Texto Amanda Marques e Flavio Testa
Mais de 40 atrações passaram pelos palcos do Lollapalooza Brasil no último fim de semana, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. O relato completo do festival em todos os detalhes de infraestrutura, público e logística podem ser encontrados neste artigo. Hoje, vamos destacar, exclusivamente, os shows assistidos no sábado, onde BaianaSystem, Cage the Elephant e The xx foram os melhores do dia.
BaianaSystem
“Antropofagia baiana”. Essas palavras que foram repetidas incansavelmente durante o show do BaianaSystem sintetizam bem a vibe da banda, que fez um dos shows mais energéticos e memoráveis do Lollapalooza. Mesmo sob o sol escaldante, cerca de três mil pessoas se reuniram para dançar, pular e principalmente, trocar energia durante o show do Baiana.
Com um setlist consistente que abarcou grandes sucessos como “Lucro: Descomprimindo”, “Playsom”, “Terapia” e “Jah Jah Revolta”, o BaianaSystem fez o público pular que nem a “pipoca” do conhecido Carnaval de Salvador. A mistura de arrocha, hip-hop, samba, reggae, sound system da Jamaica e outras milhares de sonoridades constroem a essência da banda, que é – na falta de palavra que transmita tudo o que foi sentido durante esse show – foda. Russo Passapusso é um frontman que interage com o público fazendo com que o mesmo se sinta parte do Baiana, uma simbiose onde plateia e banda pulsam num ritmo louco e contagiante.
A apresentação da banda no Lollapalooza ainda trouxe a participação de BNegão, que comandou uma roda “punk” gigante durante “Playsom”. Um show visceral de uma banda que consegue retratar vários sons e identidades em uma experiência totalmente única.
Cage The Elephant
Muito se vê, se escreve ou fala sobre as apresentações ao vivo do Cage the Elephant. A banda é conhecidíssima por sua presença de palco e energia, além das loucuras que o vocalista Matt Shultz faz – completamente movido pela música e pelo momento. Ainda assim, nem todo o conhecimento e a ansiedade podem de te preparar para um show do Cage The Elephant, que se apresentou pela terceira vez no Lollapalooza (será que o Matt quebrou alguma coisa?).
Com um setlist bem equilibrado, a banda apresentou seis sucessos de seu mais recente disco Tell Me I’m Pretty, enquanto Melophobia emplacou seis músicas no show. Já Cage the Elephant teve duas representantes e Thank You, Happy Birthday, uma (a belíssima “Shake Me Down”).
Veteranos do festival, o Cage fez um show energético e pulsante, com um público igualmente animado que berrou todos os sucessos da banda em coro. A banda foi inteligente ao tocar músicas vibrantes intercaladas com baladas como “Too Late To Say Goodbye”, que soou quase como uma confissão de Matt, em um momento muito único e cheio de sinceridade.
O Cage The Elephant é uma banda de festivais e precisa ser vista ao vivo para ser compreendida plenamente. Até os roqueiros “mais velhos” que aguardavam ansiosamente o Metallica no Palco Skol se surpreenderam e bateram a cabeça com “Punchin’ Bag”, “Cold Cold Cold” e a clássica “Ain’t No Rest For The Wicked” e receberam de braços abertos o guitarrista Brad Shultz, que se jogou no meio da galera.
Ao final da apresentação, Matt fez sua clássica escalada na torre de iluminação do palco e foi ovacionado por um público em êxtase. Suor, choro, energia e música na sua forma mais pura caracterizaram a apresentação memorável do Cage The Elephant, que pode voltar sempre que quiser.
Tegan and Sara
Conseguimos ver parcialmente Tegan and Sara, que levantou o público com cover de “U-Turn” do falecido George Michael, hits como “Boyfriend” e “Closer” fizeram parte da trinca final matadora das irmãs.
Detalhe interessante de observar é como elas mudaram suas orientações musicais. Se pegarmos o catálogo da dupla, prévio ao disco Heartthrob (2013), notamos facilmente como a sonoridade era bem dependente de guitarra. Hoje a guitarra não é mais utilizada no show. A configuração da banda, ao vivo, inclui dois ou até três teclados / sintetizadores, bateria e, ocasionalmente baixo. Uma das instrumentistas de apoio hora está no sintetizador, hora está no baixo.
A roupagem mais pop e menos indie, é responsável pelo crescimento da base de fãs nos últimos dois discos. Fora isto, tanto Tegan quanto Sara, pegaram a bandeira do Brasil, distribuíram sorrisos e agradaram o bom público que compareceu ao palco Axe, em horário concorrido.
The xx
O palco Ônix é o dono da melhor acústica no Lollapalooza Brasil. Diante disso, a escolha foi certeira em colocar o The xx para tocar lá. A banda inglesa esconde muito do seu tesouro nas nuances, por isso shows a céu aberto podem significar alguma perda.
Não aconteceu.
Um dos melhores shows do festival aconteceu no começo de noite do sábado. O começo foi soberbo, como três músicas que este site queria muito ver ao vivo “Say Something Loving”,”Crystalised” e “Islands”. Tanto a vibe mais orgânica, quanto a mais eletrônica ornam perfeitamente no setlist do trio. E os momentos de maior empolgação como a novíssima “On Hold” e “Loud Places”, cover do discaço solo do Jamie xx, ornam com os momentos de maior reflexão. O final, “Angels”, foi cantado em coro entre os presentes. Um show de muitas emoções e extremamente sensorial. Capaz de introverter e extroverter. Depois desta apresentação veio a certeza que estão entre as bandas mais importantes, criativamente falando, da geração atual. E, discos menos compreendidos, como Coexist e I See You, foram entendidos como fundamentais na discografia. Não existe brecha ou passo mal dado.
Tove Lo
Com uma carreira curta, porém cheia de hits, Tove Lo se apresentou no sábado sem sapatos e pudor. A artista lançou recentemente o aclamado Lady Wood, uma ode ao feminino, e sua apresentação foi uma síntese de seus ideais de uma forma movimentada, divertida e sensual.
Tove Lo envolveu o público com sua voz e energia únicas. Totalmente confortável em sua própria pele, a artista soube utilizar o palco muito bem de uma maneira natural, algo que normalmente não é bem explorado por artistas solo.
Dosando muito bem seu setlist, Tove Lo focou sua apresentação em seu trabalho mais novo, sem deixar de lado grandes sucessos como “Habits (Stay High)”, música que a lançou internacionalmente.
Durante a performance de “Talking Body” a artista dançou e mostrou os seios em um ato sem censura, levando o público ao delírio.
Obviamente Tove Lo é linda e sabe disso, porém sua performance e o disco Lady Wood reforçam que sua beleza e sensualidade não estão ali para agradar ninguém além dela mesma. Uma verdadeira mensagem de empoderamento do corpo feminino. Com muita dança e um clima leve, o show de Tove Lo foi uma verdadeira celebração da alegria que é ser você mesmo.
The Chainsmokers
O duo de DJs bocudos sabem, de fato, como fazer uma festa. Em quase duas horas tocaram seus maiores hits, com direito a remix e mashups de outros artistas como: Alok, RHCP, Blink 182, Tove Lo, Panic! At the Disco, The Killers e o tema do Rei Leão, tudo isso cercado de canhões de fogo e chuva de papel picado, criando a atmosfera festeira de spring break que os americanos carregam. Não pode-se dizer que eles entregam menos do que prometem. Ainda que tenham pausas que poderiam ser encurtadas tanto em quantidade, quanto em duração. Afinal a EDM é muito sobre don’t stop the music.
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