Se você espera uma review clássica do show do Pearl Jam ontem no Morumbi, pode esquecer. Primeiramente porque eu sou fã da banda e por isso não tenho distanciamento crítico algum pra poder falar qualquer coisa e depois (e mais importante): um show com Eddie Vedder nos vocais é uma experiência única, intransferível. Sua relação com a atmosfera e com as músicas é diretamente proporcional à sua relação com a banda em sí, sua história de vida.
Eu, como toda boa jovem nascida nos anos 90, comecei minha vida musical com o Grunge. Ah, o terror de perceber que o Nirvana já tinha acabado e eu tinha nasci alguns anos muito tarde, mas ainda tinha o Pearl Jam. Com o tempo eu fui “evoluindo” musicalmente, até que o grunge ficou como uma memória de infância, um primeiro gosto que não tinha muito mais a ver com quem eu era no momento, afinal, eu já estava na fase indie, Strokes e etc. Mesmo assim, quando a banda anunciou que viria ao Brasil em 2005 eu, com 13 anos, implorei pra minha mãe me levar no show – meu primeiro show de rock.
Foi tudo bem apropriado pra criança que eu era, Pacaembu, 2 de dezembro, show começando às 19h30, chuva, Eddie loucão conversando em português pra caramba, todos os clássicos que alguém podia desejar: “Go”, “Animal”, “Given to Fly”, “Even Flow”, “Faithfull”, “Do the evolution”, “Better man”, “Alive”, “Mas of the hour”, “Last Kiss”, “Jeremy”, “Yellow Ledbetter”, fora os covers. Pra mim tudo tinha sido perfeito, só faltou Daughter e I am Mine, das minhas favoritas. Sai de lá chorando com minha mãe ao lado, as duas tendo acabado de descobrir o poder de um estádio lotado em um show de rock. Desde então, a cada show que eu vou (e devo dizer que, morando em SP, eu já tive minha cota de bons shows) eu procuro sentir aquela catarse que eu senti daquela vez, mas ela nunca aconteceu com a mesma potência (a não ser no Paul McCartney, mas essa é outra história).
Agora, 6 anos depois, eu vi essa turnê como uma oportunidade de rever velhos amigos, de me reencontrar com aquela pessoinha de 13 anos. Não foi exatamente isso que aconteceu. A luta para conseguir ingressos, o alívio do show extra. Mas marcar show durante a semana, no Morumbi, às 20h45 é cruel, a tensão de não saber se vai conseguir chegar a tempo. Cada minuto a mais no transito é um dia a menos que você viverá. Mas, diferentemente de 2005, o show não começou tão pontualmente assim e deu tempo de entrar, encontrar um bom lugar na pista que, ao contrário do resto do estádio, até que estava bem cheia.
Foi desanimador ver o estádio vazio assim. Minha esperança de catarse caiu 50% ao ver que as arquibancadas estavam vazias e mesmo o pessoal da pista não estava lá tão animado (por isso invejo quem vai no show de hoje, vocês terão a experiencia Pearl Jam em sua força total, tal qual ela deve ser). Tendo acompanhado a turnê de 20 anos, eu também já estava preparada para não ouvir muitas das músicas de antes, mas eles ainda estavam me devendo “Daughter” e “I am Mine”. Toquem essas, toquem “Better Man” e tudo estará bem.
O show finalmente começou, “Release”, “Cordouroy” e “Why Go”. Imediatamente senti um distanciamento – teria o peso dos anos (20 anos, meus e da banda) diminuído nossa energia? “Animal” e “Worldwide suicide” me trouxeram de volta e acabaram com as minhas duvidas. Ainda éramos, ambos, capazes de muito. Mas ficou óbvio que as coisas tinham mudado, aquele não seria o show de 2005. Mesmo assim, o show continuou com o Vedder impecável, sempre muito simpático, tendo dificuldades pra falar português e engasgando mesmo no inglês, sem saber o que dizer, com medo de não estar sendo bem compreendido. “Even Flow” veio como uma onda – aquilo sim era a real potência de uma plateia inteira pulando junta e cantando a mesma música do começo ao fim.
Mas foi quando eles tocaram “Daughter”, a música que eles ficaram me devendo naquele primeiro show, que eu me reapaixonei pela banda, com toda a força, como quando eu os ouvi pela primeira vez. Pronto, lá estava eu aos 13 anos de novo, alí estava a minha tão esperada catarse. Depois disso eu estava pronta pra tudo, “Olé, olé, olé” emocionadíssimos. “Down”, “Save You”, “The Fixer” – todas músicas para as quais eu particularmente não ligo muito. “Do the Evolution” foi a hora de gritar contra o mundo capitalista, pular, até, quem sabe, arriscar um bate cabeça?
Pausa para o bis. Quando voltam, Eddie começa a falar de Johnny Ramone, de como foi com os Ramones que ele descobriu o Brasil e o poder do público brasileiro e, assim como em 2005, me emocionei com a prova de amizade e cantei “I belive in miracles” como se eu realmente acreditasse.
Pausa para o outro bis. E quando eles voltam, finalmente o telão, que até o momento tinha ficando em preto e branco (o que pode ser até bonito estéticamente, mas muito muito chato pra quem está no fundo sem consegui ver o palco muito bem, obrigando muita gente a perder o show de luzes que foi bem bacana). Esse foi o momento de ser transportado no tempo, só os clássicos: “Alive”, “Black”, “Better Man” com o começo sendo cantado apenas pela publico, sem erros, perfeitamente (e minha emoção, meu choro), até que a música se anima e todos começam a pular, eu e meu irmão cantamos um pro outro e viramos adolescentes novamente. Anos 90, primitivo, forte, inesquecível. “Rearviemirror” e “Rockin’ in the free world” pra encerrar a noite e fazer tudo parecer perfeito.
Podem ter faltado muitos clássicos, o som podia estar baixo, o estádio vazio, eu não me importava. Eles tinham me pagado a dívida de “Daughter” (ainda faltou “I am Mine”, espero que eles voltem um dia e me paguem essa). E eles tinham conseguido aquilo que eu esperava desde o começo: me sentir com 13 anos de novo, acreditando na catarse que a música pode causar numa pessoa. 20 anos depois e o Pearl Jam continua com a mesma energia de sempre, o que me faz acreditar que nós também podemos, daqui 20 anos, aproveitar um bom show com a mesma vontade de hoje.
Confira aqui o setlist do show.
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