Por Flavio Testa com colaboração de Rodrigo Fonseca, Lucas Moreira e Raphael Pousa
Nó na orelha, aliás nó no cérebro. Essa é a definição para fazer uma lista de melhores do ano. Estabelecer métodos para escolha, tentar uma abordagem matemática, colocar no papel e pontuar cada música é um caminho, mas certamente não cobre tudo. Música se explica muitas vezes em linguagem torta, pouco lógica, a razão explica em parte, mas passa longe de resolver tudo. Se escrever, racionalizar, já é um belo desafio, imagina então quantificar e ordenar.
A lista deste ano exibe um punhado de senhores e senhoras provando que a arte não se enterra no passado e o prazo de validade da alma inexiste.
No outro corner, também um punhado de estreias, dotados de juventude, candidez e energia.
Os estilos se misturam.
As cantoras/compositoras solo foram outro ponto alto este ano.
Ser revivalista pode ser um passo a frente, no sentido de evolução musical.
Os nacionais cumprem com decência e destaque mais uma vez o lugar na lista, em gêneros diversos. Cada vez mais. Silva que o diga.
O mais velho tem 78 e o mais novo tem 20.
O resgate, o resgate da R&B, o resgate da Shoegaze, o resgate do pop-punk noventista, o resgate do Soldado Ryan. Tchau até 2013.
Os 50 Melhores Discos de 2012
1. Swans – The Seer
A única obra-prima do ano como álbum. Michael Gira aos 58 anos entregou o melhor disco da carreira do Swans e disse antes do disco sair, que seria um registro que levou 30 anos para ficar pronto:
“The Seer levou 30 anos para se fazer. É o culminar de cada álbum anterior do Swans, bem como qualquer outra música que eu estive envolvido ou imaginado. Mas está inacabada, como as próprias músicas. É um quadro em um filme. Os quadros borram se misturam e eventualmente desaparecem. As canções começaram em um violão, e então enriquecidas com ajuda (inestimável) de meus amigos, então elas foram ainda mais torturadas e seduzidas no estúdio, e agora ela esperam mais canibalismo e alimentação forçada, enquanto nos preparamos para realizar algumas delas ao vivo,até o ponto que elas irão se transformar ainda mais, infinitamente, ou talvez serem descartadas por um tempo.”
O disco é um petardo do inesperado, post-rock/punk mas sem os passos bem calculados comuns ao gênero, as relações aqui soam mais cruas, os enlaces são subjetivos, o que vem a seguir soa como incógnita para o próprio artista, em forma de explosão instrumental ou introversão através de minimalismo e repetição. A obra te traga em Lunacy e só vai cuspir você pra fora ao final de The Apostate. É um transe absoluto, que te deixa meio cambaleante e você precisa de tempo para se recuperar, após ouvir o disco, a experiência ao longo dos meses muda, mas no sentido de você ter mais consciência do absurdo que está ouvindo, ao contrário das drogas, o efeito de transe e a sensação de sair dopado ao final do disco não diminui de acordo com o uso.
O LP é duplo e tem quase duas horas de duração, conta ainda com a participação de Karen O’ do Yeah Yeah Yeahs, Alan Sparhawk e Mimi Parker do Low, Grasshopper do Mercury Rev, entre outros. Da primeira a última música, sublimação de genialidade, um disco cravado na história deste e de outros mundos.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Lunacy”, “The Apostate”, “Mother of the World”, “The Seer”, “The Seer Returns”, “Song for a Warrior”, “A Piece of the Sky”, “Avatar”, “93 Ave. B Blues”, “The Wolf”, “The Daughter Brings the Water”.
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2. Japandroids – Celebration Rock
Em um tiro curto, energético e uniforme assim é o disco. Rock simples, incursionado com perfeição dentro da proposta, 35 minutos de som pra se ouvir alto, celebrando o rock, celebrando a vida. O disco não perde o ritmo em nenhum momento, composições aceleradas, batidas destacadas, guitarras sujas. Não enjoa, não cansa, como uma viagem de moto em alta velocidade. Adrenalina pura do início ao fim. Mesmo com um tom de uniformidade, a canção “The House that Heaven Built” consegue se sobressair com o alcance da velocidade máxima, se tornando também a música do ano.
