Elizabeth Le Fey é mais conhecida por ter participado do Foxygen, ela é a backing vocal que aparece no clipe de “San Francisco”, ex-membro de turnê e namorada de Sam France, o coração do Foxygen e a outra metade, Jonathan Rado é a cabeça.
No final de julho Le Fey entrou no meu radar, após publicar um post impulsivo citando coisas sobre o dia-a-dia da banda, que em suma traduziam de uma forma bem aberta a estrutura interna do Foxygen. O que deixou a impressão de uma físsura na banda.
O tempo passou, eu passei quase um mês como espectador de tudo isso. Descobri que ela mora em Olympia, terra de bandas fantásticas como: The Go Team, Bikini Kill, Beat Happening, The Microphones, Old Time Relijun e até o Gossip (não tão fantástica). Então quando o poeira baixou eu resolvi chamar Le Fey para uma entrevista e ouvir mais sobre ela, trazer o background de alguém que no mínimo meteu um cheque na ordem. E isso me atraiu.
Com o tempo algumas coisas que ela falou se provaram verdadeiras, como por exemplo o disco que ela grava com Sam France. Aliás, o twitter do Foxygen foi tomado por Sam France, que neste momento parece muito mais um membro do Globelamp. Os tweets burocráticos de Rado foram trocados por tweets apaixonados – pela a amada e pela vida – de France.
Mesmo sem nunca ter ouvido um trabalho de estúdio do Globelamp, eu achei que tínhamos uma história interessante por aqui. Casou a franqueza de Le Fey com o meu apreço por um dos discos mais relevantes que ouvi este ano, We Are the 21st Century Ambassadors of Peace & Magic do Foxygen.
Além do seu trabalho com o Foxygen, você tem duas bandas: Meowtain e o Globelamp, você consegue nos dizer onde seus projetos estão neste momento e o que vem a seguir?
O Meowtain está parado.
Eu estou terminando o disco do Globelamp com o Sam France e escrevendo material para o próximo disco. Eu toquei esses tempos no Sofar Sound Festival em Seattle e provavelmente faremos um show com o Globelamp em Olympia no próximo mês.
OK. Então primeiro o futuro, me fale sobre este álbum com o Sam France que vocês estão gravando?
Nós começamos a gravar em novembro de 2012, antes de fazermos a tour com o of Montreal. Nós ficamos em WoodstocK, Connecticut por um mês com o nosso amigo Justin (baixista do Foxygen), é a cidade natal dele. Ele tinha um lugar que nós poderíamos alugar e então preparamos um estúdio em um pequeno lugar que estavámos morando, era como uma pequena cabana. Nós tínhamos acesso a igreja que Justin frequentava porque o pastor lhe deu a chave, então nós íamos para lá tarde da noite, algumas vezes gravando no órgão da igreja. Ao mesmo tempo começamos a gravar o disco do Globelamp, a banda de Justin, Crumbs, estava gravando em Woodstock também. Nós entramos em turnê novamente por alguns meses e voltamos a gravar em maio e junho. Sam saiu em turnê em julho por um mês e infelizmente quebrou a sua perna em um show. Ele está se curando agora e nos voltamos a gravar e finalizar o disco em Olumpia. Nós fizemos tudo por nossa conta e tem sido meio que um esforço porque não tivemos qualquer ajuda, é o que também tornando isto muito especial, eu acredito que o disco vai ficar demais. Enquanto escrevo isso estamos gravando um cover de David Bowie apenas por diversão.
Qual música do Bowie vocês estão gravando?
Velvet Goldmine.
Tem alguma data marcada para o lançamento?
Ainda não. Final deste ano, ou início do próximo. Nós vamos saber quando terminar a masterização.
Será lançado como Globelamp? Quem são os membros e quais os seus papéis na banda?
Usualmente apenas eu. Eu toco os instrumentos e algumas vezes meu amigo Colin Pleasants tocar violino comigo ou Sam toca bateria e canta como segunda voz. Eu gostaria de criar uma formação de banda e estou trabalhando nisso. É complicado coordenar isto já que estive muito tempo em turnê com o Foxygen e gravando, não tive tempo ainda para ensaiar as músicas com outras pessoas. Sam toca piano em algunas partes, trompete, bateria e revezamos no tamborim. Em algumas músicas eu tive ajuda também de outros amigos, como Joel Davenport da Meowtain, ele toca baixo na música “Constant is the Calling”. Colin Pleasants toca violino nessa mesma faixa.
Como você define o som? Alguma referência que você citaria?
Um folk encantado da floresta algumas mixadas com reverb e guitarra. Trompetas do planeta Netuno no meio de vozes do além.Nós tentamos diferentes técnicas de gravação em lugares diferentes, em um gravador cassete de 8 pistas. Nós experimentos com diferentes sons e usamos objetos aleatórios de instrumentos como carrilhões de vento ou blocos de madeira. Acredito que traz um toque íntimo ao som. A inspiração é o disco Mirrors do Bright Eyes e músicos como Neutral Milk Hotel, Jefferson Airplane, Kate Bush, Mazzy Star, David Bowie, Syd Barrett, Jenny Lewis. Talvez mais que eu esteja me esquecendo. Eu queria fazer soar dreamy e todas as músicas são algum tipo de história.
Você é de Olympia, que tem historicamente uma cena muito rica, Como a sua cidade te influencia como artista?
