O Unknown Mortal Orchestra lança na próxima semana um dos melhores discos que ouvimos este ano, Multi-Love, pela Jagjaguwar Records. No conjunto é o melhor disco da carreira do trio até a data, e olha que o anterior, II, fez bonito, em 2013. Abaixo, tem o stream completo, via NPR.
O álbum já está disponível para pre-order, incluindo essa versão deluxe e o melhor é que eles entregam no Brasil.
Destaque para as faixas: “Multi-Love”, “Like Acid Rain”, “Can’t Keep Checking My Phone”, “Extreme Wealth and Casual Cruelty”, “The World is Crowded”, “Necessary Evil” e “Puzzles”.
Multi-Love, um álbum muito além da música
“Ela não quer ser um homem ou uma mulher
Ela quer ser o seu amor
Multiamor me deixou de joelhos
Nós éramos um, então viramos três
Mama o que você fez comigo
Eu estou meio louco”
Desta forma o neozelândes Ruban Nielson, dono do Unknown Mortal Orchestra, abre o seu terceiro disco, Multi-Love. Hoje, na música, as pessoas parecem ou transparecem escrever peças de ficção. Você vai entrevistar uma banda e esteja certo de que pelo menos, 3 em 5 oportunidades, você vai ouvir alguma coisa sobre a graça da letra “residir na interpretação e na vida própria que as pessoas dão a ela.” Bullshit. A maioria procura este caminho porque é mais confortável falar de algo distante de si mesmo, não se expor, ser mais abstrato com as palavras. E duvido que alguém não tenha uma vida interessante ao ponto de não ter uma boa história que mereça ser contada, todo mundo tem uma boa história, só precisa saber como contá-la e principalmente tem que estar pronto pra se expor. Um dos meus escritores favoritos de adolescência, que não tenho certeza agora se foi Henry Miller, Ernest Hemingway ou Charles Bukowski, disse uma vez que, enquanto você não colocar as entranhas pra fora, nunca será um escritor de verdade. A mesma coisa serve pra música. Tá certo que na música a dependência das palavras é menor, você pode emocionar de outras formas. Mas também existe pra contar histórias, abre um leque mais completo, justamente quando encaixa letra, melodia e ritmo. E neste mundo de árvores falsas de plástico, quando você descobre boas histórias em boas letras, o disco já é instantaneamente catapultado como favorito.
Semana passada saiu na Pitchfork um perfil de Ruban, relatando a infância e adolescência na Nova Zelândia, incluindo o problema com drogas do pai, que mesmo assim, foi o responsável por dar ao filho sua primeira guitarra e colocá-lo na mais prestigiada escola de artes da Nova Zelândia, a Elam, onde Ruban estudou pintura e conheceu sua esposa, Jenny que era escultora. Já morando nos EUA, o começo do Unknown Mortal Orchestra foi um conto de fadas para qualquer banda dos tempos modernos. As músicas foram gravadas em casa e postadas anonimamente no Bandcamp, menos de uma semana depois, estas canções foram parar em tudo quanto é blog e logo surgiram as gravadoras Domino, Matador e XL Recordings querendo ouvir mais.
A história segue até o evento principal – e tema do disco novo – em fevereiro de 2013, quando Ruban conheceu uma mulher no Japão, em um momento complicado de seu relacionamento com a esposa. Mas em princípio não teria ocorrido nada, foi o contato visual, a troca de telefones e algumas mensagens até que ela foi ver a banda na Austrália, acompanhada de outra mulher. O músico sentiu que seria algo platônico e não uma ameaça para o casamento. Os contatos continuaram por meses, até que Jenny, a esposa, pediu uma selfie dessa tal mulher. Quando a foto chegou ela reagiu com um “wow”, a partir daí quis ser apresentada e o contato entre as duas começou. Logo as cartas se tornaram íntimas, cartas de amor, que a esposa deixou que o marido lesse se quisesse , ele nunca quis, sentindo ser estranha a sensação de saber que a mulher estava ficando íntima de outra pessoa. “Eu não fiquei puto ou chateado. Eu apenas pensei, ‘o que foi que eu fiz?’”
Não demorou pra esposa vir com a ideia de que a mulher estaria se mudando para a casa deles em Portland e que os três + os dois filhos do casal tentariam viver juntos. Maio de 2014.
“Isto é destino. É o que eu deveria estar fazendo. Se este é o fim do meu casamento, então este será o álbum que documenta isto. Existe milhões de forma disto dar errado na minha vida, mas não tem como dar errado para mim artisticamente, enquanto eu manter meus olhos abertos e eu sou corajoso.”, diz Ruban no perfil.
E o resto é história, que eu não vou recontar ela toda, abuse do seu inglês e leia o original, pois está muito melhor contada. Aqui chegamos aonde eu queria apenas. O culhão de se envolver em um caso de poliamor, gravar um disco inteiramente falando da experiência e publicamente admitir isto.
O álbum ganha outro sentido, inclusive a canção “Can’t Keep Checking My Phone”, tem um evento específico contado no artigo.
Se em II, o Unknown Mortal Orchestra fez um dos discos mais excepcionais desta década sobre solidão, em Multi-Love o caminho é inverso, versa sobre lidar com o amor múltiplo. Musicalmente II era um álbum essencialmente lo-fi, minimalista, linha de baixo solitária transbordava sentimento, em Multi-Love o caminho é inverso, hi-fi, camadas, como desconstruí-las, os efeitos estão mais amplos. A psicodelia e o groove sempre estiveram em ambos.
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