
Deerhunter faz o grande show de quinta-feira no Primavera Sound / Foto: Xarlene
De volta ao Brasil. Esse texto deveria entrar ontem, quando cheguei ao Brasil. Mas ontem foi dia de hibernação. Praticamente 24 horas de sono para se recuperar da semana passada, que começou na quarta (na verdade bem antes, mas para o blog só interessa de quarta para frente), e foi mais ou menos desta forma:
Quarta-Feira não precisa pagar nada
Chegamos por volta de 16 horas da quarta-feira no Parc Del Fòrum em Barcelona, local aonde acontece o Primavera Sound. O primeiro passo é a retirada das pulseiras e cartões de acesso ao festival. Tudo tranquilo, sem filas, o tramite necessário está funcionando desde segunda-feira, o que evita filas desnecessárias, basta se programar. Mas ainda existia um apelo extra para chegar na quarta-feira, pois aconteceria shows gratuitos para qualquer um assistir dentro do Parc, tendo ou não tendo comprado ingressos para os dias seguintes e que consistia em: The Bots, Guards, The Vaccines e Delorean. Os primeiros shows em modo open-air da edição 2013, já que desde segunda vinha rolando shows em clubes e bares espalhados pela cidade.
O lugar escolhido dentro do Parc, para este primeiro dia, é o palco Ray Ban que tem o mar de fundo e existe uma espécie de auditório ao ar livre. Muito bonito.

Palco Ray Ban / Arquivo Pessoal
A banda The Bots, um duo de moleques de uns 15 anos abriram o palco, com uma boa pegada, mas a afobação de garotada fazia eles se perderem no ritmo, e o som parece por vezes atropelado, as composições também ainda precisam evoluir. Por cerca de 40 minutos, fiquei sentado no auditório com um amigo brasileiro que viajou comigo para Barcelona e mais dois amigos australianos que conhecemos no hostel em que ficamos. Às 20 horas ainda é dia em Barcelona e pontualmente – aliás pontualidade é constante em TODOS os shows por aqui – entrou o Guards banda americana que fez um debut divertido este ano, intitulado In Guards We Trust. No set tocaram o álbum inteiro praticamente, a banda tem uma formação interessante com uma tecladista gata-estilinho na frente do palco e o guitarrista/vocalista com uma postura autêntica de frontman british-rocker, apesar da origem, sempre interagindo com o público.
O show durou também 40 minutos. A próxima atração, The Vaccines entrou exatamente às 21 horas. “No Hope” abriu um show de hits, que provavelmente vocês viram a mesma coisa no Brasil.
Não tem muito o que falar sobre, é uma sucessão de hits, onde todas as músicas seguem a mesma fórmula, o maior destaque é o aspecto de como o Vaccines melhorou ao vivo nesses últimos dois anos, salta aos olhos, não estou falando no sentido de execução e sim de se soltar no palco, transmitir o fato de que são os senhores do espaço e da multidão. Não era assim, hoje é… tranquilamente.

The Vaccines faz show na quarta-feira pré-festival / Arquivo Pessoal
Depois rolaria ainda Delorean, mas corremos para o metrô, porque 23h30 abriria a Sala Apolo, uma das casas de shows mais importantes de Barcelona e que rolaria a programação indoor do Primavera Sound, com John Talabot na Sala Apolo, espaço maior, para 3000 pessoas aproximadamente e na La 2 de Apolo, baladinha pequena, palco condensado para pouco mais de 300 pessoas e aonde tocaria meus três próximos objetivos: Veronica Falls, Parquet Courts e Cheatahs. Se trata de uma boate com dois ambientes basicamente.
Cabe salientar que a programação indoor também era gratuita para todos que compraram o passaporte para os 3 dias de festival.
E antes disso, rolou um show surpresa do The Breeders na Sala Apolo, que havia começado às 20h30. Ainda consegui pegar o finzinho do show, pelo fato de estar cadastrado como imprensa, mas as portas já estavam fechadas, o show lotadaço, e a fila do lado de fora era gigante para as próximas atrações mencionadas no parágrafo acima. Acabou o show, esvaziou a plateia do Breeders e abriu para Talabot, Veronica Falls e cia. Tudo exemplarmente organizado. Os horários previamente divulgados são cumpridos, o combinado nunca sai caro pra ninguém, quem se programou assistiu o que quis.
E assim que abriu a porta, a La 2 ficou rapidamente cheia, a primeira atração da noite foi o Cheatahs, com um garage rock veloz e que destaca as melodias, uma bela abertura de noite para pernas já cansadas.
A seguir deveria entrar o Parquet Courts, por algum motivo não explicado entrou o Veronica Falls e quebrou um pouco da energia, pela sutileza e o seu indie pop bonito e por vezes sombrio. O som é mais manso, mais baixo. O som foi prejudicado para a plateia concentrada do lado esquerdo do palco e mais próximo ao bar, pois os atendentes do bar, sem noção nenhuma arremessavam pilhas de garrafas no lixo, o tempo todo, com a gentileza de um elefante; e também por alguns clientes conversando no bar (não quero falar mal… massss era o catalão que comia solto), conversavam de costas para o palco, como se fosse apenas mais uma noite, uma noite comum, como se a briga para estar ali entre os 300 empenhados em assistir estes shows, não fosse nada, o barulho atrapalhava quem queria curtir o show; e como já disse Veronica Falls tem um som delicado, mais manso, demanda gentileza. A banda liderada pela Roxanne Clifford e sua beleza triste, com uma postura primordialmente shoegazer, de olhar perdido, sem muita interação com a plateia, mandou músicas do primeiro disco como: “Found Love In A Graveyard”, “Wedding Day” e “Beachy Head” e algumas do último disco lançado no começo deste ano, como: “Waiting for Something to Happen”, “Teenage” e “Tell Me“, show bonito mas um tanto prejudicado.

