José e Pilar é um filme-documentário sobre a viagem do escritor José Saramago pela vida. Dirigido pelo diretor português Miguel Gonçalves Mendes o filme acompanha os dias do escritor com sua esposa enquanto ele terminava o livro ‘A viagem do elefante’, que seria o seu penúltimo em vida, logo após, viria Caim. Mas é muito mais que a documentação de uma vida, é o roteiro de um amor que deu certo. Um amor acima dos erros, banhado por uma amizade e respeito recíprocos. Desde que conheceu Saramago, em 1986, a jornalista Pilar del Río teve nos livros dele todas as dedicatórias a seu favor: O homem duplicado (A Pilar, até ao último instante); Ensaio sobre a Lucidez (A Pilar, os dias todos); As intermitências da morte (A Pilar, minha casa); As pequenas memórias (A Pilar, que ainda não havia nascido, e tanto tardou a chegar); A viagem do elefante (A Pilar, que não deixou que eu morresse); Caim (A Pilar, como se dissesse água).
O filme começa com uma cena de Saramago acenando para uma despedida, em que diz “Encontramo-nos em outro lugar”. Ele sempre foi um escritor pessimista, da vida, das pessoas, das comunidades, do capitalismo, mas também sempre foi um ser apaixonado por esta mesma vida. Até seu último instante podia-se notar a tristeza em sua voz ao ter que deixar este mundo. Não há como não se emocionar durante o documentário inteiro. As passagens são tão marcantes quando as de seus livros. O prêmio Nobel deu a ele um status muito maior ainda e é documentado no filme mostrando as viagens para divulgações de livros, palestras, conferências. Sempre com Pilar ao lado. Em uma das passagens mais belas do filme Pilar está ao lado do marido, este com problema respiratório e muito fraco, em uma apresentação de uma homenagem ao aniversário dele em Madrid, José faz uma observação do mundo e do ser humano de encher os olhos d´água: “Se todas as pessoas boas, se todas as pessoas amante da beleza, se todas as pessoas amante do justo e do honesto, pudessem reunir esforços e oporem-se contra a barbaridade do mundo, o mundo seria capaz de dignificar o Homem ao Ser Humanos que somos. E o mundo, quiçá, poderia ter um futuro” Com todo esse pessimismo real, ele nos confronta, ou melhor, convoca-nos e tentar entender o que somos.
E como eu falei que era um filme de amor acima de tudo, José em sua última conferência em São Paulo deixa esta pérola: “Se eu tivesse morrido antes de conhecer a Pilar tinha morrido muito mais velho do que eu sou.”
Saramago é um autor para ser lido e relido para o resto da vida, até mesmo para entender quando ele diz que “todos os tempos têm coisas boas, todos os tempos têm coisas más, mas como comunidade a espécie humana é um desastre”.
E por fim: assistam a este filme, para, se não souberem, entenderem o que é o amor. O amor a uma mulher, ao trabalho, à escrita, ao tempo, à humanidade e acima de tudo à vida.
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