Nacional
Minas – Milton nascimento
É impossível não chorar ao escutar este disco. Minas é a combinação de MIlton NAScimento. Produzido pelo amigo e grande Ronaldo Bastos, Minas é dos discos mais emblemáticos de Milton. O disco abre com um vocal de garotada para Paula e Bebeto, que seria canção logo depois neste disco, e os vocalizes, sempre arrebatadores, de Milton. É incrível que naquela época artistas tinham a capacidade de fazer discos completos recheado de grandes obras. Fé cega, faca amolada; Paula e Bebeto; Leila; Ponta de Areia. Só estas 4 já dariam um disco fechado.
Em 2006 o disco foi relançado em CD depois de ser remasterizado digitalmente no Abbey Road studios, em Londres. A edição mais recente inclui ainda as faixas “Norwegian Wood (This Bird Has Flown)“, de Lennon/McCartney, e “Caso Você Queira Saber” de Beto Guedes.
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Tim Maia – Racional Vol 1
Esqueçam o Tim Maia pop de ‘Azul da cor do mar’, ‘Gostava tanto de você’, …, deixe essas para a Ivete Sangalo cantar. O verdadeiro Tim, mesmo, é este: Racional. Tim faz um disco inteiro pautado na evolução do universo e principalmente na evolução da humanidade. Todo baseado no livro Universo em desencanto, do carioca Manoel Jacintho Coelho. Um artista do tamanho de Tim não poderia passar por esta vida fazendo apenas canções de amor. Tim precisava de mais, precisava interpelar, precisava provocar, muito mais do que fazia. Precisava mexer com seus fãs, Tim Racional não é um disco fácil, não é um disco que irá tocar em novela das 8. Tim Racional é um disco fundamental na música brasileira. Um disco produzido em cima de uma arte, em cima de uma ideologia toda criada. Um disco para fazer uma geração a entender o sentido da vida. Longe da abissal auto-ajuda. Ouça e imunize-se.
Racional também foi o primeiro disco lançado de forma independente por Tim Maia, através de seu selo Seroma (que é uma sigla para Sebastião Rodrigues Maia, seu nome de batismo). Um fato curioso é que após a desilusão de Tim com a seita Racional, ele recolheu todas as cópias do disco que haviam disponíveis e tirou de circulação, o que tornou as cópias originais bem raras de serem encontradas, e colaborou para a fama cult do álbum.
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Refazenda – Gilberto Gil
O Gil de 2015 já não tem mais o agudo e afinação do Gil de 1975. Mas isso não diminui em nada a genialidade deste baiano. Refazenda faz Gil entrar nos sertões do nordeste. Neste disco Gil convive com o interior, com a natureza, a sua lá no fundo, talvez. A sua meditação e a ação de colocar palavras dispersas em versos. O disco abre com Ela, uma analogia à música como musa inspiradora para toda a sua navegação na própria música. A clássica Tenho sede, ligando sede na falta de amor e a sede na morte sertaneja. Quem nunca se perguntou o que seria Guariroba ao escutar Refazenda? Lamento sertanejo a obra-prima de Gil e Dominguinhos, de arrancar lágrimas a cada audição faz deste disco um dos melhores da MPB, e Gil mostrando suas vertentes musicais (ser é que fosse necessário) depois de um período mais rock dos discos anteriores e do exílio em Londres. Gil é um música fundamental para se entender a multipluralidade da música nacional.