Parquet Courts fez o “porãozinho” da La 2 vir abaixo. / Foto: Arquivo Pessoal
Depois veio o Parquet Courts que vendia seu LP capa-de-rodeio por 15 euros em uma barraquinha no canto do bar. Quebraram tudo. A quebra de garrafas e o converseiro no bar não resistiu nem ao primeiro round. Parecia show em porão nos anos 90, logo a molecada começou a subir no palco, mergulhar e fazer crowd surfing alucinadamente. Em certo momento, o guitarrista mal tinha espaço para tocar de tanta molecada que subia no palco para pular. Sensacional! Nesse nível e com essa qualidade de som fazia muito tempo que não via. Foi pedrada atrás de pedrada, alto nível e o festival mesmo ainda não tinha nem começado, lá pelas 3 e tanto da manhã.
Quinta-Feira e começa o festival de verdade
Um dos aspectos mais interessantes do Primavera Sound e de Barcelona em geral, são os horários. Aqui não é incomum tomar café ao meio-dia, as lojas irem até às 21 horas, ou o festival acabar às 6 da manhã. Perfeitamente adaptado ao meu relógio biológico. O primeiro dia de verdade do festival, começou com o show do Wild Nothing no Heineken stage às 18h30 e que na verdade eu só pude assistir três músicas por chegar atrasado, dia firme ainda. “Ride” fechou o show.

Wild Nothing no Primavera Sound em Barcelona / Foto: Dani Canto
Na quinta-feira deu pra conhecer todo o espaço e não apenas o Ray Ban stage, e o lugar é deslumbrante, com o mar ao fundo e ainda com a sorte de lua cheia. São 6 palcos de grandes atrações, de peixe grande mesmo, não são palcos enche-linguiça, entre esses palcos estavam: Primavera, Ray Ban, Pitchfork, Vice, ATP, Heineken. Um palco enche-linguiça: Adidas Originals. E a cereja do bolo que abriria na sexta-feira e sábado: Auditório Rockdelux. Além de dois espaços menores: Ray Ban Unplugged e Salón Myspace.
Depois do Wild Nothing, o negócio era correr para exatamente o outro lado do festival, no palco da Pitchfork, aonde se apresentaria o Savages, a banda post-punk de garotas da Inglaterra que eu venho alertando como a coisa mais concreta entre essa nova geração dos filhotes da NME. O show estava pra lá de bombado, o hype pro lado das garotas pegou de vez, é um ato para shows indoor e não para multidões open-air, as longas levadas no baixo e apresentação das integrantes da banda, tornaram um pouco dispersiva a experiência. Não consigo me culpar, como um fã de música, por neste momento passar mais tempo prestando atenção nas garotas da plateia, do que nas garotas do palco. O show foi bem legal, mas eu estava sobrecarregado de expectativas. OK, ainda gosto e acredito no som do Savages, anyway.
O show chegou ao fim por volta de 20h15, ainda dia e novamente hora de atravessar toda a extensão do Primavera Sound, de volta para o palco Heineken e para o Tame Impala. E a impressão é que todo mundo no festival fez a mesma coisa. Gostaria de ter visto como ficaram as plateias para os shows de: Degreaser, Metz e Manel, que eram os concorrentes no mesmo horário, em outros palcos.
O fim de tarde e a brisa marítima casaram perfeitamente com a psicodelia moderada do Tame Impala, a banda tocou sem Nick Allbrook, que foi substituído por Cam Avery, que já toca no Pond (onde o Nick também toca), ou seja, continua tudo em casa.

