Sempre escutei os versos “a vida vem em ondas / como um mar”, lá pelos idos de 1996, ano em que descobri Marisa Monte, e já escutava a emblemática música de Lulu Santos há um tempo. A ligação que faço entre Marisa Monte e a música gravada por Lulu é que anos depois ao ler Noites Tropicais do Nelson Motta descobri uma ligação circunstancial nestes dois grandes artistas da MPB, Nelson era o descobridor da ultima grande musa da MPB surgida, e compositor de Como uma onda, junto com Lulu. Noites Tropicais tem grande influência na minha paixão pela música brasileira, era um jovem de apenas 18 anos na época e toda aquela história concatenou com o que já havia na minha vida de ouvinte de música brasileira.
Agora, aos 70 anos, Nelson Motta recebe um belo presente da gravadora Som Livre, o projeto Nelson 70, com gravações de suas músicas como compositor. O projeto inclui o disco e uma série que será exibida pelo Canal Brasil à partir de hoje, 29 de Outubro. Além de um ótimo trabalho como jornalista e escritor, além de produtor, este projeto resgata à memória o grande compositor que Nelson é, com a reunião de novatos da MPB e uma geração mais antiga, como a própria pupila Marisa Monte.
O disco abre com outra parceria Nelson/Lulu, Certas coisas, na voz de Lenine, mestre em soltar silêncios nas músicas, e esta é uma música que requer a abstração de qualquer som, e ainda tem a junção poética da harpa de Cristina Braga. O piano de Daniel Jobim e a, sempre, incrível voz de Ed Motta dão o tom para Coisas do Brasil, clássica na voz de Guilherme Arantes. Nós e o tempo, de Nelson Motta / Marisa Monte / César Mendes, é a mais bela do disco e das mais belas canções gravadas na música popular este ano, a canção tem o acompanhamento do gênio João Donato, tudo é impecável nesta gravação de deixar os olhos marejados. O uruguaio Jorge Drexler nos brinda com uma brasileiríssima gravação de Como uma onda, pontuada com uma guitarra dedilhada acompanhada quase em uníssono por sua voz. A portuguesa Cuca Roseta dá o tom de fado para Apaixonada, na linda música de Nelson/Ed Motta. Em seguida vêm duas canções que não se encaixaram muito bem na interpretação, De repente Califórnia bem desconstruída por Céu, e Dancin Days embalada pelo tecnobrega de Gaby Amarantos. Perigosa, com a ótima Ana Cañas totalmente sexy para não dever nada à rainha Rita Lee. Max de Castro dá um bom tom roqueiro oitentista para Areias escaldantes (Nelson / Lulu). Maria Gadú gravou Você bem sabe, música de Nelson / Djavan, esta eu passo. Leo Cavalcanti harmoniza a bonita Ditos e Feitos, música de Nelson em parceria com Roberto Menescal. A primeira composição de Nelson, com Dori Caymmi, fica por conta de Fernanda Takai, com sua voz Nara Leão, num ritmo bossa eletrônica resultando na ótima De onde vens. Silva dá o tom mais indie do disco em Marina no ar. A mais bossa nova do disco, aquela para se escutar de frente para o mar com uma cerveja, Laila Garin e Ipanema Lab dão a onda para Noturno Carioca.
Nelson faz 70 anos e influenciou culturalmente toda uma geração, na descoberta de novas vozes, no que de melhor foi produzido em música brasileira. A melhor palavra que define Nelson para a música nas ultimas décadas é: protagonismo. Viva Nelson Motta.
(o disco já está no iTunes e deverá ser lançado esta semana no Youtube).
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