É certo que existia um Japandroids antes e outro depois deste disco. O trabalho é um divisor de águas e deve abrir portas maiores para a dupla.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “The House that Heaven Built”, “Adrenaline Nightshift”, “Younger Us”, “Fire’s Highway”, “For the Love of Ivy”, “Evil’s Sways”, “The Nights of Wine and Roses”.
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3. Tame Impala – Lonerism
Dotado de psicodelia, imaginação e um apelo pop irresistível, o Tame Impala surpreendeu e acertou em cheio com sucessor de Innerspeaker. O tipo de álbum atemporal que deixa a certeza: vai te acompanhar por muitas tardes solitárias ao longo desta vida.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Feels Like We Only Go Backwards”, “Apocalypse Dreams”, “Elephant”, “Mind Mischief”, “Be Above It”, “Keep on Lying”, “Why Wont They Talk to Me?”.
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4. Cloud Nothings – Attack on Memory
Talvez o mais impressionante no Cloud Nothings seja a velocidade em que as coisas aconteceram, levando em conta a pouca idade de Dylan Baldi, líder do projeto. O cara começou gravar as músicas em casa no computador com alguns parceiros, matando tempo entre uma aula e outra na Case Western Reserve University, em Cleveland, OH em 2009. As canções são liberadas como singles, e apesar do processo de gravação sem recursos, começa a fazer barulho na blogsfera (vide a queridinha “Hey Cool Kid”), o cara larga a escola para se dedicar a música e lança 3 cds em 3 anos pela Carpark Records.
Os primeiros discos, Turning On (2010) e Cloud Nothings (2011), traziam um pop-punk-indie-rock adolescente, raivoso e despretencioso, mas ainda imaturo. E é aí que o amadurecimento do lançamento Attack On Memory surpreende. O álbum tem uma forte pegada grunge, ainda mantém os elementos do punk-indie-rock adolescente do grupo, mas com muito mais dinâmica. Influências de Nirvana e Pixies são notadas em quase todas as faixas, e muito disso provavelmente se deve ao produtor Steve Albini que trabalhou nos discos In Utero, do Nirvana e Surfer Rosa, do Pixies. Músicas como No Future/No Past e Wasted Days tem mudanças constantes de ritmos, o famoso trecho calmo/trecho barulhento. Dylan Baldy ainda mantém o vocal rasgado, gritado no bom sentido (outra influência de Kobain?), mas já é um artista que sabe o que quer, criativo e que se fortalece como um dos grandes nomes de sua geração.
Sem dúvida, se daqui a 10 anos nós estivermos aqui ainda e o Cloud Nothings na ativa, e torcemos para que as duas coisas se confirmem, vamos lembrar desse disco como o primeiro passo na carreira adulta da banda.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Wasted Days”, “No Future, No Past”, “Stay Useless”, “Fall In”, “Cut You”, “Our Plans”.
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5. Dinosaur Jr. – I Bet On Sky
“É o melhor disco da carreira do Dinosaur Jr.”. Eu costumo usar esta frase por aí quando estou bêbado. Sem juízo e com vontade de provocar: revolta, alegria, consentimento ou quem se importa?. É meio irresponsável chamar este de melhor disco da carreira, quando ele compete com: Bug, You’re Living All Over Me e até mesmo Farm. Mas eu vou alí tomar uma e quando voltar vou escrever…..
É o melhor disco da carreira do Dinosaur Jr.!
Desde Beyond em 2007 quando a banda retomou o lineup inicial que não se encontrava desde Bug de 88. Mascis, Barlow e Murph, entregaram três bons álbuns na sequência culminando neste último. E não me surpreenderia mais dizer que o melhor disco da carreira do Dinosaur Jr. ainda pode estar por vir. Faixas como “Stick a Toe In” é a tradução exata de explosão de sentimentos, letra triste e apaixonada, perdida, a voz de Mascis é desgostosa mas amorosa. A guitarra distorce quieta tragada em extrema melodia. Um disco que vai trazer a melhor lembrança daquela garota. Quase é possível trazer a garota.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Stick a Toe In”, “Watch the Corners”, “Almost Fare”, “Don’t Pretend You Didn’t Know”, “What Was That”.
