por Flavio Testa, Amanda Marques, Carol Munhoz, Andrey Soares e Raphael Pousa
Mais uma jornada musical se encerra. Solenemente a lista de álbuns é aquele exato momento de fechar o ciclo. Fora da música não foi um ano fácil para o Brasil e para o mundo. Vivemos um ano de sombra do obscurantismo, com opressão por parte das autoridades, descaso, decisões unilaterais, fanatismo religioso, terrorismo e guerra.
Foi um ano de percebermos que, não só em outro país em uma causa distante e não só no governo, mas muito perto da gente encontramos uma quantidade significativa de intolerância, ignorância e falta de respeito por fundamentos democráticos e de liberdade.
Musicalmente, a sensação sobre 2015 é que foi morno, se comparado aos últimos 5 anos que fechamos lista de melhores álbuns neste site. Não foi exatamente difícil compilar cinquenta nomes, com uma empolgação maior pelos 35 primeiros.
A maior novidade da lista é que abrimos exceção para homenagear Elza Soares que, aos 85 anos, entregou um dos discos mais urgentes de um ano onde o conservadorismo palpitou em nossas vidas. Sonoramente também é transgressor, cheio de sinceridade e alternativas, assim como deve ser a voz da resistência ao preconceito. A posição dela nesta lista é a mais justa possível, tanto de música quanto de contexto e mensagem.
Aqui cabe reforço na explicação, para que outros artistas brasileiros não pensem que seus discos só se encaixariam da quinquagésima-primeira posição pra cima. A inclusão apenas de Elza Soares não significa que outros títulos nacionais não poderiam entrar entre os 50 melhores. Poderiam. No morno 2015, mais do que nunca. Mas resolvemos manter os demais separados, na lista de álbuns nacionais, como costumamos fazer. A inclusão de Elza Soares deve ser encarada como homenagem, e como forma de evidenciar o merecimento. O disco é tão grande quanto o lugar que alcançou nesta lista internacional.
Apesar de ter sido um ano fraco no coeficiente geral, a lista dos 50 ainda mantém a sua tônica positiva. Então vale a audição cuidadosa de cada um deles. Até 2016.
50. Wavves – V
Natham Williams fez o seu álbum mais acessível até o momento. O que antes se apresentava dentro de uma temática chapada, barulhenta e subversiva, agora se apresenta como algo que tentou conciliar as características sonoras natas, com aquelas que agradaria uma audiência maior e, por consequência, a gravadora. É pop punk em sua essência. Onde antes era apenas uma referência, agora tornou-se o todo. Por isso, comparado com o resto da discografia do Wavves, podemos dizer que é um álbum fraco, quase bunda-mole. Ainda assim, divertido e de rápido consumo, como Skol Ultra, com 4,2% de álcool. Note que um disco fraco do Wavves ainda faz a lista de melhores do ano.
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49. Colleen Green – I Want To Grow Up
2015 ou 1995? O ano que marca o retorno das Sleater-Kinney é também o ano de grandes discos de rock protagonizado por mulheres. Com letras honestas, simples e cotidianas, todos estes álbuns parecem colar em uma cena em comum. Melodias boas, músicas simples que narram a dificuldade em ser jovem. Ninguém devia perder a oportunidade de fazer um disco assim, quando de fato se é um. Assim fez Colleen Green que já nem é tão jovem assim, com 30 anos e no seu terceiro registro de carreira. A maturidade lhe fez bem para fazer um disco adolescente, mas de maneira ordenada, estruturada. É preciso saber como colocar as ideias no papel, e não apenas urgir em sentimentos. O álbum ainda contou com a colaboração de membros do Jeff the Brotherhood e Diarrhea Planet, fazendo-nos vislumbrar do grande potencial que existe se os três projetos formassem uma banda.
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48. Titus Andronicus – The Most Lamentable Tragedy
The Most Lamentable Tragedy é uma rock opera de 5 atos, 28 músicas, 93 minutos de duração e 73 segundos de intermissão (intervalos), incluindo covers de “A Pair Of Brown Eyes” do the Pogues, “I Had Lost My Mind” e “Auld Lang Syne” do Daniel Johnston.
Não é nem preciso dizer que é o álbum mais ambicioso da banda de Patrick Stickles até a data, a história que o frontman coloca como “ficção”, focará na jornada do protagonista que ao encontrar o seu doppelgänger (um clone perfeito dele mesmo) segredos são revelados, enviando o personagem em uma odisséia através de vidas passadas e novos amores, até a revelação sobre tudo que o sustenta é exatamente tudo que pode destruí-lo. Ou seja, praticamente a mesma coisa de sempre em rock operas.
Mas não tome tanto o álbum por este lado, a história pode até ser um plus no final, o destaque do Titus Andronicus são as músicas excitantes, fáceis e cheias de energia, que dá uma animada no dia de qualquer um, escolinha do professor Ramones.
O grande problema do álbum, e isso é recorrente na discografia do Titus Andronicus, agora ficou mais evidente, são os excessos. Acerta muito alto e erra muito alto também. “Dimed Out” é uma das canções do ano, mas o disco cansa em certos momentos. Por isso deixou de conquistar posição mais nobre. De qualquer modo, ser relacionado entre os 50 melhores discos do ano, é ser nobre. Com o corte certo poderia ter ido além, apenas isso.
