O cimento ferveu no Campo de Marte em SP, onde sob o sol de 30 graus começava mais uma edição do Planeta Terra. Desta vez, permeado de dúvidas, com o lineup encolhido (em quantidade de atrações internacionais essa foi a menor edição do Terra desde 2007), uma outra empresa (T4F) entrando na jogada, novo local, etc. Sendo assim era normal que surgissem questionamentos sobre se o Planeta Terra realmente iria ao menos manter a qualidade e continuar figurando como o festival brasileiro que mais se aproxima de um festival internacional, ou se seria o começo do fim.
A dúvida não foi completamente sanada, mas no mínimo o festival deixou uma boa impressão, mostrando que pode continuar sobrevivendo, com possibilidade de, inclusive, retomar o crescimento dentro de um mercado que nunca deslanchou completamente no Brasil. E sim, o Planeta Terra Festival continua sendo o festival que melhor trata o público no Brasil.
O primeiro ponto de acerto da edição 2013 foi em relação ao acesso ao festival. A localização é realmente muito boa para chegar de metrô, a estação fica bem perto da entrada do festival e em poucos minutos já estávamos do lado de dentro. Aliás, no horário em que eu cheguei, às 15 horas da tarde, mal se dava pra notar que um festival acontecia por ali, tirando uma garota com coroa de flores da Lana no metrô e um ou outro grupo de jovens já nas imediações da entrada.
Segundo o Terra, 27 mil pessoas estiveram presentes nesta edição, número bem próximo a carga total de ingressos. E pra mim esse é o número máximo ideal para garantir que todo mundo assista aos shows de uma posição digna. A pontualidade ocorreu em todas apresentações, os banheiros eram bem cuidados e com água corrente.
O palco Smirnoff ficava logo após a entrada, outro acerto essa disposição em deixar o palco principal mais afastado. A distância entre os palcos foi pequena, isso por um lado é bom já que facilitava o deslocamento, porém na hora que os shows batiam de frente no horário e o público já era maior ao ponto das laterais serem ocupadas, aí a coisa pegou. Em certo ponto era possível ouvir os dois shows na mesma intensidade. Nas laterais de cada palco era possível ouvir o outro palco em bom som nos intervalos entre canções.
The Muddy Brothers fez um show, não sei se posso falar, mas eu achei pesado. Os caras tiveram energia e contrastaram com o show tedioso de Clarice Falcão. Já B Negão fez um show fuck the police e essas coisas que me dão preguiça e vamos entrar na parte que interessa.
Palma Violets
Eu já havia lido que o Palma Violets entregava shows realmente energéticos, rock and roll britânico despretensioso de molecada tentando se divertir. E isso se confirmou no festival. É banda para ver em casa pequena, lugar fechado. Mas mesmo tocando em festival ao céu aberto os caras foram bem, tocaram com energia e vontade até o final. Samuel Fryer e principalmente Chilli Jesson não param, sobe no bumbo, joga água e flores na plateia, interagem entre eles, é um show bem fugaz e fácil de se deixar contagiar. As músicas funcionam muito bem ao vivo. 180 talvez tenha sido apenas um álbum apressado de uma banda que cresceu muito rapidamente. O show é muito diferente do álbum, mas para o lado positivo. Acredite em bandas que entregam ao vivo, mesmo que não tenham entregado em estúdio. Nunca acredite em bandas que fazem o contrário. O Palma Violets pode dar certo ainda, pois entrega ao vivo.
A seguir viria o Travis no palco principal e a partir deste momento as filas para comprar fichas de bebidas já começavam a tomar proporções maiores. Um amigo meu que saiu pra comprar cerveja saiu antes do show do Travis começar e voltou meia hora depois sem cerveja, pois o sistema de cartão “tinha caído”. Isso é inaceitável. Eles estariam dependendo exclusivamente da rede móvel? Quem foi ao festival sabe que a rede móvel não funcionou, muito mais por culpa da estrutura deficiente de telecomunicações no Brasil, do que pela organização do festival, é verdade. De qualquer forma, o festival tem que pensar nesses itens, já que não é uma novidade, preparar estruturas redundantes de internet fixa e se quiser ter um padrão de qualidade internacional deve oferecer isso gratuitamente ao público. Quem estava lá sofreu pra se comunicar via internet.
Travis
As músicas calminhas/fofinhas ficam poderosas no palco. Pra mim o Travis foi o melhor show do festival pela capacidade de transformar isso em peso. Andy Dunlop é impressionante, o cara não deixa a guitarra esmorecer. É o tempo inteiro tirando efeitos, timbres, distorcendo e energizando as engrenagens da banda ao vivo. Fran Healy tem todos os atributos de um grande frontman, vai pra galera, puxa palmas, convida o pessoal a pular. Os escoceses mostraram no fim de tarde, como algumas de suas músicas são canções pop que beiram a perfeição e como é bom cantar “Driftwood” a plenos pulmões:
No caso de Lana Del Rey ficou evidente toda a tônica que acompanha a sua carreira. O que mais incomoda é a histeria dos fãs e não a artista. Lana Del Rey faz um pop quieto, na maior parte das vezes insosso, principalmente se compararmos com as suas párias de vozes potentes e rebolado afiado. Ela não incomoda, mas também não conquista. Eu ainda não consegui me decidir se a Lana Del Rey está na carreira errada, ou se tomou um direcionamento errado para a carreira dela. Ela não precisa se esgoelar e rebolar para fazer música, mas entrou em um mercado que demanda isso. Se quiser mudar para o outro lado, para o time da Fiona Apple ou Cat Power para ficarmos em dois exemplos, ainda precisa crescer. O aspecto introspectivo de sua personalidade ainda não refletiu em uma poesia afiada. Também falta dominar o palco (existe muito artista que domina o palco sem sair do lugar!). A artista compensou esse jeito quieto com sorrisos, simpatia, se enrolando na bandeira do Brasil, indo pra galera e distribuindo beijos, o que certamente agradou os fãs presentes.
É um artista nem sempre conciso, mas que tem a capacidade de fazer um show metricamente no limite dessa dispersão, visitando vários pontos do seu trabalho.
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Falando em bandas indies, tenho uma recomendao: o romance “Deixe a Inglaterra tremer”, do Svio Lopes. O livro fala das experincias de um jovem brasileiro em Londres e como a cidade se tornou polo multicultural. Cada captulo comea com um trecho de msica de bandas que inspiraram a histria, tipo PJ Harvey, Joni Mitchell, Patti Smith, Belle & Sebastian, Florence + The Machine
Vale muito a pena!
Trailer: https://vimeo.com/77645849
http://www.novostalentosdaliteratura.com.br/?p=5028