A banda de Goiânia, Cambriana, após 2 singles e 1 EP, chega hoje ao lançamento do seu debut em formato digital intitulado House of Tolerance. O disco vem cercado de muita expectativa depois de lançar 4 canções que tiveram uma repercussão muito favorável, as faixas foram: “Until”, “In The Middle”, “Big Fish” e “The Sad Facts“, a análise completa dos lançamento anteriores a este disco, você pode conferir aqui.
O projeto foi formado por Luis Calil (vocal), que compôs e gravou House of Tolerance durante todo o ano de 2011, com a ajuda de Wanderson Meireles (guitarra/teclado/backing vocals) no esquema de composição e gravação cada vez mais popular nos dias de hoje, trocando figurinhas pela internet já que Wanderson é de Brasília. Participaram deste processo também, Israel Santiago (guitarra/teclado/backing vocals) e Rafael Morihisa (guitarra). Com o disco finalizado em janeiro, a banda convidou Eduardo Carneiro (bateria) e Pedro Falcão (baixo) para o projeto, e agora ensaiam para suas primeiras apresentações ao vivo em fevereiro.
Anterior ao lançamento deste disco, conversei com o líder da banda Luis Calil, para saber um pouco mais sobre a Cambriana. Confira:
Como o projeto nasceu? Vocês já tocavam antes?
Eu, o Israel e o Rafael tocávamos covers de bandas que nós gostamos com alguns amigos. Isso foi em 2010. Fizemos alguns shows, mas a gente acabou descobrindo que tocar só cover enjoa rápido. Demos uma pausa e eu passei o ano de 2011 trabalhando em músicas próprias pra gente tocar. Foi aí que eu chamei o Wanderson pra banda, que tem gosto semelhante e também tinha interesse em compor/tocar.
O som da Cambriana é complicado de classificar racionalmente e paradoxalmente bem acessível, vocês entendem assim, correram atrás disto ou as composições foram apenas surgindo gradualmente? Existia um objetivo definido sobre o resultado final ou isto mudou de acordo com o processo?
Eu não acho que o fato do som ser tanto difícil de classificar quanto acessível seja um paradoxo. Se você olhar pra música pop hoje em dia, tanto na Popular com p maiúsculo quanto no meio independente, você não vai achar muitos artistas fazendo uma coisa só. A idéia era fazer algo esteticamente pop, com ganchos e melodias e etc, mas o fato dos nossos gostos serem bem ecléticos acabou levando a essa mistura.
Durante o processo bateu algumas vezes aquele medo do tipo, “Será que essas músicas tão diversas vão funcionar em conjunto?”. Mas aí a gente olhava pro In Rainbows do Radiohead, que tem faixas tipo “Bodysnatchers” e “Nude” uma do lado da outra, e nos tranqüilizávamos. Apesar de mencionarmos a influência do Radiohead, ela não é nem tanto estilística, mas sim na forma em que eles construíram o In Rainbows, que também tem esse tipo de mistura. Foi isso que meio que nos “guiou”.
Talvez o maior trunfo da banda seja comunicar sentimentos através de melodias. Creio que este é o objetivo ou deveria ser de toda banda.
Leonard Cohen falou recentemente que se ele soubesse onde as músicas boas estão ele iria até elas com mais freqüência. Como vocês trabalham isto? Como vocês tentam encontrar a música boa?
Sem dúvida, o aspecto mais difícil de compor música é encontrar melodias interessantes e não-enjoativas. Eu acho que é aqui que entra o trabalho pesado, de testar e experimentar repetidamente até encontrar o tesouro. Muita banda empaca justamente nessa fase, porque não tá disposta a fazer o esforço necessário. É claro que pra alguns gênios (o Leonard Cohen seria um deles, modéstia dele a parte), fazer música deve ser moleza, só esperar a inspiração celestial bater. Mas pro Cambriana o negócio é ficar ali martelando as idéias por séculos até elas funcionarem.
Sobre o novo disco o que podemos esperar? O EP apresenta 4 faixas bem distintas sonoramente, a tônica do disco é qual faixa? Ou é um pouco de tudo?
É um pouco de tudo, mas talvez não tão heterogêneo. Não tem nada tão caipira quanto a “In the Middle” e nada tão “romântico” quanto a “The Sad Facts”.
Quais bandas vocês curtem? E o que delas vocês entendem como absorvido para o disco?
Eu sei que pelo menos eu e mais alguns membros da banda adoramos pop dos anos 60, tipo Beatles, The Zombies, Beach Boys, The Kinks, artistas da Motown. Foi disso aí – e da nova safra, e.g. Grizzly Bear, Fleet Foxes, etc – que saiu o interesse em harmonias vocais, que não é tão aparente no EP, mas está mais presente no disco.
Outra influência forte foi o The National. Eu acho fantástico o estilo do baterista deles, o Bryan Devendorf, e eu me inspirei em truques dele quando chegou o momento de criar as baterias e percussões das músicas. Na questão de timbres, eu diria que Brian Eno e Beach House meio que foram as nossas referências, principalmente nos teclados, sintetizadores e outros barulhinhos malucos. Pronto, dissequei o disco, agora eu quero o seu emprego.
Sobre a mixagem do disco, foi pós-produzido pelo Luis certo? Porque a decisão do DIY e não concluir este processo em estúdio?
A decisão foi principalmente financeira. Pra achar alguém que tivesse as manhas e a sabedoria pra mixar o disco do jeito que a gente queria, nós precisaríamos de muito mais dinheiro do que nós tínhamos. Ninguém é bem de vida na banda, e os gastos com as gravações que rolaram em estúdio já foram meio que demais pra gente. E se fosse pra mixar com alguém barato, era melhor tentar nós mesmos.