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6. Divine Fits – A Thing Called Divine Fits
O supergrupo de indie formado por: Dan Boeckner (Wolf Parade/Handsome Furs), Britt Daniel (Spoon) e Sam Brown (New Bomb Turks) fez exatamente o que se esperava deles. Um álbum afiado. Dan e Daniel afiaram-se e criaram duas das melhores composições do ano: “Baby Get Worse” e “Would That Not Be Nice”. Um disco cheio de riffs brilhantes, ensejos melódicos no teclado que servem como cereja para todo a vociferação rockeira dos líderes da banda. Um supergrupo literalmente.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Baby Get Worse”, “Would That Not Be Nice”, “My Love Is Real”, “What Gets You Alone”, “Shivers”.
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7. Frank Ocean – Channel Orange
Quando um álbum de hip hop abandona temáticas como dinheiro, festas, mulheres e ostentações em geral para contar histórias de maneira emocional, inteligente e bonita, o resultado não poderia ser menos do que surpreendente. Responsável por esse feito, Frank Ocean, cantor de 24 anos, nascido na sofrida Nova Oleans, já havia criado canções para cantores famosos como Justin Bieber, John Legend e, mais recentemente, participou de Watch the Throne, colaboração entre Jay-Z e Kanye West; além disso, ele também faz parte do atribulado coletivo de Los Angeles, Odd Future. Entretanto, foi seu debut channel ORANGE, lançado esse ano, que demonstrou toda sua capacidade de transpor fatos que observa e vive para músicas que transbordam compaixão, calor e humanidade, compondo um disco denso, inusitado e esplêndido.
Rotular o debut apenas como hip hop seria tolice, seu som carrega notas de jazz, R&B e soul que são embaladas pela voz suave e tenra de Ocean que lhe rendeu comparações com Stevie Wonder. A modernidade e inventividade do cantor transparecem nos elementos eletrônicos nebulosos e obscuros, sintetizadores que vêm em pulsos criando sons psicodélicos que se fundem em padrões minimalistas, enquanto o vocal intimista de Ocean mantêm tudo coeso em uma trama bem engendrada. O álbum é imprevisível, as canções nunca vão para onde você achou que iriam. Junte a isso uma abrangência temática e temporal impressionante, como na audaciosa e peculiar “Pyramids” que traça um paralelo entre as rainhas do antigo Egito e strippers na Las Vegas moderna. Entre intros e interlúdios, as faixas vão fluindo, começando pela languida e sedutora “Thinkin Bout You”, passando pela ensolarada “Sweet Life” com seu refrão poderoso guiado por piano. “Lost” talvez seja a música mais radiofônica do disco em sua melodia fluida e dançante em contraponto com “Bad Religion” que surge nua, confecional e intimista.
Frank Ocean vasculha seu próprio eu e fala de si através das personagens de suas músicas criativas, cálidas e brilhantes que compõem um disco excepcional, obra de alguém que sabe o que é sofrer e que demonstra força e humildade suficiente para enfrentar os sofrimentos que ainda virão.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Pyramids”, “Thinkin Bout You”, “Sweet Life”, “Bad Religion”, “Lost”.
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8. Céu – Caravana Sereia Bloom
Seu terceiro disco, disco produzido pelo marido Gui Amabis, está impecável como os outros dois. Fiquei fascinado por Céu à primeira vez que a escutei. Foi em algum programa da cultura que ela fez uma participação ou uma ponta para a divulgação do primeiro disco, Céu, principalmente aquela foto da capa com aquele olhar de mulher sensual. Quanto à voz? Putz, ai veio uma paixão maior. Comentei aqui semana passada a música “Retrovisor” que vazou deste disco, e por ela já dava pra sentir que viria coisa boa. O segundo disco Vagarosa já tinha um crescimento pomposo de composição e ótima produção. Caravana chega com um aprimoramento maior ainda. Tem tudo lá ainda, o afrobeat, o R&B, o jazz, a voz vagarosa e toda a sensualidade nas composições. O disco abre com “Falta de ar” um musicão marcada pelo baixo e pela guitarra. O disco na primeira audição já dá pra perceber a grande influência que ela teve da música Nortista e Nordestina do Brasil. A maravilhosa regravação de “Palhaço” do Nelson Cavaquinho, música que gosto muito na voz do Luiz Melodia, mas no momento que escutei na voz da Céu fiquei emocionado, uma coisa linda. O disco tem participações de Curumim, Jorge Du Peixe e Edgar Poças, pai da cantora, e também cantor e compositor. Céu é, talvez, a cantora mais aclamada hoje no mundo, menos aqui no Brasil (como muitas vezes aconteceu), seu primeiro disco vendeu