J. Tillman retorna nessa semana para lançar novo disco, I Love You, Honeybear, o segundo sob a alcunha de Father John Misty, também o segundo no guarda-chuvas da Sub Pop e o segundo desde a sua saída do Fleet Foxes, em 2012.
O disco é uma evolução do que já havia sido mostrado em Fear Fun de 2012. Dessa vez, Tillman explora arranjos ainda mais luxuosos, em uma intricada fórmula de parafernalha sintetizada, timbres de saudade e imediatismo romântico. Em alguns momentos o divórcio com o folk é completo e chega mais próximo, caso da faixa “True Affection”, que poderia ter sido gravada pelo seu companheiro de Sub Pop, Washed Out. Em outros momentos ele se aproxima mais ao seus primórdios, de som do campo, como na faixa “The Night J. Tillman Came To Our Apt”, mas sem perder o sentido de luxo dito no começo do texto, encaixando uma orquestração e backings no arranjo. Até certos momentos que fica rockeiro em sua essência, como na visceral, “The Ideal Husband”.
Segundo o Papa John do folk, I Love You Honeybear é um disco profundamente pessoal, Tillman comenta no release da Sub Pop:
“Esse é um disco conceitual sobre um cara chamado Josh Tillman que gasta muito tempo batendo sua cabeça em paredes, cultivando relações fracas com desconhecidos e evitando a intimidade à qualquer custo. Isso tudo serve de combustível para que possa lidar com essa versão que possui de auto-delírio narcisista. No estacionamento de algum lugar ele encontra Emma, que inspira em ele uma visão de vida onde ser verdadeiramente enxergado não é sinônimo de vergonha, mas possivelmente a liberação verdadeira e sublime, criatividade sem restrições. Estas ambições são inicialmente frustradas quando inveja, auto-destruição e outras características charmosas do trato humano emergem.
Minha ambição, além de fazer um som indulgente, cheio de alma e épico no que fosse digno do assunto tratado, era também de endereçar a sensualidade do medo, as forças assustadoras do amor, os prazeres inenarráveis da intimidade verdadeira, e a destruição das prisões emocionais e intelectuais na minha própria voz”
É interessante notar o contraste das costuras instrumentais com o trato das letras, essencialmente diretas e sem truques, ou joguinho de palavras para esconder o real sentido/sentimento do compositor. A mensagem é entregue em diversas ocasiões, seja para narrar situações, expressar amor, ternura, raiva ou desprezo:
“Every woman that I’ve slept with
Every friendship I’ve neglected
Didn’t call when grandma died
I spend my money getting drunk and high
I’ve done things unprotected
Proceeded to drive home wasted
Bought things to win over siblings
I’ve said awful things, such awful things”
Até nos momentos de ironia, fator sempre presente na obra de Tillman, existe um sentido maior de franqueza.
“I may act like a lunatic
You think I’m fucking crazy, you’re mistaken
Keep moving”
Essa é sem dúvidas a obra mais complexa, e mais imediata do artista. Um dos grandes mistérios da música é resolver bem essa equação: como fazer música duradoura ao longo do tempo na paciência do ouvinte versus acessibilidade e identificação imediata com o som. Seria não enjoar e ao mesmo tempo não requerer uma audição longa e enfadonha até que as belezas sejam descobertas. Pop sofisticado. Tillman alcança isso através das variações de estilos/gêneros, quanto na, já tão martelada nesse texto, riqueza de arranjos. É um disco apaixonado e as influências citadas pelo artista, compreendem: John Lennon, Scott Walker, Randy Newman, Harry Nilsson, e Dory Previn.
A identidade sonora e a história contada em I Love You, Honeybear, promete que este disco deve ser tocado muito por aqui, até que o tempo de maturação ideal seja encontrado, e depois disso deve durar entre os favoritos. Mas consigo cravar com segurança, é o melhor disco dele até o presente e muito provavelmente será lembrado entre os melhores do ano. Se nota fosse necessário seria um 9 de 10. Fácil.
E ainda esqueci de citar a gema pop-country lamuriosa: “Nothing Good Ever Happens At The Goddamn Thristy Crow”. Ouça tudo, você vai me agradecer depois.
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