
Nick Cave se apresenta no sábado de festival. / Foto: Dani Canto
Escrevi sobre a quarta-feira e quinta-feira do festival aqui. Sobre a sexta-feira aqui. E eis que chega o último dia do festival, ao menos no Parc Del Fòrum. E o dia da medalha de ouro e bronze respectivamente representados por: Nick Cave & the Bad Seeds e My Bloody Valentine. A prata fica com o Deerhunter.
Sábado de Nick Cave e My Bloody Valentine
A esta altura já chegavámos ao festival com estamina pela metade. Este era o dia que deveria rolar Rodriguez, que cancelou de última hora, aliás os cancelamentos do festival foram algo relevante e digno de nota, além de Rodriguez cancelaram: Fiona Apple, Foxygen, Diiv, FIDLAR. No lugar entraram: Django Django, Doldrums e Phosphorescent. Balança negativa, mas o festival é gigante em atrações e pode até chatear, mas não diminui a experiência.
A primeira atração do sábado foi o Melody’s Echo Chamber, em show bombado no palco da Pitchfork. Peguei o show já na segunda metade. E não posso comentar tão bem quanto a atração que veio a seguir: Mac DeMarco. Pode levar o Mac para o Brasil. Showzaço, o cara é divertido pacas, o set conta com um surf/garage californiano. Bem humorado o tempo inteiro, uma banda good vibe na essência, o baixista é outra peça. Na música “Viceroy” que é sobre: “o cigarro especial fumado no Canadá e leste da Europa”, como disse o Mac, voou dezenas de maços no palco. Sim, a galera comprou o cigarro para jogar nos caras. E o baixista manda: “Where is the lighter?”. E então voa mais uma dezena de isqueiros no palco. HAHAHA. E os caras começam a fumar. Em outro intervalo, o baixista começa a berrar coisas incompreensíveis. Mac manda com aquele ar de good vibe: “good festival, and this sea behind us, I hope you enjoy our set and all the festival as well”. Não tem como ser diferente, um dos melhores shows do festival, interação forte com a galera, no final rolou até crowd surfing, misturadas em belas composições esta é a marca da banda.
A seguir veio o show do Dead Can Dance, outro ato meio deslocado do festival, mas com grande apelo cult no público. Não é algo da minha esfera de sons favoritos, mas é algo que deveria ser assistido, foge do lugar comum.
Daí para o ATP stage, aonde rolaria o Thee Oh Sees, mais um GRANDE show no festival. E rolou uma treta do vocalista com os seguranças do palco, que aparentemente estavam tentando segurar o ímpeto da molecada enfurecida. O show foi ameaçado duas vezes de parar por causa disso, mas não parou. Faz parte do show, “Strawberries 1 + 2”, “I Was Denied”, “Minotaur”, foi um pouco deste show visceral, emblemático, hipnótico.
A seguir viria Nick Cave and the Bad Seeds, hora do coração parar pela segunda vez. Eu comentei shows ótimos até aqui, como: Deerhunter, Blur, Dinosaur Jr., Chris Owens, Thee Oh Sees, The Knife e outros. Mas Nick Cave está em outro patamar, está um degrau acima, está um degrau acima de qualquer outro show do festival, incluindo My Bloody Valentine que viria a seguir neste palco. Acredito que Nick Cave se encaixe na casta dos maiores shows do mundo, lugar que pertence a poucos como: Rolling Stones e Bruce Springsteen. É o Elvis Presley dos tempos modernos. Como ele mesmo gosta de falar e reverenciar na música “Tupelo“, na verdade é melhor para o meu paladar, noir, sombrio, talvez a maior figura viva da música nestes tempos. Novamente eu cantei quase tudo, mas em voz baixa, reverenciando o palco e a voz de Cave. Show da vida. O maior de todo Primavera Sound 2013, sem sombra de dúvidas.
Não basta seu coração parar uma vez, para parar pela segunda vez no mesmo dia e no show do My Bloody Valentine e a barulheira violentamente linda de Kevin Shields. Meu coração já parou na primeira música, “I Only Said”, seguido de “When You Sleep” e “New You” a minha favorita do novo álbum, ao lado de “Wonder 2“, que não tocaram. Sempre tinha ouvido falar que o show do MBV é alto, mas é ver para crer, totalmente hipnótico, toma conta de qualquer um que presenciar, conquista a todos. O show do Hot Chip que viria a seguir parecia estar com o volume a meia bomba (quando na verdade era o My Bloody Valentine que estava a duas bombas).
Mas eu não ligava para mais nada, só queria ir para a casa. Acabou por aqui.

Hot Chip fecha a noite de sábado no palco Primavera. / Foto: Eric Pamies
Mais ou menos acabou por aqui, porque no domingo ainda fui assistir o Deerhunter pela segunda vez, agora indoor, na Sala Apolo. Bradford Cox estava sem personagem, com calça jeans e camiseta velha. Set mais desgrenhado, mais violento. Deerhunter é vida e às 3h da manhã de segunda-feira, oficialmente acabou o Primavera Sound para mim. Certamente, até o ano que vem.

Deerhunter se apresenta na Sala Apolo, domingo, no Primavera Sound. / Arquivo Pessoal
Para fechar essas 5000 palavras sobre Primavera Sound, não deixe de salvar uma grana e comparecer futuramente, seja neste festival ou outros de grand slams, é uma experiência completamente diferente do que estamos acostumados por aqui. A organização é infinitamente superior, a infra-estrutura é muito superior, tanto do lado de dentro do festival, quanto do lado de fora para chegar até ao festival, os acotovelamentos quase não existem, mesmo na frente o espaço entre uma pessoa e a outra costuma ser minimamente digno, a comida é mais justa, filas tanto nos bares, quanto nos banheiros muito raramente existem, a bebida se paga diretamente no bar, torneiras para lavar as mãos na maior parte dos banheiros e principalmente as atrações são mais fartas, não são colocadas no conta-gotas, ao ponto de ninguém precisar guardar lugar no Pearl Jam e acontecer a bizarrice de ninguém poder atender o Pelle Alqmvist e não poder sentar porque tá todo mundo espremido no mesmo lugar. Parei por aqui. Mas todo o fã de música merece ser bem tratado, seja qual for sua nacionalidade e hoje o Primavera Sound proporciona isso. O Planeta Terra é o que chega mais perto, digo tratar melhor o público, em termos de Brasil, mas é café pequeno ainda, se compararmos no sentido de grandeza.
TOP 10 SHOWS:
1. Nick Cave and the Bad Seeds
2. Deerhunter
3. My Bloody Valentine
4. Blur
5. Christopher Owens
6. Parquet Courts
7. Thee Oh Sees
8. Dinosaur Jr.
9. Tame Impala
10. Mac DeMarco
You might also like
More from Resenhas
Todo dia é sábado para Foo Fighters e Queens of the Stone Age em Curitiba
As nuvens carregadas dos céus curitibanos ornavam com as camisetas pretas dos fãs de rock que se aglomeravam na Pedreira …
Daughter encerra passagem passagem pela América do Sul com show “no ponto” em Porto Alegre.
Fugindo um pouco do estilo tradicional de cobertura de shows onde costumamos examinar e detalhar em um texto corrido detalhes …
Orc, Oh Sees e seus 20 anos
O prolífico John Dwyer certa vez definiu os seus projetos como resultados de uma forte relação de comprometimento com as …