O segundo motivo de fazer uma pós-produção caseira foi que eu me interessei no processo, achei ele bastante divertido (muito mais do que fazer as músicas, pelo menos). Fui aprendendo alguns truques, testando versões diferentes e mostrando pros outros integrantes da banda. Todo mundo acabou ficando satisfeito com o resultado. Não tá 100%, mas tá na “vibe” que a gente queria.
E vocês entendem que isto ajudou de alguma forma no resultado final?
Ajudou no sentido de dar mais controle e mais tempo. A não ser que a gente gastasse uma quantidade obscena de dinheiro, contratar um engenheiro aleatório pra mixar significaria ter que rezar pra que as idéias dele sobre mixagem batessem com as nossas, e ter marcar horário em estúdio toda vez que pintasse alguma idéia nova pra alguma mix.
Mixando em casa, você pode fuçar a qualquer hora, por quanto tempo quiser, e experimentar coisas arriscadas que você não faria num estúdio por medo de perder tempo.
Como a galera está reagindo ao som da banda? A repercussão na internet está dentro do esperado?
Está um pouco mais que o esperado. Acho que porque eu passei tanto tempo trabalhando nas músicas, o charme delas meio que se apagou pra mim, então ver pessoas falando que estão viciadas na “The Sad Facts” ou “Big Fish” é gratificante, mas quase incompreensível. Eu to viciado em não ouvir elas nunca mais.
Mas eu espero que o resto do disco seja igualmente agradável pra quem curtiu os singles. A Cambriana precisa juntar muitos fãs agora no começo, pra depois ir decepcionando eles quando a gente for lançando coisas mais esquisitas e experimentais. É a trajetória padrão, né?
E os planos a partir de agora? Vocês fazem resoluções de ano novo, essas coisas, quais são os objetivos para 2012?
Os objetivos são tocar bastante em todos os lugares que nos aceitarem, e ganhar dinheiro o suficiente pra comprar mais equipamentos e gravar mais coisas. Nós com certeza vamos lançar mais músicas lá pra Julho ou Agosto. Eu já tô com umas 5 idéias semi-prontas que eu nem sei onde enfiar.
Outra resolução é que eu preciso aprender a assobiar. Não acredito que não tem nenhum assobio no disco. Decepção total. (Eu tive que Googlar “assobio” pra ter certeza se era isso ou se era “assovio”. Descobri que os dois jeitos estão certos. Vivendo e aprendendo.)
Sobre os shows. Qual o setlist que vocês estão montando? A idéia é tocar o disco inteiro? Alguma outra surpresa?
Queremos tocar todas do disco, mas nem sempre. Tem algumas faixas menos animadas (mais “deprê”) tipo a “Waitress” e a “Invicto”, que são complicadas de tocar no meio de um festival de rock pra um monte de bêbados. Nós vamos tocar alguns dos lados-b também, e com certeza alguns covers. Eu tive uma idéia de tentar fazer a “Archangel” do Burial acontecer ao vivo (porque amo Burial), mas isso seria algo tão arriscado que não vamos prometer nada.
Qual a expectativa para tocar no Grito Rock?
Medo. Algumas pessoas da banda tem mais experiência que outras, mas primeiro show de banda nova é sempre complicado. Espero que seja indolor.
Existem datas fechadas para outras cidades?
Já estamos olhando algumas oportunidades, mas não quero revelar nada antes de confirmar.
Entre as novas bandas brazucas na área, assim como vocês, quem vocês conhecem, curtem. Comente um pouco sobre isso…
Eu queria estar mais por dentro do que tá acontecendo na música brasileira agora pra poder responder essa pergunta competentemente. Ouvi algumas faixas do Bixiga 70 e gostei, porque eu adoro afrobeat. Tem também uma música chamada “Mulher” de uma tal de Rancore (descobri recentemente, não sei mais nada sobre a banda) que eu adorei porque parece o Cazuza cantando no Interpol. Vou procurar mais coisas deles.
Acho que de cabeça, só lembro isso. Eu peço pros leitores do seu blog irem ao nosso Twitter (@cambrianamusic) e recomendarem bandas brasileiras que eles acham que nós iríamos gostar.
E finalmente, a pergunta clichê de toda entrevista, por que Cambriana?
Nós passamos meses procurando uma palavra que funcionasse (i.e. fosse pronunciável) em várias línguas, já que a gente canta em inglês e tem esse som misturado. Depois de algumas tentativas mal sucedidas, o Wanderson soltou “cambriana” um dia e eu gostei. A palavra é bonita, soa legal, e tem um significado rico. Eu não vou explicar ele aqui, mas é só Googlar “explosão cambriana wikipedia” que vocês vão entender. Google é o seu amigo.
(fim).
Apesar da entrevista ingênua, fato compreensível por estarem no começo da estrada, não se engane, Cambriana tem feito até o momento, música que transborda beleza, lirismo e generosidade.
Outro ponto a ser considerado é a minha favorita faixa “Until” ficar fora do disco, mas para isso eu já tinha preparado o espírito, desde os primórdios a banda anunciou que se tratava de uma b-side. De qualquer forma, uma pena.
Posto isso, vamos ao que realmente importa o disco de estreia da Cambriana:
Para fazer download do disco, vá até o facebook da banda.
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1 Comment
Nossa, me encantei com a banda, de verdade. Link pra baixar o CD, kd?