SÓ nos EUA 100mil cópias. A linda e inspirada regravação de “You wont regret it” (Lloyd Robinson e Glen Brown) nos faz ter vontade de dançar junto com a banda. Aliás a banda é uma das escolhas mais felizes do álbum. Toda sensualidade em “Baile de ilusão” música com um bolero mais acelerado, uma letra triste “me colori para lembrar o que vivi me colori para contar o que chorei”. Há ainda, como nos outros discos, as vinhetas para aberturas de algumas músicas, como um belo canto de sereia na música homônima que abre Baile da Ilusão. Céu está arrebatadora neste disco, mesmo repetindo em vários pontos a receita dos discos anteriores. Somente para comparar recentes lançamentos, Céu mostra para Marisa Monte como juntar pontos de música brega, com inteligência e audácia, coisa que Marisa fez soar repetitivo demais em um disco mediano. Céu extrapola e nos faz sorrir ao escutar um disco inteiro sem uma indefinição de se a música é música é boa ou ruim. É boa, como tudo que esta cantora fez.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Falta de Ar”, “Contravento”, “Amor de Antigos”, “Baile de Ilusão”, “Chegar em Mim”.
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9. Fiona Apple – The Idler Wheel…
The Idler Wheel… é um álbum melancólico e pessoal em que Fiona Apple se sente livre para mostrar a vocalista e letrista singular que é. A produção das canções do álbum é ousada, remetendo a algo de jazz com sua percussão e vocais marcantes sendo guiados pela sublime linha de piano. O resultando é um álbum extremamente refinado que não é facilmente deglutido na primeira audição, mas que logo cativa o ouvinte.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Every Single Night”, “Werewolf”, “Left Alone”, “Regret”, “Daredevil”.
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10. Cat Power – Sun
Sun é um disco de renovação e uma declaração de independência. Seis anos depois do último trabalho e depois de alguns anos turbulentos na vida pessoal, Chan Marshall entrega um disco que traz a presença de novos elementos como a música eletrônica, de canções sobre esperança, conflitos, dramas e amor. E ainda conta com participação de Iggy Pop cantando; “You got nothing but time/ And it ain’t got nothing on you… It’s up to you/ To be a superhero
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Ruin”, “Sun”, “Nothin’ But Time”, “Cherokee”, “Manhattan”.
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11. Beach House – Bloom
Dream pop temperado com shoegaze elevado ao ápice. O duo Beach House em Bloom resgata suas referências anos 80 para criar músicas atmosféricas, dinâmicas e hipnóticas marcadas pelos sintetizadores e guitarras melódicos acompanhados pela força da bateria. Dê o play, feche os olhos e deixe Bloom levar seus pensamentos a um lugar calmo onde tempo-espaço não tem o mesmo significado.
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12. Mystery Jets – Radlands
Não vou nem começar a explicar a força que teve este disco, senão a barra de rolagem deste post não acaba hoje. Melhor você ler a review.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: Todas, o disco perde o sentido fora da unidade.
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13. Citizens! – Here We Are
Um dos álbuns mais deliciosos do ano, é sensual, criativo, dançante, descolado, elegante e as letras são SENSACIONAIS e fazem um bocado de sentido. O grande lançamento da Kitsuné este ano. A melhor estreia de uma banda este ano.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Let’s Go All The Way”, “(I’m In Love With Your) Girlfriend”, “Caroline”, “True Romance”, “Reptile”.
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14. Jack White – Blunderbuss
Jack White entregou mais ou menos o que se esperava dele. Um bocado de rocknroll rasgado, com a bluezera de Nashville. A impressão que fica é que ele tentou deixar o cartão de visita com todas as informações sobre a identidade sonora dele em apenas um disco. Um mestre que domina como ninguém o som que se propõe a fazer, sendo assim, faz com maestria.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Freedom At 21”, “Sixteen Saltines”, “Love Interruption”, “I’m Shakin'”, “Hypocritical Kiss”.
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15. Leonard Cohen – Old Ideas
Aos 78 anos Cohen continua roucamente cantando – horas sussurrando – poesia que te atinge em um local que na maioria das vezes você desconhece existir.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Darkness”, “Show Me The Place”, “Going Home”, “Crazy to Love You”.
