Mogwai se apresentou sábado (12) no SónarHall / Foto: Fernando Borges – Terra
Depois de muita antecipação, o Sónar São Paulo veio e desde já espero que tenha vindo para ficar, anualmente de preferência. Antes de partir para os shows em si, vou falar sobre o festival de uma maneira geral, mas como deu pra ver pelo começo do texto, eles acertaram mais do que erraram.
Começarei pelo principal ponto positivo porque começar detonando algumas coisas não ia pegar bem. O principal atrativo era algo que já havia dito e vou repetir, foi o melhor line-up de um festival brasileiro que já vi, um investimento (com conhecimento, o que é essencial) gigantesco para trazer tanto os expoentes atuais, como Flying Lotus, quanto medalhões como Kraftwerk (posto que pertencia igualmente a Björk antes do cancelamento). O grande problema foi que esse investimento em tantos nomes interessantes pode ter gerado o que foi, na minha opinião, o maior erro do festival, a divisão de horários. Claro que muitos podem ter achado a divisão boa, seja por conhecer alguns artistas que caíram separados ou terem comparecido simplesmente pelas atrações principais, mas para aqueles que acompanhavam bastante a grande maioria do line-up, ou tentou pelo menos, os horários geraram conflitos muito “tristes” ou seja lá qual palavra explique melhor a sensação. Até aí tudo bem, dividindo todos os horários com carinho dava pra chegar a um consenso e priorizar alguns, meia hora de outros e minutos de mais alguns. Infelizmente não foi o que aconteceu devido ao atraso de alguns palcos, seja pela falta de público, coisa que deve ter acontecido no segundo dia, principalmente pelo show do Za!, que abriu o SonarHall no dia 11, com no máximo 10 pessoas assistindo, e no segundo dia gerou um atraso de mais de uma hora para o início do show do Psilosamples no dia 12, mas que já estava com um público razoável. Com todo esse atraso e correria, o meu “planejamento de horários” pro festival foi por água abaixo, os 45 minutos de Flying Lotus e 45 minutos de Mogwai também, afinal os dois começaram juntos.
Deixando o relógio de lado, o Sónar mandou muito bem na escolha do local, espaços amplos que não dificultaram muito a movimentação entre os palcos, com exceção daquela passarela que levava do Village ao Club, que em momentos ‘entre shows’ ficava lotada, talvez até por culpa do público que fazia questão de parar ali pra conversar e tirar fotos, mas aí não é culpa da organização. Os palcos também foram muito bem montados, passei a maior parte do tempo no SónarHall, ou como eu chamava lá, o “teatrinho”, com uma acústica excelente, boa visão de vários lugares e mais bonito no geral. No Village vi pessoas reclamando da grama artificial ser escorregadia, mas não tive problemas com isso. Já o Club era enorme e também oferecia uma boa visão pra todos apesar do problema de não ter muitos banheiros por perto, mesmo sendo o palco que iria receber os grandes públicos.
Como eu cheguei bem cedo aos dois dias, antes dos portões abrirem, e já tinha retirado meus ingressos, não presenciei o tão falado problema pra retirar o ingresso na hora, mas prefiro nem falar nada sobre isso, afinal, deixar coisa pra última hora é tão brasileiro que deveria ser um problema previsível. Quanto aos preços praticados, pra quem freqüenta shows e festivais, sabe que é um roubo, mas não tem muito que reclamar mais uma vez, visto que já era previsível. Também vi muita gente reclamando da cerveja Miller, que pessoalmente eu gosto, mas existiam outras opções de bebidas para os que não estavam satisfeitos de qualquer maneira. O que não dá pra deixar de reclamar é que pagar 10 reais naquele pedaço de pizza fino e sem gosto ou no tal cachorro quente (fui na pizza só em último caso) é meio triste, podiam caprichar igual o UMF 2011, com restaurantes variados (e bons) e preço parecido.
Agora indo ao que interessa mesmo, os shows. Como já disse, perdi alguns devido a toda bagunça nos horários, o que não me possibilitou seguir meu cronograma. Apesar de perder apenas dois shows que queria ver (e já iria ver pouco, mas enfim), que eram Cut Chemist e Modeselektor, apesar de ficar chateado na hora já consigo relevar, devido a qualidade dos que consegui ver por inteiro.