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47. The Maccabees – Marks To Prove It
O Maccabees começou seus zunidos em 2008 com seu debut Colour It In recebendo grandes aprovações com uma escola indie old school que é boa, porém meio banal e comum demais. A segunda colmeia de sons foi em 2009, com Wall of Arms, repetindo o mesmo mel, só que dessa vez um melado um pouco mais maturado. O primeiro ferrão de verdade, que preencheu toda a corrente sanguínea com cada acorde, veio no terceiro disco, Given to the Wild de 2012, trazendo uma construção sonora maior: com ups e downs, além de walls of sound que fazem derrubar qualquer parede e com uma introspecção criativa que fazem as letras e notas soarem mais profundas que nunca.
Marks To Prove It é o quarto disco de carreira do grupo. Aqui, a introspecção, a complexa simplicidade e a crueza sentimental alcança seu limite até o presente momento. Tirando a faixa-título de abertura, que é um rasgado upbeat, que muda seu ritmo e traz o momento mais rock ‘n’ roll de raiz da banda, o álbum todo é baseado nas tardes frias e solitárias do sul de Londres. Em músicas como Ribbon Road, Silence e Pioneering Systemstemos calma e nenhuma pressa para deixar a canção seguir até a dor acabar na profundidade de cada acorde de piano e na voz sofrida de Orlando Weeks. Já em Spit it Out, Something Like Happiness e WW1 Portaits, parece que o sentimento foi suprido pelo agudo das guitarras e o dedilhado do baixo, que ficam permeando as canções como amarguras que tentamos nos livrar, mas acabam nos vencendo e nos envolvendo ainda mais, tomando conta de todo o ar que respiramos.
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46. Wand – Golem
Em seu segundo álbum de estúdio, a banda que tem Ty Segall de padrinho, larga o seu viés de referências retrô – parou de soar como um pastiche de garage rock 60’s – e aposta em mais barulho, e mais exploração de sons espaciais e experiências sensoriais, provendo um registro carregado de energia e sublimação, em alguns momentos a talagada é do metal, em outros se passa por devaneios psicodélicos e experimentalismo.
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45. Major Lazer – Peace Is The Mission
O novo disco do Major Lazer veio salvar o EDM da mesmice. Peace Is The Mission, apesar de compacto (o álbum contém apenas nove faixas), possui qualidades que há muito não se via no gênero. A miscelânea do hip hop, moombahton, house music e música latina torna o álbum culturalmente rico, além de dançante. Unindo os nomes mais diversificados, o Major Lazer criou uma sonoridade única, distanciando-se do ritmo do EDM ao qual já estamos acostumados (e de certa forma, fartos). Peace Is The Mission apresenta um hit atrás do outro, que irão ecoar por casas noturnas de todo mundo por um longo tempo – muito além de “Lean On”, o carro chefe do disco, que conta com a participação de MØ e DJ Snake – “Too Original” e “Roll The Bass” elevam os ânimos de qualquer um com suas batidas ousadas e irresistíveis. Diplo acerta em cheio mais uma vez com uma obra enxuta, diversificada e divertidíssima.
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44. HEALTH – Death Magic
O submundo continua vivo nas baterias insanas e peso incrustado nos synths enoise rock dos orfãos de Trent Reznor. NIN é influência que cada vez mais se aproxima do HEALTH, e em Death Magic isso se eleva num patamar que chegar a ser mais pop, mas mantém a áurea negra que é marca da besta registrada na banda.
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43. Ceremony – The L-Shaped Man
Com alguns discos lançados e o pézinho no hardcore, o grupo resolveu se reinventar e estreou na Matador Records em 2012, onde lançou o ótimo Zoo, disco mais próximo do punk e dos indies antigos, melodiosos. E agora, retorna com o The L-Shaped Man, álbum que é uma terceira empreitada sonora, mais obscura e post-punk, o trabalho retumba em emoções mais lamuriosas de um Birthday Party (antiga banda de Nick Cave e Mick Harvey).
“Muitas das emoções tem a ver com perda, e especificamente a perda de alguém que você se importa muito”, diz Farrar, o líder da banda, em press release. “Não existe uma forma de você passar por algo assim artisticamente e não ter sofrido realmente emoções muito forte de perda e dor. Não existe como esconder isto.”
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42. Blur – The Magic Whip
É difícil acreditar que o Blur conseguiria juntar os egos e fazer algo coeso para todos os membros da banda. E foi isso que aconteceu em Hong Kong, que teve influência mor no conceito do disco. A genialidade não é exacerbada, como foi quando a banda era mais jovial, mas cada um tem seu espaço e soa novo, até mesmo para o Blur.
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41. Alex G – Beach Music
Uma das grandes revelações do ano, Alex G, se encontra no cruzamento entre a Rua Death Cab for Cutie com a Avenida Ellioth Smith.
Beach Music foi escrito e gravado no apartamento de G, entre a primavera de 2014 e outono de 2015, durante os intervalos da turnê com bandas como Speedy Ortiz, Cymbals Eat Guitars e Elvis Depressedly. Assim como seus discos antecessores, as novas composições refletem uma adaptação à vida como músico em turnê. Canções foram escritas com diferença de meses uma da outra, em vez de tudo de uma vez, com influências que vão desde o noise passando por baladas de lamentação ao piano e até southern rock ou techno, qualquer coisa que o músico estiver musicalmente interessado no momento. “Cada canção está vindo de um lugar diferente”, disse Alex em comunicado de imprensa. “Ele [o disco] se ramifica em todas essas direções, mas ela tem seu próprio som. Não é algo que eu faço intencionalmente, mas eu sou o elo comum. ”
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1 Comment
No acredito que no vi o dead petz da miley nesse top 50! Quando comecei o top 9 esperava que fosse v-lo junto do currents, in colour, art angels, vunilcura e to pimp a butterfly… o dead petz esteve ao lado destes em outros top lbums que vi . Flvio, se ainda no o ouviu, d uma checada!