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16. Cambriana – House of Tolerance
Outra banda que nem vou começar a escrever sobre, para não ferrar a barra de rolagem. Tudo que eu falei aqui e aqui, continua valendo, quase um ano depois e pelo jeito continuará com prazo de validade indefinido. O único erro deste disco é não ter colocado “Until” entre as faixas. A banda já começou estreando com disco arrebatador e se deu ao luxo de colocar de lado o que se tornou uma b-side brilhante. Coisa de The Smiths.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Face to Face”, “Better Days”, “Big Fish”, “The Sad Facts”.
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17. Alt-J – An Awesome Wave
O ALT-J é uma banda ainda nova inglesa, residente em Cambridge. O grupo se formou a partir de 2007, na universidade de Leeds, e lançou em 2012 o primeiro álbum da carreira, intitulado An Awesome Wave, o som é de difícil classificação, tem uma tônica folk, faz bastante uso de sintetizadores e possui harmonias vocais belíssimas. O Guardian classificou como Modern Folk. O resultado final foge do lugar-comum, ao ouvir o som a impressão que fica é que as canções nasceram lentamente, não existe uma preocupação com prazos, vendas ou gravadoras, como se fosse escrito e gravado ao longo de anos, artesanalmente. As músicas se distanciam entre si. As letras fazem referência literárias ou de filmes, um prato cheio para quem gosta de ficar horas viajando nas músicas, tentando identificar filmes e livros nas letras.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Tesselate”, “Fitzpleasure”, “Breezeblocks”.
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18. Pond – Beard, Wives, Denim
Pond, é um trio australiano de Perth que possui dois membros do Tame Impala, Nick Allbrook e Jay Watson, além do Joseph Ryan. Recentemente eles lançaram em seu debut pela nova gravadora, a Modular (mesma gravadora do Cut Copy e Architecture in Helsinki), o álbum Beard, Wives, Denim. O disco foi produzido por outro Tame Impala, Kevin Parker, e foi gravado em 2010 em uma fazenda na Austrália e lançado apenas em março deste ano. O disco incursiona um rock psicodélico cheio de vocais sujos, aliás distorções all over the place, bastante acessível, pensado em uma estrutura pop, feito para impressionar e conquistar os ouvidos sem muita análise, com muita energia, porém sem perder o tom do rock viajado no ácido dos anos 60. Vale a pena escutar, fórmula bem dosada.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “You Broke My Cool”, “My Moth”, “Fantastic Explosion of Time”, “Sun and Sea and You”.
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19. Neil Young and Crazy Horse – Psychedelic Pill
Uma bela autobiografia que ainda não terminei de ler, mas estou gostando. Um disco chamado Americana e mais agora pro final do ano, outro chamado Psychedelic Pill, ambos com a Crazy Horse. Neil ainda corre para lançar uma plataforma de música digital que promete agitar o mercado fonográfico com tecnologia de alta qualidade musical. Coisa que ele não se cansa de detalhar no livro. Pira de véio, ou valor útil agregado, só vamos saber quando for lançado. Assim como aconteceu com este disco. Pura mágica com a Crazy Horse emoldurada na voz inebriante de Neil Young, soa como um álbum que ficará gravado nos anais do rock e não apenas por ser o mais longo da carreira de Neil. As jams são acachapantes, sei lá qual foi a mágica que a velharada fez pra chegar tantos anos depois na melhor forma, mas Neil Young, Billy Talbot, Ralph Molina e Poncho Sampedro estão soando tão grandiosos quanto puderam ser na década de 70.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Driftin Back”, “Rammada Inn”, “Walk Like a Giant”, “Twisted Road”.
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20. Chromatics – Kill For Love
Em muitos aspectos o álbum mais excitante do ano. É incrível a atmosfera criada nas músicas deste álbum. O disco não é tão simples quanto soa, rica em texturas e experimentações eletrônicas em um som de banda, exatamente como um New Order dos novos tempos, no sentido sonoro e também na impressão que deixa de algo revolucionário estar acontecendo por aqui. A forte orientação ao hit é outro destaque do disco.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Kill For Love”, “Lady”, “Into the Black”, “Back From the Grave”.