Explicar ou fazer reviews de shows é algo tão pessoal que não é uma tarefa fácil, é o tipo de espetáculo que não pode ser explicado com palavras, apenas vivenciado por aqueles que compareceram. Bom, deixando o papo furado de lado, alguns dos shows que presenciei estarão na minha “lista de melhores shows que já vi” com toda a certeza. Alva Noto e Ryuichi Sakamoto talvez tenha sido o melhor momento do festival, era a essência do que todo esse rótulo de ‘música avançada’ significava na visão do Sónar. Um show intimista, onde, como havia dito, o silêncio é seu melhor amigo e para minha surpresa foi exatamente o que aconteceu. Um público extremamente respeitoso, pelo menos próximo de onde fiquei, logo na frente do palco, que manteve o silêncio durante a apresentação e aplaudiu muito entre cada canção, proporcionando até um bis, coisa que não vi durante o festival todo, e uma experiência única e muito rara de se encontrar no Brasil, quem viu deve se orgulhar disso. Outros shows que me surpreenderam, cada um de sua maneira, foram o do KTL, com uma, duas, vinte ou mais músicas, afinal, drone/ambient/noise e derivados não precisam nem se dividir em músicas, é uma pancada só do começo ao fim e o KTL soube fazer isso com muita eficiência, mesmo com um público pequeno, e também o show do DOOM, que apesar de ser picotado pela produção (assim como o KTL foi, por sinal, e até consegui ver o pessoal da produção nos dois shows pedindo pra acabar), foi um excelente show, com músicas de vários de seus inúmeros projetos e com o público colaborando, de outra maneira, claro, para tornar o clima ao redor do palco Village muito intenso. O show que encerrou o Sónar pra mim foi o do Squarepusher. Talvez pra quem esperasse ainda ouvir algo dos álbuns antigos tenha sido meio decepcionante, mas eu sabia que era isso o que ia rolar e aproveitei muito. O Ufabalum funciona muito bem ao vivo com os visuais que ele adotou para a turnê. O mais interessante foi ver a maioria do público dançando de uma maneira muito desleixada, ao contrário do que deve ter acontecido nos shows mais acessíveis do festival, levando o termo IDM bem a sério, sem preconceitos com qualquer tipo de dança bizarra, a minha inclusa.
James Blake no SónarHall foi um show extremamente satisfatório, público mais uma vez colaborou com o silêncio nas músicas mais calmas e soube gritar na hora do barulho, além de claramente deixar o próprio James Blake sem graça às vezes. Dos outros shows ‘grandes’ que vi, a maioria foi por meia hora, e sendo assim não posso falar muito sobre os mesmos, apenas dizer que foram muito bons enquanto duraram no meu cronograma. Kraftwerk eu já tinha visto e devo dizer que a experiência 3D aumenta e muito a amplitude do espetáculo áudio-visual da banda, sendo, mesmo que por 30 minutos, muito superior ao show de abertura para o Radiohead em 2009. O maior pecado pra mim foi ter que dividir Flying Lotus e Mogwai meio a meio, até porque o Mogwai estava lotado e sofri pra ver metade do show com o pessoal de pé nas cadeiras interrompendo a visão, mas no fim das contas fez meu respeito pela banda crescer muito mais, uma vez que são muito mais intensos ao vivo do que ouvindo os CDs (eu sei que isso é óbvio, mas é bom constatar). Flying Lotus surpreendeu também, apesar de no início estar meio receoso sobre o que ele iria tocar. Soltando coisas como Beastie Boys e Radiohead no meio do seu set, além de músicas do novo cd, que segundo ele sai “lá por outubro ou alguma coisa assim”, se tornou uma grande surpresa e criou um clima muito interessante no Village, além de ter descido para a pista cumprimentar todo o pessoal que estava na grade, mimos para um festival menor e mais intimista ao contrário dos grandes festivais que estamos acostumados.
Outros dois artistas que acho muito justo comentar sobre, são o SILVA e o Za!. O primeiro eu escutei poucos dias antes do Sónar e tive certeza que queria ver e o show me surpreendeu muito, de uma maneira bem positiva. Conseguiram, assim como a banda do James Blake, transferir todo aquele som para os respectivos instrumentos. E com exceção de um ignorante qualquer gritando ofensas ao fim de cada música (não se preocupem, fiz questão de xingar o mesmo), o público também pareceu se interessar muito pelo som deles, e com certeza estarei esperando por mais lançamentos. Já o Za! Sofreu por tocar muito cedo e no primeiro dia, estava lá (mais empolgado do que deveria, talvez) com mais alguns amigos e um monte de gente da produção arrumando coisas ainda, mas o show foi tão bom quanto eu esperei, experimental, intenso, incluindo um passeio do baterista pelo público e jogando o prato da bateria na pista, o que só foi possível pela falta de público talvez, mas que eu achei muito divertido.
E da mesma maneira que coloquei no começo, os pontos positivos com certeza superam qualquer ponto negativo que tenha ocorrido, o festival foi um sucesso, o público foi excelente (não em quantidade creio eu, mas em qualidade principalmente) e eu fico muito na expectativa para um Sónar 2013, realizando alguns sonhos novamente, de ver certos artistas ao vivo, de vivenciar toda essa experiência, principalmente ao lado de bons amigos, que torna tudo ainda melhor!
Mogwai – Sonar SP 2012
Alva Noto e Ryuichi Sakamoto – Sonar SP 2012
Flying Lotus – Sonar SP 2012
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