Os americanos do Pearl Jam retornam ao brasil como headliners do sábado no Lollapalooza Brasil 2018. Como preparativo para esse grande show, analisamos sua discografia do melhor ao pior.
Já fazem quase 30 anos que uma fita demo com 5 músicas gravada por Stone Gossard, Mike McCready e Jeff Ament saiu de Seatlle e viajou até San Diego para encontrar Eddie Vedder, que na época trabalhava em um posto de gasolina. Vedder ouviu a demo, foi surfar e saiu da água com três letras prontas que gravou sobre a demo e mandou de volta para Seattle. Uma semana depois estava formado o núcleo de uma das bandas de rock de maior sucesso e longevidade dos anos 90.
O boom da cena grunge junto com Nirvana e Soundgarden, somado à obra-prima que foi o primeiro disco Ten, catapultou a banda ao mainstream . De uma hora para outra faziam shows lotados todos os dias e eram os queridinhos da MTV. O sonho de toda banda, certo?
Mas toda essa superexposição logo afetou a banda que em pouco tempo se afastou da TV, rompeu com a gigante dos ingressos Ticketmaster e decidiu se focar apenas no que importava, sua música, deixando de lado as práticas mais comerciais.
O que podia ser um tiro no pé, já que a banda gastava um bom tempo fugindo da sua própria fama, acabou por consolidar uma base fiel de fãs. Se não aparecia na TV, o Pearl Jam ainda esgotava ingressos e vendia discos como poucos. (Estima-se atualmente que tenham vendido cerca de 60 milhões de cópias no mundo todo)
O som do Pearl Jam é inconfundível. O vocal grave e potente, com as letras confessionais ou politicas de Eddie Vedder fundem-se às camadas de guitarras, com forte influência do Hard Rock dos anos 70 e punk rock, de Mike McCready e Stone Gossard, o baixo preciso de Jeff Ament e a bateria que encontrou seu dono definitivo com a técnica de Matt Cameron.
Com um catálogo tão grande, os shows da banda são uma experiência única de quase 3 horas, onde cada setlist é escolhido momentos antes, de acordo com a energia que Vedder sente do palco. Podemos esperar uma grande apresentação para a noite de sábado no Lollapalooza 2018.
10º lugar
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Backspacer Lançamento: 20 de Setembro de 2009 Duração: 26:38 Selo: Monkeywrench Produtor: Brendan O’Brien
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Depois de dois discos de folga, Brendan O’Brien voltou para a produção e levou a banda para fora de Seattle, gravando em Los Angeles e Atlanta, o que segundo Mike McCready foi uma boa para tirar a banda da zona de conforto. No lançamento eles fizeram uma parceria com a gigante do varejo americano Target para distribuição física do álbum e a iniciativa dividiu os fãs. Afinal, não era essa a banda que havia enfrentado sozinha a Ticketmaster por anos? Mas os tempos mudam e atualmente se você quer vender discos físicos precisa tentar algo diferente, não é?
Ao contrário do antecessor de 2006, esse disco é mais otimista e mostra um Vedder mais confiante e esperançoso. A banda completava 20 anos, Barack Obama completava seu primeiro ano na Casa Branca e tudo ia bem, infelizmente as canções nem tanto. O single “The Fixer” é sem dúvida a melhor do álbum e só encontra alguma companhia em “Among The Waves” e na balada “Just Breathe”. |
9º Lugar
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Lightning Bolt Lançamento: 11 de Outubro de 2013 Duração: 47:14 Selo: Monkeywrench, Republic Produtor: Brendan O’Brien
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No seu disco mais recente O’Brien mais uma vez é o produtor. Não houve brigas ou mudanças de baterista. A única coisa que atrasou as sessões de gravação foram os compromissos solos de cada integrante. O disco tem uma primeira metade muito forte com as músicas “Sirens”, “Mind Your Manners” e a faixa-título “Lightning Bolt”, mas a coisa perde força na metade final. É compreensível a perda da fúria da juventude, com a maturidade que a banda tem agora. O fato se reflete principalmente nas letras de Vedder sobre o futuro, cheias de clichês que parecem uma certa crise de meia-idade. O Pearl já é uma banda bem estabelecida e com um laço forte com os fãs, não é preciso que o disco seja uma obra-prima para vender, mas bem que eles poderiam se esforçar mais.