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21. Wild Nothing – Nocturne
É o disco de dream pop mais bonito do ano, junto com o Beach House. Vale a pena ouvir, fechar os olhos e sair desse mundo para outro, definitivamente mais belo.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Nocturne”, “Shadow”, “Midnight Song”.
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22. Perfume Genius – Put Your Back N 2 It
A sensibilidade deste artista pulsa ao longo de todo o álbum, de beleza e lirismo ímpar.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Hood”, “Normal Song”, “AWOL Marine”, “Take Me Home”.
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23. Two Door Cinema Club – Beacon
O TDCC passou tranquilamente na prova de fogo do segundo disco, após um disco de sucesso. Não tentaram repetir Tourist History, mas também não se afastaram de tal maneira que descaracterizasse o trabalho anterior. (Como aconteceu com The Vaccines por exemplo). Beacon tem seus pontos fortes e mostra uma nova face de ritmo mais cadenciado, mais foco no desonrolar das melodias, sons mais limpos, mas sem perder o talento natural de fazer hit pop uptempo de guitarra berrante e sintetizador largado. A voz ganha um novo nível de destaque também. Two Door Cinema Club entregou boas músicas em 2012 e mostrou que tem arsenal para continuar produzindo em alto nível sem cair na mesmice.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Next Year”, “Sun”, “Sleep Alone”, “Someday”.
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24. Jessie Ware – Devotion
Em um ano farto de cantoras, Jessie Ware aparece representando o velho continente na terra da Rainha, com uma voz belíssima e composições fortes que cruza por campos da R&B até a música eletrônica.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Wildest Moments”, “110%”, “Devotion”.
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25. Bretón – Other People’s Problem
Grande estreia fazendo um art/experimental rock/electro de 2038. Britânico na espinha e transcendendo a música, eles começaram inspirados em compor trilhas para os vídeos indies, depois abriram show pro WU LYF, que segundo disseram por aí que seria a salvação do rock. Essa gente não cansa de aprender que não se salva o que já está danado. Mas voltando ao Bretón, o som é tipo música de laboratório, análogo a um transgênico maluco fatiado, manipulado e trepado genéticamente. Aguenta mais primaveras que o orgânico, mas tem quem o diga que é cancerígeno.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Edward the Confessor”, “Pacemaker”, “Jostle”, “Electrician”.
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26. Patti Smith – Banga
Banga, pronuncia-se BENGA. À primeira audição do disco dá para notar um trabalho feliz. Nas outras, você acaba se contagiando pela felicidade. Banga é um disco de pesquisa, que inclui viagens e trabalhos em cima de pintores, escritores e também cantores. Banga é o nome do cachorro de um personagem do livro “O mestre e Margarida” do russo Bulgakov. O disco conta também com a participação nada menos especial que o polivalente Johnny Depp na música “Nine”, ator que tinha o sonho em ser músico.
“This is the Girl”, música escrita para Amy Winehouse. Poema escrito para a cantora quando soube da morte da mesma e declarou nunca querer ter escrito.
“Amerigo”, primeira canção do disco, musica-poema em homenagem a Americo Vespucio, descobridor da América.
“Maria”, música feita para Maria Schneider, que Patti conheceu em Paris, atriz, musa de Bertollucci.
O disco fecha com a grata e linda surpresa do cover de “After the gold rush”, do rei Neil Young. Em uma gravação belíssima, de levar às lágrimas, pelo piano acompanhando-a, e ainda conta com a participação de crianças ao fundo.
Patti está feliz, com a voz tranquila e ácida, e a poesia afinada com a vida, com os filhos, com os amigos, o amor e acima de tudo com a nostalgia e a saudade.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Nine”, “This is the Girl”, “After the gold rush”, “April Fool”.
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27. Ariel Pink’s Haunted Grafitti – Mature Themes
Álbum fácil, divertido e acessível, mantendo a cota de freakness enigmática que torna Ariel Pink um dos artistas mais interessantes desta geração.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Only In My Dreams”, “Mature Themes”, “Baby”, “Kinski Assassin”.
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28. DIIV – Oshin
Vocal com reverb característico do dream pop, cabisbaixo, quase perdido entre as linhas de guitarra e baixo que encorpam e conduzem o ouvinte por toda a experiência do disco, melodicamente tramita entre gêneros, como a new wave, o garage rock e a shoegaze, sintetizadores parcimoniosos e macios da chillwave atual. É um disco para ser absorvido em mais de uma audição, mas ao mesmo tempo tem apelo pop suficiente para agradar após a primeira audição. Talvez esse equilíbrio, seja um dos grandes trunfos do álbum: dosa bem o imediatismo, mas te deixa com a sensação que haverá futuras descobertas.
