por Flavio Testa com a colaboração de Amanda Marques e Andrey Soares
Chegamos na metade do ano e alguns discos sensacionais já foram lançados, eu citaria nesta categoria, dois especificamente: Carrie & Lowell do Sufjan Stevens e To Pimp A Butterfly do Kendrick Lamar. In Colour do Jamie xx e I Love You, Honeybear do Father John Misty não ficam muito atrás. Courtney Barnett, Colleen Green, Girlpool, Speedy Ortiz, Sleater-Kinney e Torres formam um time de belos discos de rock liderados por mulheres, misturando experiência e juventude, mas todas parecem partilhar dos mesmos ideais de boas melodias, riffs excitantes, despretensão nos arranjos. Nos faz lembrar do que o rock é feito, de juventude e sentimentos primais. Sem esquecer da fila neo-neo-neo-psicodélica que o Unknown Mortal Orchestra puxa ao lado de nomes novos, como Gengahr e que até o fim do ano certamente será engrossado com o Tame Impala. Sem mais. Vamos aos 30 discos do ano, até o momento. Como estamos tratando aqui de uma lista parcial (e não fechada de 2015), os discos não serão ranqueados e sim apresentados por ordem alfabética.
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Algiers – Algiers
O disco de estreia do Algiers pode ser uma das coisas mais bacanas que você irá escutar este ano se tiver disposição para novidades sonoras que experimentam. Em um saladão de gêneros, onde se destaca a mistura entre gospel e no wave, com letras politizadas, uma energia obscura que vem do post-punk, tom provocador e beats de máquina. O trio é natural de Atlanta, berço de boa parte da música negra americana, e que possui uma cena de rap inigualável, de onde surge alguma referência cultural para a banda, principalmente no tom de protesto.
Com um conjunto bem único, o Algiers se une em estilo e sonoramente, com novas bandas como Viet Cong, Metz e até mesmo o Death Grips. Grupos, onde os seus membros foram pra faculdade e a música surge como uma forma de expressão melhor planejada. A pergunta pela autenticidade da rebeldia é algo que não é descabido de no mínimo questionar, me parece mais como a linguagem de estilo, propositalmente escolhida para representar a arte (e aferir autenticidade), do que de fato a necessidade de ser ouvido e protestar.
Ainda continua sendo um super coringa no mundo da música misturar influências trazidas da música africana, com gêneros mais próximos do anglo-saxão. Muita gente afirma que o rock veio da música negra, o que está absolutamente correto. Mas foram tantos anos de embranquecimento do rock na maior parte de suas vertentes, que os traços negros ficaram praticamente para trás, principalmente porque uma banda evolui da outra e não da essência. Como diz um amigo meu, tem muita banda por aí que gosta de falar que tem influência de Cartola e Clube da Esquina, quando na verdade é mais um escarro de Los Hermanos. De fato é por aí. E no disco de estreia do Algiers, que saiu dia 2 de junho pela Matador Records, eles foram beber na nascente de gêneros que já estavam em desuso, de tal forma que esses elementos, essa diferenciação cultural, ressurgem bem vivos, vibrantes e menos pasteurizados.
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Alabama Shakes – Sound & Color
Em seu segundo registro de estúdio, Alabama Shakes entrega um disco que continua o legado de banda que atualizou o som southern dos EUA para os novos tempos, se apegando em música pop, e principalmente no talento da vocalista Brittany Howard. O novo álbum chega a ser uma gema como foi Boys & Girls em 2012, no sentido de fazer infusão de sonoridades roots com pop, as canções tinham espaço e tinham alma, de forma imediata, um álbum que funcionava bem do começo ao fim. No entanto, em Sound & Color, as músicas ficaram mais esquisitas, os espaços e a preocupação em conquistar de cara foram deixadas de lado. Apenas em “Don’t Wanna Fight” e “Gimme All Your Love”, a tônica passada se mantém. Mas é um disco muito bom também e mostra uma banda em franca expansão de seus tão característicos horizontes.
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Björk – Vulnicura
Desde o The Sugarcubes e os discos solos a partir de Debut, eu nunca ouvi um disco ruim da Bjork, em todas as fases e estilos, a islandesa sempre prezou pela beleza, produção e singularidade de sua poesia musical. Posto isto, é preciso dizer que Vulnicura se encontra como um dos melhores trabalhos na brilhante discografia da islandesa. Com a produção de dois nomes da música eletrônica inteligente e moderna, Haxan Cloak e Arca, Bjork reforça a sua natureza dentro do universo musical que sempre lhe intrigou com maior força e que nos deu grandes discos nos anos 90, principalmente Post e Homogenic. A voz da artista soa poderosa e triunfante, em arranjos orquestrados de sublimação através da música.
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Ceremony – The L-Shaped Man
Com alguns discos lançados e o pézinho no hardcore, o grupo resolveu se reinventar e estreou na Matador Records em 2012, onde lançou o ótimo Zoo, disco mais próximo do punk e dos indies antigos, melodiosos. E agora, retorna com o The L-Shaped Man, álbum que é uma terceira empreitada sonora, mais obscura e post-punk, o trabalho retumba em emoções mais lamuriosas de um Birthday Party (antiga banda de Nick Cave e Mick Harvey).
“Muitas das emoções tem a ver com perda, e especificamente a perda de alguém que você se importa muito”, diz Farrar, o líder da banda, em press release. “Não existe uma forma de você passar por algo assim artisticamente e não ter sofrido realmente emoções muito forte de perda e dor. Não existe como esconder isto.”
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Colleen Green – I Want To Grow Up
2015 ou 1995? O ano que marca o retorno das Sleater-Kinney, é também o ano de grandes discos de rock protagonizado por mulheres. Com letras honestas, simples e cotidianas, todos estes álbuns parecem colar em uma cena em comum. Melodias boas, músicas simples que narram a dificuldade em ser jovem. Ninguém devia perder a oportunidade de fazer um disco assim, quando de fato se é um. Assim fez Colleen Green que já nem é tão jovem assim, com 30 anos e no seu terceiro registro de carreira. A maturidade lhe fez bem para fazer um disco adolescente, mas de maneira ordenada, estruturada. É preciso saber como colocar as ideias no papel, e não apenas urgir em sentimentos.
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Courtney Barnett – Sometimes I Sit And Think, And Sometimes I Just Sit
Dona da música do ano até o momento, “Pedestrian at Best”, é até difícil contemporizar a fórmula para o sucesso de Courtney Barnett. Emprestando de referências noventistas que tornaram toda a sujeira do grunge, como o maior expoente daquele tempo, ou em “Small Poppies”, que as guitarras quase surfam, transbordam o sol californiano e a psicodelia da viagem do ácido nos anos 60. Courtney não canta, ela narra suas canções de temas triviais. Ela não quer te ensinar nada, nunca teve esta pretensão, a alma “tanto faz” transborda cheia de significado, e não como costuma significar, como autorretrato de uma geração vazia. “Eu consigo ver Jesus, e ELA* está sorrindo pra mim”, ela diz em um trecho final de “Kim’s Caravan”. Courtney é a antítese de um Mark Kozelek. A mensagem está ali. Ela só não faz questão de esfregar na sua cara.
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