The Districts – A Flourish and a Spoil
O material de estreia tem a energia e juventude, sem se entregar ao pastiche do que rolou de mais conhecido no indie rock pós-00s. Cheio de alternativas e ao mesmo sem colar em uma cena específica, como se vê acontecendo hoje com as bandas de Massachussetts ou as bandas da California, o quarteto parece desenhar uma forma bastante específica de construir o seu rock. Hora mais garajeiro e direto, outra mais melódico e rocambolesco. Riffs do blues e feedback na distorção, escolinha de Jack White. Toda essa dinâmica lembra muito The Walkmen. Não deixe de ouvir “Young Blood”. Apesar de descolado de cena, tem algo também da brejeirice do rock psicodelico da subvertente pula-brejo-lambe-sapo, na linha Dr. Dog., seus conterrâneos de estado.
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Drenge – Undertow
O rock sempre foi sobre facilitar as coisas para fazer tudo você mesmo. Com isso, houve o surgimento de grandes duos de umas décadas para cá, como o White Stripes e Black Keys no old school; Royal Blood e o Drenge no new school. Essa tendência garage em tirar um som só com guitarra e bateria deu certo, mas começou a se desgastar. Querendo ou não, o baixo faz falta no groove e Undertow prova o quanto essa intensidade e profundidade brilha ainda mais com um baixista na banda.
Essa metamorfose de duo em trio, foi exatamente o necessário para superar o debut. Como uma obra kafkiana, o Drenge transforma-se em um animal selvagem. Uma transformação que traz mais coesão ao trabalho: começando pela introdução seguida perfeitamente por “Running Wild“; mergulhando em uma camada post-punk em “Never Awake” e emergindo punk em “We Can do What We Want“; até progredir a porrada até “Favorite Son“, a favorite do álbum.
Honestamente, achei que a banda ia ficar inanimada e repetir o mesmo dna do debut self-titled de 2013, mas a chinelada veio forte. “The Snake” é uma martelada direta na têmpora do Josh Homme e a próxima, “Side by Side“, que já começa com palmas, é a abertura perfeita do lado B, que aprofunda-se mais ainda na darkwave. Até alcançar um caos que termina o álbum de maneira explosiva.
A banda estruturou o álbum em 11 faixas, com começo, meio e fim. Toda a raiva, angústia se manteve no casulo, mas foi calculada em doses homeopáticas durante todo o álbum, não deixando-o cansativo nem repetitivo. A metamorfose transformou os moleques do Drenge em baratas stoners peçonhentas que dariam orgulho ao Kafka. O rock, assim como as baratas, nunca vai morrer, só vai transmutar em algo mais forte e selvagem.
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Father John Misty – I Love You, Honeybear
O disco é uma evolução do que já havia sido mostrado em Fear Fun de 2012. Dessa vez, Tillman explora arranjos ainda mais luxuosos, em uma intricada fórmula de parafernália sintetizada, timbres de saudade e imediatismo romântico. Em alguns momentos o divórcio com o folk é completo e chega mais próximo, caso da faixa “True Affection”, que poderia ter sido gravada pelo seu companheiro de Sub Pop, Washed Out. Em outros momentos ele se aproxima mais ao seus primórdios, de som do campo, como na faixa “The Night J. Tillman Came To Our Apt”, mas sem perder o sentido de luxo dito no começo do texto, encaixando uma orquestração e backings no arranjo. Até certos momentos que fica rockeiro em sua essência, como na visceral, “The Ideal Husband”.
É interessante notar o contraste das costuras instrumentais com o trato das letras, essencialmente diretas e sem truques, ou joguinho de palavras para esconder o real sentido/sentimento do compositor. A mensagem é entregue em diversas ocasiões, seja para narrar situações, expressar amor, ternura, raiva ou desprezo:
“Every woman that I’ve slept with
Every friendship I’ve neglected
Didn’t call when grandma died
I spend my money getting drunk and high
I’ve done things unprotected
Proceeded to drive home wasted
Bought things to win over siblings
I’ve said awful things, such awful things”
Até nos momentos de ironia, fator sempre presente na obra de Tillman, existe um sentido maior de franqueza.
“I may act like a lunatic
You think I’m fucking crazy, you’re mistaken
Keep moving”
Essa é sem dúvidas a obra mais complexa, e mais imediata do artista. Um dos grandes mistérios da música é resolver bem essa equação: como fazer música duradoura ao longo do tempo na paciência do ouvinte versus acessibilidade e identificação imediata com o som. Seria não enjoar e ao mesmo tempo não requerer uma audição longa e enfadonha até que as belezas sejam descobertas. Pop sofisticado. Tillman alcança isso através das variações de estilos/gêneros, quanto na, já tão martelada nesse texto, riqueza de arranjos. É um disco apaixonado e as influências citadas pelo artista, compreendem: John Lennon, Scott Walker, Randy Newman, Harry Nilsson, e Dory Previn.
E ainda esqueci de citar a gema pop-country lamuriosa: “Nothing Good Ever Happens At The Goddamn Thristy Crow”.
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Florence and the Machine – How Big, How Blue, How Beautiful
No geral, as músicas novas estão bem podadas, aqui encontramos uma levada que nunca estoura em algo muito pitoresco, o tipo de rock que cai bem na voz da Florence, de natureza expansiva, ela pode soar exagerada e cansativa dependendo da canção. Algo deste tempero equilibrado, puxando em alguns momentos até para o folk, certamente é dedo do produtor Markus Dravs (The Suburbs do Arcade Fire e Sigh No More do Mumford and Sons), já que Florence tem uma queda por arranjos exagerados e excessos. O disco conta com uma ampla instrumentação e participações, o que dá mais crédito ainda neste equilíbrio das canções.
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Gengahr – A Dream Outside
A sonoridade é um pop psicodélico que passa perto de outras bandas da atualidade, mas não é unicamente parecida com nenhuma, na mistura de flavours (british writing), eu citaria Alt-J, Unknown Mortal Orchestra, MGMT, Tame Impala, Temples e Peace. Uma das melhores estreias de guitar band da Terra da Rainha em 2015.
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Girlpool – Before the World Was Big
O álbum de estreia foi gravado com Kyle Gilbride do Swearin’, e segundo o release: “explora os conceitos de crescimento, amizade, e a interação entre identidade e ambiente.”
O som é qualquer coisa menos convencional, com uma abordagem minimalista, baixo, guitarra e tudo mais que as duas conseguirem fazer com as próprias vozes – e se valem bastante das harmonias vocais – a música delas tem conquistado público e crítica, justamente por combater o excesso de artificialidade que se encontra nas novidades apresentadas ultimamente. Tem pegada, personalidade e boas melodias, as músicas são curtas, a capacidade de síntese musical da banda é o supertrunfo.
Seresteiras do punk é uma outra forma de defini-las, já que as canções são essencialmente introspectivas e simples.
Ou.
Sem bateria e sem pintos, o que é quase uma contravenção para os padrões chauvinistas do rock.
Jamie xx – In Colour
Jamie xx entrega logo na estreia solo, In Colour, um bom disco pra dizer o mínimo, “Gosh” e “I Know There’s Gonna Be (Good Times)” com Young Thug estão entre as melhores músicas que ouvimos este ano, Gosh já entrou até nesta mixtape que fizemos. A surpresa maior é que eu pude conferir o set de Jamie ano passado, no Primavera Sound e confesso que apesar de alguns bons momentos em remixes, o som era desinteressante na maior parte do tempo.
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