Tame Impala se apresenta no primeiro dia de Primavera Sound / Foto: Dani Canto
Já era noite firme quando os australianos fecharam o set com “Half full glass of wine“, hora de se dirigir para o palco Primavera e assistir uma lenda da minha adolescência: Dinosaur Jr.
Quando coisas que você espera um longo tempo na sua vida finalmente acontecem, o corpo reage de uma forma engraçada, você fica meio anestesiado, não sei, é como uma forma de proteção? Pro cara não surtar e ter um piripaque na hora H? Sei lá, mas eu não consigo lembrar com perfeição do ambiente neste momento, eu lembro de não tirar os olhos do palco e de cantar todas as músicas, mas sem me esgoelar, afinal eu queria ouvir J Mascis e Lou Barlow. Eu não queria bater tanto a cabeça quando os instrumentos se enfureciam, eu queria assistir. E o tempo do show parece ter acontecido em 5 minutos. Foram 50 minutos. Teve o famoso cover de The Cure. O essencial que eu queria ouvir estava ali: “The Lung”, “Sludgefeast” do You’re Living All Over Me; “Freak Scene”, “No Bones”, “Budge” do Bug; “Just Like Heaven” cover do Cure, como já falei, que saiu na compilação Fossils de 1991; “Out There” do Where You Been; “Watch the Corners” e “Rude” do I Bet On Sky, faltou “Little Fury Things”, “Don’t”, “The Wagon”, “Kracked”, “Repulsion”, alguma coisa do Farm também seria bom. Mas valeu demais. Até tocaram “Training Ground“, como Lou Barlow falou durante o show, esta foi a primeira música da primeira fita gravada pelo Deep Wound, banda que ele e Mascis tiveram previamente ao Dinosaur Jr.. Show para a vida.
Depois do show fanboy, veio a vez de uma banda que comecei a apreciar em 2011, tempo em que ouvi o Halcyon Digest (lançado em 2010), pela primeira vez. E desde então entrou em alto grau de apreciação e consideração da minha parte. Sim, estou falando do Deerhunter. A banda entrou 22h55 no Ray Ban stage e fez o melhor show da quinta-feira. Bradford Cox é a figura central da banda – entrou com seu vestidinho e o personagem feminino do disco – mas divide com Lockett Pundt a liderança da banda no palco. O show já começa com apelo para prender a audiência e mantém essa constante até o fim do show. A primeira levada vem do álbum Microcastle e depois “Neon Junkyard” do novo álbum Monomania. A tríade “Don’t Cry”, “Desire Lines” e “Revival” levantam o público e criou o coro de vozes… (em um show do Deerhunter!), a prova cabal que Halcyon Digest é o maior feito na discografia da banda. Depois disso veio uma sequência de 6 músicas do Monomania, dando o tom de noise pop, intercalando quebradeira com belas melodias e o momento catártico alcançado em “Monomania” faixa que fechou o show, com quebradeira e muita porrada, explorando timbres lindamente. O show termina e a plateia ainda fica olhando pro palco uns 2 minutos, meio descrente com o que tinha acabado de presenciar. Senti apenas falta de “Leather Jacket II“, faixa do novo álbum que encaixaria bem com esse Deerhunter pesado, mas ainda melódico. Rá enquanto escrevia me peguei agora cantarolando “Cannnnnnnnn´t you see, Your Heart Is Harder Now”. Monomania se provou ser um baita disco, segurou a maior parte do show numa boa. Tanto foi que eu comprei!

Vinil Monomania / Arquivo Pessoal
Depois veio o show do Grizzly Bear, que foi… uma decepção! Não rolou legal ao vivo, muitas composições e nuances que ficam tão legais nos discos, não apareceram ao vivo. O fator open-air e grandes multidões também estraga.
A seguir viria Phoenix, o headliner de quinta-feira, mas que teve uma plateia bem menor que o Tame Impala, muito pelo fato de ter uma concorrência mais vigorosa, como: Fucked Up, Death Grips e Simian Mobile Disco em palcos adjacentes. O show começou com o novo single “Entertainment” e rolou incluindo todos os sucessos que foi o álbum Wolfgang Amadeus Mozart, esta hora, com direito a singalongs em plenos pulmões.

Phoenix se apresenta no Primavera Sound, quinta-feira. Foto: Dani Canto
A noite encerrou com a entrada do Animal Collective às 03h10 da manhã, em um show dançante, palco psicodélico cheio de dentes e tema do último álbum da banda. Nada mal para fechar o primeiro dia de festival.
A conta fecha com o fato de ter perdido ainda o The Postal Service que tocou exatamente no mesmo horário do Deerhunter. Grandes festivais são feitos de escolhas, não tem jeito. Outras grandes perdas deste dia foram: White Fence, Bob Mould, Neko Case, Killer Mike, Fucked Up, Jessie Ware e Four Tet.
2200 palavras, melhor parar por aqui. Volto no próximo post falando de sexta-feira, sábado e domingo no Primavera Sound. E. ainda um balanço final sobre o festival e o porquê vale a pena guardar uma grana e viver uma experiência dessas, para real music lovers como vocês, que estão me lendo até aqui. Inté.
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