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Revolver – Walter Franco
O segundo disco desse paulistano é marcante e revolucionário em diversos sentidos, rompendo com os limites estabelecidos pela Tropicália e seguindo uma linha mais transgressora. Os arranjos de rock presentes com guitarras distorcidas, gravação em diversas camadas esgotando as possibilidades do estúdio de 16 canais da época, pianos ora jazzistícos ora mais regionalistas, e uma bateria e percussão ricas e complexas. A poesia de Franco também evolui para uma linha mais concreta, abusando do jogo de palavras e silabas, como em “Mamãe D´Água” onde verso “Yara eu” vai sendo acrescido de palavras até formar “Yara eu te amo muito mas agora é tarde eu vou dormir” e no famoso haicai de “Eternamente” (“Eternamente/É ter na mente/Éter na mente/Eterna mente/Eternamente“). Chega a ser impossível separar letra da música, já que os arranjos são construídos para emoldurar a letra, numa bela pintura sonora. A faixa de abertura, “Feito Gente”, um rock atemporal e raivoso, é o maior sucesso do disco, sendo regravado por Caetano Veloso e Ira!, entre outros. O encerramento fica por conta de “Revolver” com seus versos hipnóticos e melodia perfeita “Lembrar de esquecer/Esquecer de lembrar/Cansar de dormir/Dormir, descansar”.
A capa com Walter Franco de terno branco na diagonal é uma homenagem a John Lennon, na capa de Abbey Road. Já o título deriva do verbo “revolver”, e não é uma referência ao álbum Revolver dos Beatles, de 1966. Nesse ano o disco ganhou uma nova edição em vinil pela PolySom, parte da série Clássicos em Vinil.
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Qualquer Coisa – Caetano Veloso
Qualquer coisa ainda tinha resquício do exílio de Caetano em Londres. A capa do disco faz uma homenagem ao Fab Four e a gravação, linda, de “For no one”, que é dos covers mais bonitos já feitos e “Eleanor Rigby“. Caetano achava Jorge Ben um dos caras mais geniais na época, e ainda é. Gravou a eterna Jorge de Capadócia, com vocais do Quarteto em Cy. Era um disco para ser duplo, junto com o Jóia, mas o extremo os separou. Qualquer coisa é um disco muito mais ousado e barulhento. A bela versão para Drume Negrita, feita para a afilhada Preta Gil. Depois de Gal e Bethânia gravarem, respectivamente, Da maior importância e A tua presença, Caetano coloca neste disco. Enfim, é um disco obra-prima dentre tantos de Caetano.
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Claridade – Clara Nunes
Considerada rainha do samba, com esse disco Clara Nunes foi a primeira mulher a atingir a marca de 100 mil cópias vendidas, sendo o seu maior sucesso na carreira. O disco conta com grandes sucessos como “O Mar Serenou” (de Candeia) e “Juízo Final” (de autoria de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares), e alavancou o samba-enredo da Portela na avenida, “Macunaíma, Herói da Nossa Gente” (de autoria de Norival Reis e Davi Antônio Correia), com o qual a escola classificou-se em 5º lugar no Grupo 1.
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Solta O Pavão – Jorge Ben
Junto com seu antecessor “A Tábua de Esmeralda” (1974) esse disco foi o responsável por estabelecer o gênero samba-rock que conhecemos. Foi o primeiro álbum a contar com banda Admiral Jorge V e com Jorge tocando guitarra elétrica. Aqui temos Jorge Ben (Ainda sem o Jor) em seu estado natural. As letras falam de futebol, do Maracanã, dos malandros e das musas (quantas musas!), mas também de fé e religião. São letras que transformam fatos cotidianos em poesia, sendo impossível não se identificar e se admirar com a genialidade da linguagem de Jorge. Os arranjos são belos; guiados pelo violão a percussão, bateria, piano e baixo se misturaram em batidas e suingue irresistíveis. O disco abre com uma ode ao “Zagueiro”, homenagem mais que justa a essa posição sofrida (Só perde pro Goleiro), e “Cuidado com o Bulldog” também faz sua homenagem a mítica geral do Maracanã. A religião e fé estão presente em “Jorge da Capadócia“, um clássico, e “Assim Falou São Tomaz de Aquino“. “Se segura malandro“, “Para ouvir no Rádio“, “Dorothy” e “Jesualda” abordam o universo dos malandros, musas e morros. Deu para perceber que quase todas as 12 faixas são destaques né? Um disco obrigatório! Salve Jorge!