A banda é um quarteto encabeçado por Zachary Cole Smith do Beach Fossils e conta com um membro do Smith Westerns, Colby Hewitt, na bateria. Fecham o grupo, Andrew Bailey na guitarra e Devin Perez no baixo.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Doused”, “How Long Have You Known”, “Past Lives”, “Follow”.
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29. O Terno – 66
Forte influência do rock clássico dos anos sessenta, com uma boa pitada de brasilidades e letras irônicas, incluindo a mais genial do ano, sacadas inventivas no som.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “66”, “Eu não preciso de ninguém”, “Zé, Assassino Compulsivo”.
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30. Spiritualized – Sweet Heart Sweet Light
Impressão de grandiosidade e esmero com as composições, em todas as composições, não existe furo. Um álbum que te entrega um novo fragmento a cada nova audição. Spiritualized na melhor forma. Jason Pierce não entregou um álbum em abril deste ano, entregou uma obra de arte do rock.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Hey Jane”, “Little Girl”, “So Long You Pretty Thing”.
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31. Alabama Shakes – Boys and Girls
Uma frontwoman com uma voz sensacional e o resgate ao rock e blues de raiz do sul dos EUA. Soa melhor ao vivo, exatamente como deve ser.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Hold On”, “Boys and Girls”, “I Found You”.
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32. Metz – Metz
PORRADA! PORRADA! PORRADA!
Músicas que fizeram o disco chegar lá: TODAS! TODAS! TODAS! COMEÇANDO POR “WASTED”.
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33. Death Grips – The Money Store
O Death Grips é um trio californiano de Sacramento formado por Zach Hill (baterista da banda Hella), MC Ride nos vocais e Flatlander, eles são responsáveis por um hip hop puxado no dubstep meio punk cravado de sintetizadores, resultando em faixas agressivas, selvagens e sombrias, com vocais ríspidos, métrica irregular e gravação frequentemente saturada. Entretanto, todos esses rótulos são inúteis, é inviável descrever o som dos caras.
O álbum apresenta um som caótico, apocalíptico com faixas cruas cheias de graves pulsantes e sintetizadores afiados. Violência é a ideia mais evocada pelo álbum, imagens explosivas, batidas de carro e confronto são imagens que surgem na mente quando a cacofonia corrosiva e fragmentada se desenrola.
O Death Grips vai muito além de seus contemporâneos Odd Future, A$AP Rocky, Azealia Banks, Kendrick Lamar e etc, tocando um rap hiper realista que se posiciona contra a sociedade de consumo e o sistema estabelecido de forma enérgica e abrasiva. Dois álbuns lançados no ano, o último vazado sem o consentimento da gravadora, o que culminou no rompimento de contrato.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “The Fever (Aye Aye)”, “Hacker”, “I’ve Seen Footage”.
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34. Ty Segall – Twins
Três álbuns lançados neste ano, um dos músicos mais talentosas e prolíficos da nova geração do rock alternativo norte-americano. O álbum Slaughterhouse com com a Ty Segall Band é digno de figurar nesta lista também. O outro é Hair com o White Fence. Sonzeira lo-fi apoiado nas dissonâncias, no peso dos instrumentos e no revivalismo do rock alternativo americano, fazendo um passeio temporal que vai de The Stooges até White Stripes.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Thank God For Sinners”, “Handglams”, “The Hill”.
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35. Spector – Enjoy It While It Lasts
A grata surpresa do indie rock britânico deste ano, junto com Tribes que por pouco ficou de fora desta lista.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Chevy Thunder”, “Friday Night, Don’t Ever let it End”, “Celestine”, “Never Fade Away”.
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36. Titus Andronicus – Local Business
Divertido e ligeiro. Entre colocar um álbum novo do Green Day ou do Titus Andronicus, vá de Andronicus.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Ecce Homo”, “Still Life With Hot Deuce On Silver Platter”, “In A Big City”.
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37. Howler – America Give Up
Review aqui. Com o adendo que a minha percepção sobre o disco melhorou com o passar do tempo.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Back of Your Neck”, “Beach Sluts”, “Told You Once”.
