alheia e a identificação que todos sentimos ao vê-los errar e se arrepender e ver o passado com nostalgia.
O filme transforma tudo isso num melodrama, com ajuda especial da trilha, que puxa para um romance que ainda não existe. Tudo puxa para um romance que ainda não existe, até mesmo o poster. O mais importante da história é que Dex e Emma não são um casal, eles são amigos, amigos imperfeitos, que erram muito e tem problemas entre eles mesmo, sofrem desencontros.
Emma no livro é uma jovem politizada, meio auto-destrutiva, mas ao mesmo tempo com um lado romantico. Escreve longas cartas e se esforça para ser amiga (ou algo a mais) de Dex. Nós nos identificamos com ela, quem nunca passou por uma paixão platônica e apagou seu eu-próprio para parecer ser o melhor para o outro hipotético? Enquanto isso, Dex é uma mistura entre o perfeito e o odiável, ele é um sortudo filho-da-puta, charmoso, que nos cativa a cada instante, ao mesmo tempo em que faz coisas horríveis com Emma, suas namoradas, seus pais. Você, assim como Emma, não quer amar Dexter, mas o ama mesmo assim, porque é impossível não perdoar seus erros com um simples sorriso.
Os erros do filme vem primeiramente, dessa adaptação que, apesar de feita pelo próprio David Nicholls, não consegue captar bem o espirito que nos faz gostar do best-seller. A diretora Lone Scherfig, a mesma de An Education, parece não conseguir atingir a sensibilidade de nos aproximar dos personagens, não nos sentimos parte da vida deles, não conseguimos saber quais são seus segredos mais ocultos, seus lados mais sóridos (algo muito presente no livro). Mas o roteiro e a direção não são o erro fundamental, e sim o casting. Jim Sturgess, a cada frame, prova sua qualidade como ator, ele consegue envelhecer e rejuvenescer, ser exatamente o tipo malandro e adorável que cheira a decadência, mesmo o filme não mostrando seus piores momentos (ele é o retrato de um herói, conseguindo atingir profundidade apenas por causa da atuação de Sturgess).
Já Anne Hathaway, perto dele, vira uma sem sal, seu sotaque é falso até para quem não conhece bem o sotaque inglês. Ela é bem mais segura de sí do que deveria, não existe a não-sensualidade, não existe o lado desiludido da vida. Anne é tão ruim que perde espaço até mesmo para Ian (Rafa Spall), que deveria ser o verdadeiro pé-no-saco sem graça eternamente procurando atenção, mas acaba sendo alguém afetuoso e de ótimo coração, nem de longe tão asqueroso quanto imaginavamos.
Essa pseudo-romantização tira toda a característica britânica de humor negro que o livro carrega. O filme, apesar de uma produção inglesa, se parece muito com uma comédia água com açucar hollywoodiana. Falta o lado urbano, a Londres decadente. Falta a experiência dos anos 90 com todo seu luxo brega. Não temos tanto a sensação do tempo passando, os sonhos lentamente escapando. Tudo parece mais fácil no filme do que é no livro, não vemos as falhas – o filme acaba sendo menos humano por causa disso.
Se, no final, nos emocionamos e choramos, é tudo devido a Dexter. Ele, que no livro quase sempre ficava na sobra de Emma, é quem ganha o melhor arco dramático. Vemos ele crescer, acompanhamos com olhos caridosos seu caminho nem sempre muito “correto”. Sentimos empatia por todos, Ian, Dex, sua mãe, todos menos Emma – ela acaba sendo apenas uma mulher egocêntrica, o que não é a realidade literária da personagem.
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3 Comments
Caramba Anna, eu assisti o filme antes de ler sua crtica.. e vc acertou em cheio q um filme p no leitores. Eu adorei o filme! rs vou ter q comprar o livro, pq se to melhor que o filme vou gostar muito! Mas com certeza o personagem do Dexter timo, eu gostei da Anne, mas acho q mais por questes pessoais, no acho nenhum trabalho dela ruim! 😛
Menos n gente… A Anne uma boa atriz. Mais isso sempre inevitvel, quem l o livro primeiramente, nunca ir gostar dos filmes. Foram longe demais nas crticas.