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8º Lugar
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Riot Act Lançamento: 12 de Novembro de 2002 Duração: 54:15 Selo: Epic Produtor: Adam Kasper e Pearl Jam
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Um clima mais sobrio é capturado nesse trabalho. As sessões de gravação ocorreram após os ataques de 11/09/2001, da morte do vocalista Layne Staley (Alice In Chains) e do acidente no Roskilde Festival onde 9 fãs da banda morreram, o que influciou o disco passando pela arte criada por Jeff Ament ao fotografar dois esqueletos com coroas e as letras que contemplam mortalidade, a falta de esperança e a depressão. “Estou otimista ainda assim desiludido, esperançoso mas frustrado. Estou sorrindo, mas quem estou enganando?” explicou Vedder. A crítica política também é presente no álbum, especialmente em “Bu$hleaguer” em que Vedder usava uma mascara do presidente George Bush nos show, causando reações controversas do público. “Love Boat Captain” é o grande destaque, em uma alegoria de que não só um barco, mas um capitão é necessário para nos salvar de nossos problemas enquanto sociedade, finalizando que “tudo que precisamos é amor”. “Save You”, inspirada em Layne Staney, é a minha favorita. A banda trouxe Adam Kasper, um antigo engenheiro de som, para a produção e Boom Gasper para os teclados, se tornando o sexto membro do grupo desde então. |
7º Lugar
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Binaural Lançamento: 16 de Maio de 2000 Duração: 52:05 Selo: Epic Produtor: Tchad Blake e Pearl Jam
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Neste trabalho Tchad Blake foi recrutado para a produção especialmente por sua técnica de gravação Binaural. A técnica, que dá o nome ao disco, consiste em usar dois microfones para criar uma atmosfera 3D estéreo. Isso funcionou muito bem para as faixas mais lentas, como “Nothing As It Seems” e “Of The Girl”, mas a banda não gostou do resultado para as músicas mais pesadas e acabou recorrendo a Brendan O’Brien para mixa-las.
Nas gravações, se agora eles colaboravam bem ainda houve outros problemas. Mike McCready teve que se afastar para tratar um vício em analgésicos, a banda se adaptava ao novo baterista Matt Cameron no processo de composição e Vedder enfrentou um bloqueio criativo. Felizmente, isso fez com que Jeff Ament e Stone Gossard colaborassem nas letras. É um disco em que a banda continua experimentando e que cresce com o passar do tempo. “Light Years”, “Insignificance” e “Thin Air” são os maiores destaques. |
6º Lugar
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Pearl Jam Lançamento: 02 de Maio de 2006 Duração: 49:44 Selo: J Produtor: Adam Kasper e Pearl Jam
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Adam Kasper retorna para as sessões de gravação onde a banda chegou sem nenhum material e que levou quase dois anos entre turnês e tempo com as famílias. Vedder também revelou nessa época que seu processo era demorado e precisava da paciência, já que ele escrevia diversas versões da letra para no fim escolher a primeira. Sonoramente a banda traz de volta muito peso e muito dos riffs furiosos do começo da carreira, agora com uma precisão milimétrica que faz todo o disco soar muito bem ao vivo. Vedder reforça nas letras sua visão do mundo pós 9/11, com a administração Bush e a guerra do Iraque, abordando temas políticos em “World Wide Suicide”, “Comatose” e “Army Reserve”, existenciais em “Life Wasted” e “Big Wave”, o mercado de trabalho predatório em “Unemployable” e com as baladas “Come Back” e “Parachutes”. Curiosidade: a música “Inside Job” foi escrita por Mike McCready, sua primeira contribuição com letras, enquanto a banda estava em São Paulo pela primeira vez para shows em 2005. |
5º Lugar
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No Code Lançamento: 27 de Agosto de 1996 Duração: 49:37 Selo: Epic Produtor: Brendan O’Brien e Pearl Jam
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Pela terceira vez O’Brien assume a produção no disco que ele define como um álbum de transição. Gravado em meio a turnê do Vitalogy, a banda era pressionada externamente pela disputa nos tribunais com a Ticketmaster e internamente devido aos conflitos criativos e pessoais. Vedder dominava o processo e o baixista Jeff Ament só foi avisado das sessões três dias depois que elas haviam começado. A coisa chegou a um ponto em que Jeff e Stone pensaram em sair da banda, e graças a O’Brien e o baterista Jack Irons a banda se manteve unida, saindo do processo mais satisfeita do que no começo. O resultado é bem eclético, “Hail, Hail” é aquele rock de garagem sobre o casal problemático, “Off He Goes” é a melhor música do disco onde Vedder mostra uma de suas melhores composições autobiográficas se revelando um “shit friend”, e “Present Tense” transforma qualquer show em um grande karaoke. O álbum fecha com “Around The Bend” que foi escrita por Vedder como uma canção de ninar para o fillho de Irons. |
4º Lugar
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Vitalogy Lançamento: 22 de Novembro de 1994 Duração: 55:30 Selo: Epic Produtor: Brendan O’Brien