Eu sou na verdade de Dana Point, California, que fica em Orange County e na praia. Músicas como “Gypsies Lost” são inspiradas por minha vida em Dana Point e a partida em direção ao norte. Quando criança eu morei em várias partes do Orange County e em Los Angeles. No entanto, a maioria das músicas que eu escrevi foram em Olympia. Eu me mudei pra cá há alguns anos atrás, porque eu sempre me interessei pela cena musical, comunidade e a natureza daqui.
E quem você conhece das grandes bandas de Olympia?
Eu conheço o Calvin Johnson do Beat Happening e dono da K Records. Eu conheço o Arrington de Dionyso que era da Old Time Relijun. Eu realmente gosto da Kimya Dawson, que mora na cidade, mas pessoalmente eu não conheço ela. Eu participo de um videoclipe dela “Solid and Strong”, que foi gravado em uma piscina fechada aqui em Olympia.
Calvin Johnson é uma lenda. Como é o cara na vida real atualmente? Alguma história legal/curiosa para nos contar?
Ele é um grande cara e continua fazendo o que sempre fez. Foi bem engraçado quando eu toquei piano para ele no museu de Washington enquanto ele cantava o hino do estado. Eu acho que nós não sabíamos o que estávamos fazendo lá e eu estava bem nervosa. Eu fui estagiária na K Records na época que ele precisava de alguém para traduzir as partituras de piano para ele e no final acabou que eu toquei com ele e Lois Maffeo. É talvez umas das histórias mais aleatórias e bacanas que eu já tive.
Pelo o que acompanho do seu trabalho eu percebo uma inclinação de artista orientada pelas emoções, isso é bacana. Tanto fora quanto dentro da música. Você acha que lidar com as coisas emocionalmente pode complicar o seu trabalho dentro da indústria?
Eu acho que potencialmente pode complicar as coisas com a indústria, se não for lidado da forma correta, mas em última instância eu acredito que as pessoas gostam disso porque tornam as coisas mais relacionáveis e mais humanas.
Sim, eu digo que os artistas são feitos para dar vazão ao coração e emoções, mas também é necessário desempenhar o jogo do mundo dos negócios para chegar lá…
Você acha que existe pessoas na cena indie que estão no jogo por outras razões que não a música e a arte? Por que?
Provavelmente. Eu quero dizer que se você está nessa fazendo música ou arte você tem que gostar do que está fazendo, mas em alguns casos a imagem que as pessoas passam sobre isso é falsa se comparado ao que de fato elas são. Como por exemplo alguém que vende a imagem hippie folk de compositor mas é na verdade um bundão na vida real. Então sim, eu acredito que existe muita falsidade em qualquer cena, seja ela mainstream ou indie.
E como foi a experiencia de estar em uma buzz band como o Foxygen para você?
É algo que você quer para sua vida? (tirando a parte ruim que rolou)
Foi muito divertido fazer turnê pelo país inteiro e pela Europa com os meus amigos no Foxygen. Eu aprendi muito sobre coisas diferentes como por exemplo desempenhar um papel secundário em uma banda (eu sempre toquei e cantei nos meus projetos) e como colaborar com os outros. Mesmo que muito estressantes em alguns momentos, como na Europa quando nós mal tínhamos tempo para comer ou dormir, ainda assim foi bem excitante. Eu não sei se quero fazer parte de uma buzz band, mas definitivamente quero continuar a fazer música e turnês. É a minha paixão.
Depois do seu post no tumblr como foi? Eu percebi algumas reações bem maldosas como o tweet do baixista do Unknown Mortal Orchestra direcionado a você.
Sim está tudo bem comigo, eu recebi uma pequena quantidade de repercussão negativa, mas também recebi muito apoio de pessoas que sequer conhecia. Muitas mulheres me contactaram para dizer que elas também passaram por cenários parecidos e gostaram do fato de eu ter contado a minha história e de como eu fui corajosa. Eu tento focar nas coisas legais que as pessoas falaram para mim. Tudo que eu estava fazendo era contar a minha experiência de turnê, mas rapidamente começaram a criar histórias falsas como por exemplo o fim do Foxygen, coisa que eu nunca disse. O cara que mandou esse tweet lastimável dessa banda que você citou deveria cuidar um pouco mais do que ele fala, eu sei tanto muita coisa da banda dele que ele provavelmente não gostaria que se tornasse público.
Você disse: “Muitas mulheres me contactaram para dizer que elas também passaram por cenários parecidos e gostaram do fato de eu ter contado a minha história e de como eu fui corajosa”. Você vê isso como reflexo do machismo na música?
Eu não tenho certeza mas talvez estas mulheres se identificaram com cenários onde existe a predominância de homens e como você se sente ao não conseguir se expressar ou como quando não existe compreensão sobre o que você é. Eu acredito que a cena musical é dominada por homens, isso com certeza.
E os caras do Foxygen que você é mais próxima, Sam e Justin, eles entenderam sua posição?
Sim, eles são grandes amigos que sempre quiseram que tudo fosse bom para todo mundo.
5 discos que você está escutando?
Mazzy Star – She Hangs Brightly
Bright Eyes – Cassadaga
The Growlers – Are You in Or Are You Out?
Agent Ribbons – Family Haircut
The Zombies – Odessey and Oracle
O que você sabe sobre música brasileira, pensa em vir pra cá algum dia?
Eu amo Os Mutantes e Tom Zé. Eu adoraria conhecer mais da música brasileira. Eu definitivamente quero ir aí algum dia.
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