Beginners, antes de mais nada, é um filme sobre memória. Como lembramos do nosso passado, como repensamos nossas escolhas e como essas escolhas afetam onde estaremos no futuro. Assim sendo, quando o filme começa com a narração de Oliver (Ewan McGregor) nos contando sobre a morte por câncer de Hal (Christopher Plummer em excelente atuação, indicada ao Globo de Ouro de Ator Coadjuvante), seu pai, e como ele, após ficar 44 anos casado e recém-viúvo, decide sair do armário e se tornar gay (não se preocupe, por incrível que pareça isso não é um spoiler), nós imediatamente nos situamos naquele fluxo atemporal da memória. Vamos para o passado e para o presente, e para um passado ainda mais antigo com muita fluidez, como se tudo fosse contínuo, e de certa forma é.
Entre lembranças de sua infância e do casamento de seus pais, a relação com o homossexualismo de Hal (seu engajamento da causa e seu namorado bem mais jovem), a doença e morte do mesmo e a dor de lidar com tudo isso, aparece Anna (Mélanie Laurent). Uma jovem atriz que também tem uma família muito complicada, mas que, ao contrário de Oliver, não consegue ser próxima deles e por isso foge constantemente, nunca parando em um só lugar.
Oliver que até então era alguém muito solitário passa a questionar suas escolhas amorosas e as escolhas que todos fazemos na vida. É um filme sobre possíveis arrependimentos, também. Oliver vê como seu pai por 44 anos deixou de ser quem realmente era, e como somente perto da morte conseguiu ser feliz. Oliver não quer isso e acaba se aproximando mais de Anna.
E já que estamos categorizando os acontecimentos, esse é um filme de solidão. Personagens que estão perdidos em sua diferenças geracionais, em sua busca pela sexualidade e mais do que isso, por sua identidade. Personagens isolados que, aos poucos, vão tentando encontrar o jeito menos doloroso de se abrir para o mundo. O jeito de Oliver acaba virando também o recurso estilístico mais interessante usado pelo diretor Mike Mills: o desenho. Oliver é um designer que usa contantemente de fotos e desenhos para ilustrar o que diz (seja como marca do tempo ou de sentimentos muito difíceis de se dizer em voz alta). Tudo isso não vem por acaso. Essa é a história pessoal de Mills, também um designer que virou cineasta, e de seu pai.
O filme, no final das contas, é muito delicado, silêncioso, sutil em suas atuações e nuances, muito afetuoso, seja pela maneira meio borrada das memórias, seja pelo leve tom mágico dado pelos desenhos e por Cosmo, um cachorro que expressa (através das legendas) seus pensamentos, o filme vai, de fininho, te conquistando e te emocionando, levíssimo, finíssimo. É uma pena que tenha passado batido por tantos, por tanto tempo. Ainda bem que a maratona Globo de Ouro nos fez olhar um pouco mais de perto esse filme.
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