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Seguindo com O’Brien como produtor a banda gravou boa parte do disco na estrada e durante as sessões o clima era bem tenso. Foi nesse disco que Edder passou a ter o controle criativo, tomando todas as decisões, inclusive afastando Stone Gossard do posto de mediador. Segundo os membros contam não haviam muitas colaborações e muitas músicas foram compostas 20 minutos antes de serem gravadas. Os problemas de comunicação e discordâncias internas fizeram o baterista Dave Abbruzzese ser demitido logo após o fim das gravações, sendo substituído por Jack Irons (ex-RHCP) e amigo de longa data de Vedder. Vitalogy marca o primeiro disco experimental da banda, com faixas que variam de baladas como “Nothing Man” e “Better Man”, rocks mais diretos como “Not For You” e “Whipping”, e experiências estranhas como “Bugs” e “Stupid Mop” e o hino “Corduroy“. Esse álbum rendeu o primeiro e único Grammy da banda com a punkrocker “Spin The Black Circle” como melhor performance de rock. |
3º Lugar
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Vs. Lançamento: 19 de Outubro de 1993 Duração: 46:11 Selo: Epic Produtor: Brendan O’Brien
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No seu segundo disco o Pearl Jam se encontrou com o produtor Brendan O’Brien, que já havia trabalhado em Blood Sugar Sex Magik dos Red Hot Chili Peppers e produzido Core, dos Stone Temple Pilots. A união foi perfeita, duradoura e o produto final vibrante e barulhento. Aqui Vedder se afirma como um letrista competente abordando diversos temas como a obsessão por armas em “Glorified G”, abuso infantil na balada mega-hit “Daughter”, a violência policial em “W.M.A.” e sua própria relação tumultuada com a mídia em “Blood”. A banda mostrava evolução e se arriscava mais, contando agora com Dave Abbruzzese nas baquetas, enquanto entregava o mesmo vigor do álbum de estreia. O título Vs. representa as batalhas que foram travadas durante a gravação, segundo Stone Gossard contou. Na época a banda já precisava lidar com as altas expectativas e começava a ter conflitos com a mídia, a gravadora e até com os próprios fãs. |
2º Lugar
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Yield Lançamento: 3 de Fevereiro de 1998 Duração: 48:37 Selo: Epic
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No quarto trabalho em sequência com Brendan O’Brien, a banda agora está muito mais madura e confortável consigo mesma. Nessa fase Eddie abre um pouco a mão do controle criativo, permitindo e incentivando que todos tragam suas canções e colaborações. Eles também tiveram mais tempo e paciência no estúdio, resultando em canções muito bem acabadas onde cada integrante mostra seu melhor. O clima saudável se refletiu na volta da banda à TV. O clipe de “Do The Evolution”, feito em animação e co-dirigido por Todd McFarlane (Spawn) e Kevin Altieri (Batman: Série Animada), foi um grande sucesso e deu fim ao hiato de 6 anos sem videos. “Given To Fly” é outro grande destaque do disco, com seu começo calmo e sua explosão de guitarras e gritos, e você pode encontrar ainda um pouco da fúria juvenil em “Brain of J.”, um pouco de calma em “All Those Yesterdays” e uma reconciliação com o passado em “In Hiding”. É nítido que Yield marca a banda como conhecemos hoje, mais segura e ciente de quem é e suas qualidades. Foi durante os primeiros meses da turnê que o baterista Jack Irons foi demitido e deu lugar a Matt Cameron, que viria a fazer parte da formação mais estável e clássica. |
1º Lugar
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Ten Lançamento: 27 de Agosto de 1991 Duração: 53:20 Selo: Epic Produtor: Rick Parashar
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A capa de Ten é a mais icônica da discografia com todos os membros fazendo um High-Five coletivo, conceito criado por Jeff Ament para mostrar a banda entrando no mundo da música unida. Rick Parashar foi recrutado para cuidar do primeiro registro da banda, acompanhado de Tim Palmer na mixagem. Parashar inclusive colaborou com trechos de guitarra, piano, órgão e percussão em “Black” e “Jeremy”. A dupla carregou a mixagem final de reverb o que fez soar como um conjunto de hits de estádio. Todo disco foi gravado em um mês já que boa parte das músicas estavam prontas. Muito do material veio de Stone e Ament que tinha vários instrumentais já gravados com Vedder e McCready chegando para complementar o trabalho. As letras de Eddie tratam de temas como depressão, suicídio e já mostravam uma forte veia autobiográfica na mini-ópera Momma-Son (“Alive”, “Once” e “FootSteps”, que foi B-Side do single “Jeremy”). O baterista Dave Krusen saiu da banda logo após o fim das gravações para tratar o vício em alcoolismo, sendo substituído por Dave Abbruzzese nos primeiros shows. A qualidade das composições foi fundamental para o sucesso do álbum. Soma-se ainda a influência da MTV à época, executando o polêmico clipe de “Jeremy” à exaustão. E assim se fez a grande estreia da banda. Energia, emoções, criatividade e o peso deste trabalho criou uma obra tão marcante que, quase 30 anos depois, ainda permanece atual. Sem ficar datada pelo estilo grunge que representou tão bem e ajudou a difundir a música alternativa no mainstream. |
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