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Fruto Proibido – Rita Lee & Tutti Frutti
Um clássico do rock brazuca e obra prima da Rita Lee. Acompanhada de Luis Sérgio Carlini (guitarra), Lee Marcucci (baixo), e Franklin Paolillo (bateria) ela criou um disco que dialoga com o conturbado cenário cultural e político brasileiro dos anos 70. Com sonoridade blues rock, já foi chamado de “uma aula sobre como compor hard rock em português”. Os arranjos ficaram por conta de Carlini e Rita Lee e a produção é de Andy Mills, que trabalhava com Iggy Pop. O álbum conta com os sucessos “Agora só falta você“, “Esse tal de roque enrow” – parceria com Paulo Coelho, e o hino “Ovelha Negra” que fecha o disco com o solo magistral de Carlini, que transformou ele em um dos primeiros Guitar Heroes Brasileiros. Diz a lenda que Carlini sonhou com o solo e acordou assobiando ele, depois teve que insistir muito com Andy Mills para inclui-lo no final da música.
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Raul Seixas – Novo Aeon
O quarto álbum do Raulzito não chegou nem perto do sucesso de seu antecessor Gita, sendo considerado um fracasso comercial na época. Apesar disso, é um álbum muito querido pelos fãs já que contém ao longo dos seus 33 minutos pérolas como “Tu és o MDC da Minha Vida“, “Rock do Diabo“, “A Maçã” e o clássico “Tente Outra Vez“. O disco também marca novas parcerias musicais do maluco beleza, que além do já tradicional Paulo Coelho conta agora com a ajuda de sua segunda esposa Glória Vaquer, que sob o pseudônimo de Spacey Glow assina a faixa “Sunseed”, e de nomes como Marcelo Motta e Cláudio Roberto.
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Criaturas da Noite – O Terço
Sim, nós tínhamos rock progressivo! O terceiro disco do grupo O Terço foi o ponto alto na carreira do então quarteto, que na época contava com Sergio Hinds (guitarra e único integrante a fazer parte de todas as formações da banda), Flávio Venturini (Teclados e Viola, que mais tarde sairia para fundar o 14 Bis e seguir carreira solo de sucesso nos anos 80), Luiz Moreno (Bateria e Percussão) e Sergio Magrão (Baixo). Apesar do estilo rock progressivo predominar, há também muita influência de Rock Rural, vindos dos sons de Sá & Guarabira e do Clube da Esquina, principalmente pela entrada do Mineiro Flávio Venturini. O álbum abre com o maior sucesso de grupo “Hey, Amigo” (Composição do ex-baixista da banda César das Mercês) , de letra fácil e com riffs marcantes de guitarra e baixo, acompanhados por um teclado “À la Deep Purple” de Venturini. Na sequência a influência rural fica clara na faixa “Queimada” com sua viola e violões, canção que mais tarde seria regravada por Zizi Possi. Virando para o lado B do LP, a bela e inspiradíssima faixa-título “Criaturas da Noite” abre com o piano e o vocal de Venturini, acompanhado por um belo arranjo de violinos orquestrado por Rogério Duprat e no final um solo de guitarra magistral de Hinds. “Jogo das Pedras” também reforça a influência do rock rural e permite que a banda explore novas sonoridades e caminhos. Para fechar vem a grande (literalmente, com seus mais de 12 minutos), faixa instrumental composta por Venturini “1974“, outro grande clássico da banda. Enquanto o teclado invoca um clima de suave, o baixo, guitarra e bateria, fazem o contraponto lançando a música numa atmosfera frenética, com diversas variações e vocalizações, numa das melhores composições que o nosso rock nacional progressivo já gravou.
Um ano depois a banda lançou uma versão em americana do disco, com as letras todas traduzidas em inglês.
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Em julho falaremos de 30 discos que completam 30 anos em 2015. Até lá!
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