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38. Silva – Claridão
Uma nova e elegante forma de fazer música brasileira.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “2012”, “Falando Sério”, “Claridão”.
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39. Grizzly Bear – Shields
Mais um acerto do Grizzly Bear, com destaque para “Sleeping Ute” e “Yet Again”, mas encontramos força em praticamente o LP inteiro, principalmente em: ”A Simple Answer”, “Speaking Rounds” e “Gun-Shy”.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Sleeping Ute”, “Yet Again”, “Gun-shy”.
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40. The Shins – Port of Morrow
Melhor ir direto para a review também, muitas palavras devem ser ditas, no entanto a posição alcançada não permite.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Bait and Switch”, “Simple Song”.
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41. Grimes – Visions
O álbum passa longe de ser brilhante, tem 2 grandes composições, aparado pelo fato de em nenhum momento o álbum chegar a ser ruim ou ter algum grande deslize, tem bom nível o tempo inteiro, mas o grande trunfo, o charme especial que traz este disco até aqui, acontece pela inventividade dos sons.
Pode chamar de birra, talvez seja. Mas algo me diz que a Grimes só vai fazer merda daqui pra frente.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Genesis”, “Oblivion”.
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42. DZ Deathrays – Bloodstreams
Porrada. Australiana. Duo. Rock. Fino. Nem tão perto de Black Keys e nem tão longe de Death From Above 1979, tem o espacinho só deles ali na prateleira das “sonzeiras”.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Dollar Chills”, “Teenage Kickstarsts”, “LA Lighthing”
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43. Single Parents – Unrest
Banda paulistana de um som revivalista incrível que remete ao rock alternativo dos anos 90. Do grunge norte-americano até a shoegaze britânica as influências são latentes, apesar de ser um som característico de uma época específica no tempo, talvez por trabalhar diversas influências o álbum apresenta um séquito surpreendente de variações entre as faixas. O resultado não agrada apenas fãs do gênero. A Select em 1993 estampou na capa “Yanks Go Home”, proclamando o surgimento do britpop e a richinha com o grunge. Em 2012 o Single Parents mistura tudo isso aí e devolve hipoteticamente para a defunta Select com os dizeres: “We are Home”.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Unrest”, “Ecstatic Pleasure”, “Last Conversation”, “Beginning of Your Rage”.
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44. Hospitality – Hospitality
Lindeza de disco. Pop suave e agridoce com belas harmonias. Mais um para a turma dos belos debuts.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Friends of Friends”, “Eight Avenue”.
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45. Nada Surf – The Stars Are Indifferent to Astronomy
O Nada Surf envelheceu mas continua com o som adolescente dos anos 90. E eu não vejo problema nenhum isso.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Clear Eye Clouded Mind”, “When I Was Young”, “Teenage Dreams”.
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46. Macklemore & Ryan Lewis – The Heist
Rap lá da terra do camarada Hermann, Seattle, que inclusive me apresentou o som. Rap em Seattle? Pois é, fino! Não tirei “Thrift Shop” da minha cabeça por uns três dias quando ouvi pela primeira vez.
Músicas que fizeram o disco chegar lá:“Thrift Shop”, “Cant Hold Us”.
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47. João e Os Poetas de Cabelo Solto – João e Os Poetas de Cabelo Solto
Outro texto que irá ficar gigantesco. Por que? Aqui você vai entender.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Ah Menino”, “Lugar Comum”, “A Sangrar”.
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48. Electric Guest – Mondo
Dançante, pra cima, sexy e bem executado. Celebra como poucos em 2012, os grandes momentos da vida.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “This Head I Hold”, “Under the Gun”, “Awake”.
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49. First Aid Kit – The Lion’s Roar
Folk delicioso desse duo sueco de garotas. Remete a sensação de fim de tarde, brisa no rosto e saudade muita saudade.
Músicas que fizeram o disco chegar lá: “Emmylou”, “The Lion’s Roar”.
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50. Liars – WIXIW
O contraponto ao Electric Guest nesta lista, denso, sombrio, instigante. Também dançante, mas aqui se dança na penúmbra.
Músicas que fizeram o disco chegar lá:“Brats”, “The Exact Color of Doubt”, “A River on Every Finger”, “No.1 Against the Rush”.
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